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quinta-feira, dezembro 11, 2025

A INCONTORNABILIDADE DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA PRODUÇÃO DE TEXTOS INSTITUCIONAIS

Conceitos

A Inteligência Artificial tornou‑se inevitável na comunicação institucional. Permite rapidez, escala e eficiência na produção de textos, sendo hoje instrumento estratégico para qualquer organização que pretenda manter relevância e competitividade.

Texto‑máquina vs. texto humanizado:
- Texto‑máquina: estruturado, lógico, previsível, com gramática impecável, mas impessoal e genérico.
- Texto humanizado: incorpora emoção, oralidade, ritmo narrativo e contexto cultural. Cria proximidade com o público e transmite legitimidade.
- Função do comunicador: O gestor de comunicação não é substituído pela IA, mas torna‑se curador e tradutor da linguagem máquina, garantindo que o conteúdo seja adaptado ao público e reflita identidade institucional.
- Prompt robusto: O prompt é o “briefing” da máquina. Quanto mais claro e estruturado, mais preciso será o resultado. É nele que se define objectivo, público‑alvo, formato e estilo.

Exemplos de Prompts


a) Nota Oficial

Escreva uma nota oficial sobre o lançamento do livro "Amores de Mel’aço", realizado no dia 25 de Maio de 2026, pelo autor Soberano Kanyanga na sede do MIREMPET.
Formato: Nota oficial institucional, tom formal e solene.
Elementos obrigatórios: data e local, presença de representantes das empresas patrocinadoras (Catoca e Sodiam), da editora NHConteúdos e do público (familiares, amigos, colegas, amantes da literatura).
Estilo: Redacção clara, objectiva, sem adjectivação excessiva.

b) Notícia Jornalística

Redija uma notícia jornalística sobre o lançamento do livro "Amores de Mel’aço", ocorrido em 25 de Maio de 2026, pelo autor Soberano Kanyanga, na sede do MIREMPET.
Formato: Notícia jornalística, linguagem informativa e acessível.
Elementos obrigatórios: contexto literário, patrocinadores presentes (Catoca e Sodiam), editora NHConteúdos, público diverso (familiares, amigos, colegas, amantes da literatura).
Estilo: Estrutura jornalística clássica (lead, corpo, citações).

c) Pedido de Cobertura de Evento

Elabore um pedido formal de cobertura jornalística para o lançamento do livro "Amores de Mel’aço", marcado para o dia 25 de Maio de 2026, na sede do MIREMPET.
Formato: Ofício institucional dirigido a órgãos de comunicação social.
Elementos obrigatórios: identificação do evento, patrocinadores (Catoca e Sodiam), editora NHConteúdos, público presente (familiares, amigos, colegas, amantes da literatura), relevância cultural, solicitação explícita de cobertura.
Estilo: Linguagem formal, respeitosa e protocolar.


Exemplos de outputs

a) Nota Oficial
Nota Oficial

O autor Soberano Kanyanga informa que procedeu ao lançamento do seu mais recente livro "Amores de Mel’aço", no dia 25 de Maio de 2026, em Luanda.

O acto contou com a presença de representantes das empresas patrocinadoras Catoca e Sodiam, da editora NHConteúdos, bem como de familiares, amigos, colegas e amantes da literatura.

O lançamento marcou um momento de celebração cultural e literária, reforçando o compromisso do autor e dos parceiros em promover a literatura angolana.

b) Notícia Jornalística
Lançamento do livro "Amores de Mel’aço" celebra literatura angolana

O autor Soberano Kanyanga apresentou ao público, no dia 25 de Maio de 2026, a sua mais recente obra literária com o título "Amores de Mel’aço".

O evento reuniu, na sede do MIREMPET, representantes das empresas patrocinadoras Catoca e Sodiam, a editora NHConteúdos, além de familiares, amigos, colegas e amantes da literatura.

A obra foi recebida como um contributo significativo para a valorização da cultura nacional, destacando‑se pela sua abordagem sensível e pelo impacto esperado junto da comunidade literária.

c) Pedido de Cobertura de Evento
Ofício n.º 02/SK/2026

Exmos. Senhores,

O escritor Soberano Kanyanga, pseudónimo literário do jornalista Luciano Canhanga, tem a elevada honra de solicitar a vossa cobertura jornalística da cerimónia de lançamento do seu mais recente livro "Amores de Mel’aço", a realizar‑se no dia 25 de Maio de 2026, em Luanda, sede do MIREMPET.

O evento contará com a presença de representantes das empresas patrocinadoras Catoca e Sodiam, da editora NHConteúdos, bem como de familiares, amigos, colegas e amantes da literatura.

Trata‑se de um acontecimento de elevada relevância cultural e que reforça o papel da literatura angolana na preservação da memória e na promoção da identidade nacional.

Com os melhores cumprimentos,
Soberano Kanyanga

4. Conclusão
Este exercício demonstra que:
- A Inteligência Artificial (IA) é incontornável na produção de conteúdos, mas não substitui a curadoria humana.
- O prompt robusto é a chave para orientar a máquina e obter resultados consistentes.
- O texto‑máquina fornece estrutura e dados, mas precisa de ser humanizado para ganhar legitimidade, emoção e proximidade com o público.
- O comunicador institucional assume o papel de tradutor da linguagem máquina, garantindo que a mensagem seja culturalmente situada e socialmente relevante.
_ A Inteligência Artificial deve ser vista como ferramenta de apoio, nunca como substituto da sensibilidade humana. O futuro da comunicação institucional será híbrido: máquina para a eficiência, humano para a alma da mensagem.

