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sexta-feira, dezembro 22, 2023

(IM)PREVISIBILIDADE E COMUNICAÇÃO EFECTIVA

Um dos aspectos a ter em conta na Gestão Empresarial e a previsibilidade e catalogação de eventos sazonais.

Há três dias que me chegam pela RNA lamentos de candidatos a passageiros da ferroviária do centro, do Wambu ao Lwena e vice-versa.

Todo o evento (im)previsto que afecte a reputação da organização é CRISE e demanda COMUNICAÇÃO DE CRISE, coordenada, sólida, dinâmica e assertiva, bem como a mitigação do evento negativo.

Até agora, tudo o que ouvi são "ameaças" de um integrante da ferroviária em "impor multa a quem seja encontrado no comboio sem o bilhete de passagem pago e encaminhamento à polícia".

Sobre as noites não dormida nas ruas fustigadas pela chuva abundante, as filas feitas de pedras, a incapacidade de atendimento da demanda e sobre as reclamações, NADA. Nada ainda se disse!

Tenho pena dos outros e de mim mesmo!

domingo, dezembro 10, 2023

O PAPEL DO CUNHADO NA COMUNIDADE BANTU TRADICIONALISTA

                                                               (constructo)

Na tradição da maioria dos bantu que vive(ra)m em Angola, os genros "são contratados para a procriação", sendo os filhos herança dos tios. Entenda-se por tio o irmão da mãe e não o irmão do pai que deve ser tratado como pai (pequeno ou grande). 

Tal como o criador de gado se gaba de quantas cabeças tem, é comum ver/ouvir as idosas gabarem-se de quantos netos possuem, olhando em primeira instância para os "netos verdadeiros", aqueles gerados pelas filhas, e depois aos "possíveis netos", aqueles gerados pelos filhos.

Assim, quando o indivíduo contrai matrimónio, o foco deve ser a (re)produção de novos membros (progénie) que vão engrossar as fileiras dos seus "donos" (tios), restando ao proletário a esperança de que os seus cunhados façam o mesmo para ele. 

Fruto deste pensamento e acção orientados ao matrilinearismo, os filhos deixam de ser herdeiros do pai, papel confiado aos sobrinhos, porém, força de trabalho, enquanto infantes. 

Tal, nas comunidades ágrafas, se estende à educação, embora não atinja ao suprimento alimentar e de saúde. É (ainda) comum ouvir-se a expressão "chame o tio dele para o educar/aconselhar", sendo também este o confidente imediato. 

Quanto às meninas, de quem se espera que o candidato a esposo ofereça dotes, estes vão para as tias (irmãs do pai) e nunca às irmãs da mãe que deve ser tratada igualmente como mãe (grande ou pequena). As tias são, de igual sorte, as "educadoras" e confidentes principais das sobrinhas.


Em algumas famílias bantu, a primeira refeição a um bebé é dada pela tia ou avó paterna. Porquê?
Acredita-se que, se for "produto de uma lavoura em lavra alheia", a criança venha a sentir-se mal depois da refeição. Por outro lado, a crença em forças supra-humanas e místicas criam na mãe uma pressão psicológica que pode levá-la a confessar eventuais "cultivos extra-lar", sob pena de ver o(a) filho(a) sucumbir no pós-cerimónia de primeira alimentação.

quinta-feira, novembro 02, 2023

FORA, MAS DENTRO DA RÁDIO

Há 17 anos que não "faço rádio", mas, sempre que oiço um noticiário, vem-me à mente a adrenalina de redigir a passos largos e permanente escassez de tempo o noticiário. Ingressei na LAC numa altura em que ainda se fazia jornalismo, tendo sido meus primeiros editores o Pedro Correia, a Sara Fialho e a Carla Castelo Branco. No meio de "gurús" e com uma concorrência interna (entre nós estagiários e juniores) e externa, sobretudo a da RNA, aprendi com os mestres e os concorrentes e construí o meu estilo híbrido (que combina as técnicas de retenção usadas na realização de programas e a técnica incisiva usada na redacção de notícias).

