O aeroporto do Namibe deixou de se
chamar Yuri Gagarin e foi rebaptizado com o nome de Welwitchia Mirabilis. Em rigor,
apenas homenageou-se um austríaco em vez dum russo, pois a planta que
existe no deserto já era designada pelos nativos por ntumbo, tendo sido
cadastrada pelo botânico Fredrich Welwitch com a designação de Tumboa.
Apenas depois da sua morte, e em sua homenagem, a planta rara ganhou o nome
actual (Reginaldo Silva, fb, 13.02.2014).
Apesar de se ter apenas mudado o nome de um russo para
um austríaco, tomei nota, com bastante agrado essa evolução no pensamento
político-cultural dos governantes angolano. Chego à conclusão de que, afinal de
contas, sempre será possível rebaptizar os topónimos angolanos de origem bantu,
atribuídos e registados, muitos de forma errónea e ao acaso, pelos portugueses. Para os povos bantu, cada substantivo/nome encerra um
significado. E mais, o CICIBA (Centro
de Investigação das Civilizações Bantu), e mesmo as
autoridades angolanas (Resolução
3/87 de 23 de Maio, do Conselho da República) convencionaram
alfabetos para as nossas línguas, devendo os topónimos e antropónimos bantu
obedecer a estas convenções.
Continuo a considerar que os topónimos angolanos cujos
registos não correspondem à redacção correcta, nem ao significado que encerram
devem seguir o “caminho do aeroporto do Namibe”, ou seja rebaptizados.
O estudo da Direcção Nacional de Organização
do Território, Ministério da Administração do Território, sobre Divisão Política-Administrativa
e Toponímia de Angola apenas ganha os meus elogios por ter enumerado e
codificado as províncias, os municípios e as comunas do país, sendo necessário
também serem “provisoriamente” nomeados, dada a ausência de um estudo e discussão
abrangentes sobre a redacção exacta dos topónimos de origem bantu, obedecendo-se,
neste caso, às designações da administração colonial.
Com todo o respeito que me reservam os
responsáveis do MAT, com quem tenho uma comunicação aceitável, não me revejo na
obrigatoriedade dos media angolanos adoptarem essa redacção colonial como se o “documento
em construção” tivesse força de lei.
Haverá incapacidade, de nossa parte, para
se fazer um estudo etimológico dos nomes bantu da nossa toponímia? Reitero. Não
aceito que a nossa moeda, de que todos nos orgulhamos, o Kwanza, seja grafado
com KW e o rio de quem ganha o nome seja CU.
À
semelhança do aeroporto Yuri Gagarin, que passou a chamar-se Welwitchia Mirabilis , espero que as províncias que
ladeiam o rio Kwanza sejam grafadas como deve ser ou que a nossa moeda se
escreva Cuanza em vez do habitual Kwanza.
Que
a capital da Lunda Sul seja Sawlimbo e que a província do sudeste de Angola
seja Kwando-Kubango e a sua capital Vunonge.
Que
um dos municípios do Wambu (Huambo) seja Cikala Co Lohanga e que a antiga
cidade de Silva Porto seja escrita Kwitu-Vye…
Pode
ser que o tempo me derrote, mas não custa nada debater e buscar consensos
alargados. O país, a sua história e futuro, a todos diz respeito.
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