(constructo)
Na tradição da maioria dos bantu que vive(ra)m em Angola, os genros "são contratados para a procriação", sendo os filhos herança dos tios. Entenda-se por tio o irmão da mãe e não o irmão do pai que deve ser tratado como pai (pequeno ou grande).
Tal como o criador de gado se gaba de quantas cabeças tem, é comum ver/ouvir as idosas gabarem-se de quantos netos possuem, olhando em primeira instância para os "netos verdadeiros", aqueles gerados pelas filhas, e depois aos "possíveis netos", aqueles gerados pelos filhos.
Assim, quando o indivíduo contrai matrimónio, o foco deve ser a (re)produção de novos membros (progénie) que vão engrossar as fileiras dos seus "donos" (tios), restando ao proletário a esperança de que os seus cunhados façam o mesmo para ele.
Fruto deste pensamento e acção orientados ao matrilinearismo, os filhos deixam de ser herdeiros do pai, papel confiado aos sobrinhos, porém, força de trabalho, enquanto infantes.Tal, nas comunidades ágrafas, se estende à educação, embora não atinja ao suprimento alimentar e de saúde. É (ainda) comum ouvir-se a expressão "chame o tio dele para o educar/aconselhar", sendo também este o confidente imediato.
Quanto às meninas, de quem se espera que o candidato a esposo ofereça dotes, estes vão para as tias (irmãs do pai) e nunca às irmãs da mãe que deve ser tratada igualmente como mãe (grande ou pequena). As tias são, de igual sorte, as "educadoras" e confidentes principais das sobrinhas.
Em algumas famílias bantu, a primeira refeição a um bebé é dada pela tia ou avó paterna. Porquê?
Acredita-se que, se for "produto de uma lavoura em lavra alheia", a criança venha a sentir-se mal depois da refeição. Por outro lado, a crença em forças supra-humanas e místicas criam na mãe uma pressão psicológica que pode levá-la a confessar eventuais "cultivos extra-lar", sob pena de ver o(a) filho(a) sucumbir no pós-cerimónia de primeira alimentação.
Sem comentários:
Enviar um comentário