O José Rodrigues, na altura Editor-Chefe, tinha muita experiência de realização. Durante os seus noticiários, recordava sempre os ouvintes dos títulos por desenvolver. Era cativante e fazia esperar pela última. Roubei-lhe a chamada de atenção para o que ainda havia.
Com Ismael Mateus e a Paula Simons, quando regressaram à LAC (após formação em Portugal), prendi/aprofundei a hierarquização e a ter em atenção o tempo do registo sonoro. "Não mais de 30 segundo, o resto é excepção".
Ao meu "concorrente" Pedro Manuel "Pema", com quem nunca trabalhei, roubei os títulos curtos e incisivos, algo que aperfeiçoei com o Prof. Adérito Kizunda, no ISPRA.
Também tive como Editor o Paulo Araújo e dele aprendi o espírito de comando, determinação e dureza.
Do Pedro Correia, embora tenhamos trabalhado pouco tempo, aprendi que o Editor, enquanto líder, está para a equipa, caminhando com ela e defendendo-a quando necessário.

Sempre que oiço noticiários radiofónicos vêem-me à memória todas as lições directas e indirectas dos meus mestres e o repúdio aos títulos quilométricos que dispensam o lead. (In)felizmente o meu ouvido está talhado para a Rádio!

segunda-feira, outubro 09, 2023

QUE LÍNGUA NATIVA FALAM OS POVOS DO LUBOLU?

A 9 de Junho de 2012, o militar e político Serafim Maria do Prado, nas vestes de governador do Kwanza-Sul, escreveu à então Ministra da Comunicação social, Carolina Cerqueira, hoje titular da Cultura, solicitando intercedência desta junto da RNA para que fosse revista a designação errônea atribuída à variante Kimbundu falada no Kwanza-Sul, nas rádios provincial e Ngola YETU. O assunto não teve o provimento esperado, pois ao que se sabe, ou o Ministério que tutela a rádio não orientou ou essa não acatou. Estávamos em vésperas das terceiras eleições gerais, depois das realizadas em 1992, 2008. 

Serafim do Prado, na sua missiva, sugeria que os aludidos programas tivessem a designação "Kimbundu Kyetu" (nosso Kimbundu) ou "Kimbundu do Kwanza-Sul", indo de encontro àquilo que a população autóctone de maior idade responde (ainda) quando perguntada "eye dizwi dyãe wzwela?" (Que língua fala?). A esse questionamento, a resposta é sempre: Kimbundu ngizwela/Kimbundu Kyetu... (falo Kimbundu/o nosso Kimbundu). 

 

Esse contributo (CANHANGA: 2016) recolhido da oralidade no Lubolu e nos municípios do centro do Kwanza-Sul deve ser valorizado e adicionado ao que escreveram Heli Chatelain, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, nas circunstâncias de Angola em que não abundam os trabalhos escritos, toda a ciência que envolva a etnografia, antropologia e história deve sempre ter o terreno e a oralidade como ponto de partida (laboratório) e o gabinete como fábrica (para multiplicação e difusão do conhecimento experimentado). 

 

 

Evidências 

A primeira rádio a emitir um programa com nome ngoya foi a VORGAN em finais dos anos 80 do século XX. 

Os autores do Programa em ngoya da Rádio Kwanza-Sul não realizaram, na altura do lançamento do programa, nenhum estudo científico (conhecido) que os levasse a concluir que a língua não era Kimbundu, mas sim ngoya. 

O Ministério que atendia pelas questões linguísticas não foi ouvido antes da criação/designação do aludido programa (1993). 

Não é a rádio quem determina a autonomização das línguas em Angola, nem é sua função classificar e dar nomes às línguas nativas. 

O Ex-Governador Serafim do Prado escreveu, a 9 de Junho de 2012, à então Ministra da Comunicação Social, pedindo a troca da designação do Programa, retirando a expressão ngoya, por considerara que ela não era aceite. 

A discussão sobre a designação da língua que se fala no Kwanza-Sul é matéria extensiva a todos. 

Há tendência de alguns procurarem "investigar" para justificar o nome (ngoya) quando a investigação devia ser prévia à criação do programa? 

  

Sem demérito àquilo que os signatários do “anguoia que significa vai por aqui” (?), publicaram no Jornal de Angola e retomado pelo Portal de Angola a 15/07/2011, uma melhor compreensão do assunto passaria por fazer um levantamento com metodologia aplicável à ciência social nos municípios do Lubolu e nos do centro do Kwanza-Sul, como o fizeram Héli Chatelain, Maia, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, toda a ciência que envolva a antropologia, história e etnografia deve sempre ter o campo como ponto de partida. 

