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segunda-feira, outubro 09, 2023

QUE LÍNGUA NATIVA FALAM OS POVOS DO LUBOLU?

A 9 de Junho de 2012, o militar e político Serafim Maria do Prado, nas vestes de governador do Kwanza-Sul, escreveu à então Ministra da Comunicação social, Carolina Cerqueira, hoje titular da Cultura, solicitando intercedência desta junto da RNA para que fosse revista a designação errônea atribuída à variante Kimbundu falada no Kwanza-Sul, nas rádios provincial e Ngola YETU. O assunto não teve o provimento esperado, pois ao que se sabe, ou o Ministério que tutela a rádio não orientou ou essa não acatou. Estávamos em vésperas das terceiras eleições gerais, depois das realizadas em 1992, 2008. 

Serafim do Prado, na sua missiva, sugeria que os aludidos programas tivessem a designação "Kimbundu Kyetu" (nosso Kimbundu) ou "Kimbundu do Kwanza-Sul", indo de encontro àquilo que a população autóctone de maior idade responde (ainda) quando perguntada "eye dizwi dyãe wzwela?" (Que língua fala?). A esse questionamento, a resposta é sempre: Kimbundu ngizwela/Kimbundu Kyetu... (falo Kimbundu/o nosso Kimbundu). 

 

Esse contributo (CANHANGA: 2016) recolhido da oralidade no Lubolu e nos municípios do centro do Kwanza-Sul deve ser valorizado e adicionado ao que escreveram Heli Chatelain, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, nas circunstâncias de Angola em que não abundam os trabalhos escritos, toda a ciência que envolva a etnografia, antropologia e história deve sempre ter o terreno e a oralidade como ponto de partida (laboratório) e o gabinete como fábrica (para multiplicação e difusão do conhecimento experimentado). 

 

 

Evidências 

A primeira rádio a emitir um programa com nome ngoya foi a VORGAN em finais dos anos 80 do século XX. 

Os autores do Programa em ngoya da Rádio Kwanza-Sul não realizaram, na altura do lançamento do programa, nenhum estudo científico (conhecido) que os levasse a concluir que a língua não era Kimbundu, mas sim ngoya. 

O Ministério que atendia pelas questões linguísticas não foi ouvido antes da criação/designação do aludido programa (1993). 

Não é a rádio quem determina a autonomização das línguas em Angola, nem é sua função classificar e dar nomes às línguas nativas. 

O Ex-Governador Serafim do Prado escreveu, a 9 de Junho de 2012, à então Ministra da Comunicação Social, pedindo a troca da designação do Programa, retirando a expressão ngoya, por considerara que ela não era aceite. 

A discussão sobre a designação da língua que se fala no Kwanza-Sul é matéria extensiva a todos. 

Há tendência de alguns procurarem "investigar" para justificar o nome (ngoya) quando a investigação devia ser prévia à criação do programa? 

  

Sem demérito àquilo que os signatários do “anguoia que significa vai por aqui” (?), publicaram no Jornal de Angola e retomado pelo Portal de Angola a 15/07/2011, uma melhor compreensão do assunto passaria por fazer um levantamento com metodologia aplicável à ciência social nos municípios do Lubolu e nos do centro do Kwanza-Sul, como o fizeram Héli Chatelain, Maia, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, toda a ciência que envolva a antropologia, história e etnografia deve sempre ter o campo como ponto de partida. 

  

O dinamismo das línguas pode levar algumas variantes à emancipação, aí onde as correntes forem mais heterodoxas do que ortodoxas. Porém, todo nome tem de ter um sentido etimológico e semântico, o que me parece não existir no caso dos proponentes do ngoya para a designação de uma suposta língua (que pretendem autónoma do Kimbundu) falada no Lubolu e nos municípios centrais do kwanza-sul. Há, por isso, que separara as águas e definir o que se pretende: autonomização ou redesignação? 

Como nota final, convido o (a) leitor (a) a colocar aos lubolenses maiores de quarenta anos as seguintes indagações: 

1- Ouve rádio com frequência? 

2- Ouve a rádio Kwanza-Sul e a rádio Ngola Yetu? 

3- Quando começou a ouvir o termo ngoya como língua que se fala no Kwanza-Sul? 

4- Antes disso que língua falava/que nome tinha a vossa língua? 

3- A língua nativa língua que se fala no Lubolu é Kimbundu ou Ngoya? 

  

Referências

CANHANGA, Soberano (2016) A língua dos Kibala Kimbundu ou Ngoya?, http://jornalcultura.sapo.ao/…/a-lingua-dos-kibala-kimbundu…https://www.portaldeangola.com/2011/07/morais-antonio-pesquisa-ngoya/ 

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Angola, 07.06.2028 

REDINHA, José (1984). Distribuição Étnica de Angola, 8.ª ed., Luanda, Centro de Informação e Turismo de Angola. 

Semanário Cruzeiro do Sul, ed. 3-10 Maio 2008. Língua dos Kibala: Kimbundu ou Ngoya?