Uma cronologia* elaborada por Tomás Lima Coelho e
Manuel Seca Ruivo, que lista os escritores angolanos desde o surgimento do
primeiro livro escrito por um angolano (José Maia Ferreira), em 1847, até ao presente,
ilustra que entre os cerca de 600 escritores angolanos apenas 04 são da Lunda
Sul a saber: Bula Mbungue, Fonseca Sousa, Valter Hugo Mãe e Victor Kajibanga.
É Obvio que o estudo ainda recebe contribuições para se seja o máximo realista,
mas é um indicador que nos deve preocupar.
Enquanto capital do distrito, no tempo colonial e
capital de província de 1975 a esta parte, Saurimo teve sempre um ensino liceal
e não faltou a diáspora académica ao longo dos tempos. Porém, apesar destes
condimentos que são a formação intelectual e a criatividade que propiciam a
existência da literatura, o número de escritores da província é 04 e se
juntarmos os escritores das duas Lundas teremos apenas um total de apenas 9
escritores. São ainda muito poucos os que mostram a cara através da escrita
criativa ou académico-cientifica.
Só para se ter uma ideia, o Huambo tem 51
escritores listados; Benguela tem 47; Malanje, aqui ao lado, tem 32. O Kwanza-Sul
tem 18; Cabinda tem 07; Moxico tem 09 e apenas Kwando-Kubango e Kunene têm cada
02.
Daí que julgo ser necessário pensar-se numa solução.
É preciso incentivar os jovens a criar e registar em papel aquilo que criam.
Mas, antes, temos de incutir nas crianças e jovens o hábito da leitura, do
debate, da reflexão e do uso correcto da língua em que trabalhem: seja a língua
herdada do colono (português) ou as nossas línguas de origem bantu. Julgo ser
este o caminho para que possamos fazer crescer o número de escritores na província
e no país.
É ingente que os jovens os mais velhos escrevam e
publiquem as suas experiências e memórias, merecedoras de serem legadas às
novas gerações. É urgente que os nossos professores “reinventem” o saber
científico, o registem e publiquem.
É preciso também que as instituições públicas e
os empresários locais apoiem aqueles que já escrevem para que possam publicar e
servir de mola impulsionadora dum movimento literário ao nível da província.
Não havendo quem escreve, porque não habituamos
as crianças a ler e a praticar a escrita, temos de fazer uma analogia com o
futebol: É possível aspirar a primeira divisão nacional sem jogadores em
quantidade e qualidade na praça local?
Se calhar, a solução seja criar uma espécie de “núcleos
de leitura, debate e escrita” que nos darão talentos que nos permitam, no
futuro, ombrear com os grandes que também tiveram de gizar políticas de
formação, formal ou informal, ostentando hoje a fama e a tradição que têm.
Benguela é um exemplo no campo literário para não falar de Luanda.
Buscando o exemplo de Benguela, há dois anos que o
governo daquela província instituiu o Prémio Provincial de Cultura e Artes, uma
versão local do Prémio Nacional. Os vencedores de cada uma das sete categorias
recebem Kz 700 mil. Sabendo que o artista que se empenhe com qualidade pode
ganhar no principio do ano esse dinheiro, quem é que não escreve? Quem é que
não pinta, quem é que não esculpe, quem é que não cria moda, quem é que não
investiga sobre a nossa tradição e costumes do nosso povo? Quem é que não canta
e quem é que não dança?
Entendo que não basta que existam as instituições
artísticas sem o essencial que são os artistas porque já é sabido que sem
panela não se faz o funje.
Sem leitores nunca teremos escritores.
* Autores de Angola: Naturalidade e bibliografia (ebook), no prelo.
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