  

O dinamismo das línguas pode levar algumas variantes à emancipação, aí onde as correntes forem mais heterodoxas do que ortodoxas. Porém, todo nome tem de ter um sentido etimológico e semântico, o que me parece não existir no caso dos proponentes do ngoya para a designação de uma suposta língua (que pretendem autónoma do Kimbundu) falada no Lubolu e nos municípios centrais do kwanza-sul. Há, por isso, que separara as águas e definir o que se pretende: autonomização ou redesignação? 

Como nota final, convido o (a) leitor (a) a colocar aos lubolenses maiores de quarenta anos as seguintes indagações: 

1- Ouve rádio com frequência? 

2- Ouve a rádio Kwanza-Sul e a rádio Ngola Yetu? 

3- Quando começou a ouvir o termo ngoya como língua que se fala no Kwanza-Sul? 

4- Antes disso que língua falava/que nome tinha a vossa língua? 

3- A língua nativa língua que se fala no Lubolu é Kimbundu ou Ngoya? 

  

Referências

CANHANGA, Soberano (2016) A língua dos Kibala Kimbundu ou Ngoya?, http://jornalcultura.sapo.ao/…/a-lingua-dos-kibala-kimbundu…https://www.portaldeangola.com/2011/07/morais-antonio-pesquisa-ngoya/ 

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Angola, 07.06.2028 

REDINHA, José (1984). Distribuição Étnica de Angola, 8.ª ed., Luanda, Centro de Informação e Turismo de Angola. 

Semanário Cruzeiro do Sul, ed. 3-10 Maio 2008. Língua dos Kibala: Kimbundu ou Ngoya? 


segunda-feira, julho 31, 2023

BILINGUISMO ENTRE OS AMBUNDU DO LUBOLU

Kalulu, 25 -28 de Julho de 2023.
Encontro Conjunto da 21ª Conferência da Associação dos Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola (ACBLPE); IX Encontro Internacional do Grupo de Estudos de Línguas em Contacto (GELIC); Encontro Conjunto das 2ªs Jornadas Internacionais Científico-Pedagógicas do Instituto Superior Politécnico do Libolo (ISPTLO); VIII Internacional do "Projeto Libolo", com participação de investigadores de Angola, Portugal, Macau, Hong Kong, Senegal, Holanda, França, Brasil, Dinamarca, Espanha, EUA, Finlândia, Alemanha, Itália e Cabo Verde.






















quarta-feira, maio 24, 2023

UXIMIKA


Literalmente, uximika (kimbundu lubolense) é atear fogo para diversos fins que vamos procurar discorrer nas linhas abaixo. Das queimadas podem derivar proventos e prejuízos.

Esta prosa é motivada por uma situação ocorrida a 23.05.2020, e que levou alguns bairros de Luanda a "dormir na escuridão", porque numa subestação da empresa distribuidora de energia houve incêndio "periférico" que destruiu alguns equipamentos (se bons ou sucatas não sei). Tais equipamentos eléctricos, ao que as imagens nas redes sociais mostraram, estavam num vasto quintal e em volto a capim seco. É aqui que surge o tema "queimadas".

Eu mesmo, sendo natural de uma aldeia do Libolo, aprendi cedo a cuidar e usar o fogo como "fonte" de alimento, de defesa e de higiene.
No tempo seco/kixibo, o lixo e toda a erva seca é queimada. É menos trabalhoso queimar do que capinar. Chegados os meses de maio e junho (quando o capim ainda não está completamente seco), roça-se/corta-se o capim à volta das lavras e fazendas (picadas) ao qual se joga fogo, para se defender do fogo das caçadas nos meses de Agosto e Setembro.
À volta das casas, nas aldeolas, para evitar que cobras e outros predadores se abeirem das pessoas e dos animais domésticos, é o fogo posto que alarga o "espaço vital e visual". Daí que atear fogo à capinzais circunscritos (quintalões) ou não é, para o angolano do interior, uma prática inculcada na psique, agindo de forma costumeira tão logo se depare com capim seco que pode, no seu imaginário, compaginar-se com a oportunidade de: caça, defesa, visibilidade, facilidade agropecuária (nascimento de relva para os herbívoros domésticos, e prática agrícola), etc.
Ainda a 23.05.2020, limpei um dos meus quintais (onde decorrem obras civis) usando a prática da queima do capim seco. E foi mais fácil ter o espaço limpo do que seria se usando a enxada. E mesmo assim, teria ainda de descartar o capim.
Queimada é prática primitiva da agricultura, destinada principalmente à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de pastos, com uso do fogo de forma controlada que, às vezes, pode descontrolar-se e causar incêndios em florestas, matas e grandes terrenos agricultados.