Por: Luciano Canhanga (Soberano Kanyanga)

quarta-feira, novembro 26, 2025

O KIMBUNDU E UMBUNDU – LÍNGUAS NACIONAIS CODIFICADAS – E O CASO DO NGOYA

1. INTRODUÇÃO

Angola é um país de grande diversidade linguística, onde coexistem o português — língua oficial — e várias línguas nacionais de origem
bantu. Entre estas, destacam-se o Kimbundu e o Umbundu, línguas com tradição oral, produção literária emergente e crescente reconhecimento institucional. O Kibala (ou Ngoya), por sua vez, representa um caso singular de debate linguístico e identitário, situado entre a variante dialectal e a possível língua autónoma.

2. LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E DISTRIBUIÇÃO DAS LÍNGUAS

2.1. Kimbundu

Falado predominantemente nas províncias de Luanda, Bengo, Cuanza Norte, Malanje e partes do Cuanza Sul e Uige, o Kimbundu é a língua do grupo Ambundu. Com mais de 3 milhões de falantes, apresenta estrutura tonal, sistema de classes nominais e forte prefixação verbal e nominal. É uma das línguas bantu mais estudadas em Angola, com influência lexical no português angolano e brasileiro.

2.2. Umbundu

Predomina nas províncias do Huambo, Bié, Benguela, partes da Huila, Namibe e Cuanza Sul, sendo a língua do grupo Ovimbundu. É a língua nacional mais falada em Angola, com forte presença na educação, cultura e comunicação social. A sua estrutura gramatical e riqueza lexical têm sido objeto de estudos linguísticos e etnográficos.

2.3. Kibala (ou Ngoya)

Falado na região da Kibala, abrangendo localidades como Hebo, Kilenda, Lubolu, Mbwim e Waku, é considerado por alguns estudiosos como uma variante do Kimbundu, enquanto outros defendem a sua autonomia linguística. O termo “Ngoya” é exógeno, usado por comunidades vizinhas, enquanto os falantes se referem à sua língua como “Kimbundu da Kibala” ou "Nosso Kimbundu".

3. INSTRUMENTOS NECESSÁRIOS PARA A AUTONOMIZAÇÃO DE UMA LÍNGUA

A autonomização de uma língua — ou seja, o processo pelo qual uma variante dialectal passa a ser reconhecida como língua independente — é um fenómeno linguístico, político, social e cultural. Não há uma única autoridade que o define, mas sim um conjunto de actores e etapas que contribuem para essa legitimação.

3.1. Codificação e Normalização

  • Gramática própria: Regras definidas de morfologia, sintaxe e fonologia.
  • Ortografia padronizada: Sistema de escrita consensual e estável.
  • Dicionário: Repertório lexical que legitima o vocabulário da língua.

3.2. Produção Escrita e Literária

  • Textos literários, científicos e jornalísticos.
  • Traduções para e a partir da língua, demonstrando sua capacidade de comunicação universal.

3.3. Reconhecimento Institucional

  • Inclusão em currículos escolares, exames e documentos oficiais.
  • Políticas linguísticas de promoção e preservação.

3.4. Uso Social Alargado

  • Comunidade de falantes nativos e fluentes.
  • Presença nos media: rádio, televisão, internet, redes sociais.

3.5. Autonomia Identitária

  • Sentimento de pertença.
  • Distinção funcional em relação a outras variantes.

4. QUEM DEFINE A AUTONOMIZAÇÃO DE UMA LÍNGUA?

  • Comunidade de falantes: O reconhecimento começa internamente, com o sentimento de identidade linguística.
  • Linguistas e académicos: Estudam, descrevem e codificam a variante.
  • Instituições políticas e educativas: Oficializam a língua e promovem sua inclusão nos sistemas de ensino.
  • Organismos internacionais: Como a UNESCO e o ISO, que atribuem códigos linguísticos.

5. COMO SE PROCESSA A AUTONOMIZAÇÃO?

  • Codificação linguística: Elaboração de gramática, ortografia e dicionário.
  • Produção cultural: Literatura, música, teatro, imprensa.
  • Mobilização social: Movimentos culturais e comunitários.
  • Reconhecimento oficial: Declaração como língua nacional, regional ou co-oficial.

6. COMO SE DEFINE O NOME DE UMA LÍNGUA?

O nome pode derivar de:

  • Autodenominação dos falantes (ex.: Umbundu).
  • Topónimo ou região (ex.: Catalão).
  • Grupo étnico ou cultural (ex.: Zulu).
  • Termo histórico ou tradicional (ex.: Latim, Tétum).

Em alguns casos, o nome é disputado ou evolui com o tempo, conforme o reconhecimento político ou académico.

7. O CASO DO NGOYA: LÍNGUA OU VARIANTE?

Kibala (ou Ngoya) representa um exemplo paradigmático do debate sobre a sua denominação e autonomização linguística. Estudos como os de Tomé Grosso, Ndonga Mfwa, Gabriel Vinte e Cinco e Soberano Kanyanga apontam para uma variante do Kimbundu com identidade própria, falada na região da Kibala e zonas contíguas. A sua autonomização depende da aplicação dos instrumentos descritos, bem como do reconhecimento da sua identidade linguística pelos falantes e pelas instituições públicas.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • Angenot, Jean-Pierre; Mfuwa, Ndonga; Ribeiro, Michela Araújo – As classes nominais do Kibala-Ngoya.
  • Araújo, Paulo Jeferson Pilar; Petter, Margarida – O quimbundo e o português do Libolo.
  • Canhanga, Luciano (Soberano Kanyanga) – A língua dos Kibala – Kimbundu ou Ngoya?
  • Cobbinah, Alexander – Lubolo-Ngoya | Endangered Languages Archive.
  • Grosso, Tomé – Monografia sobre o Dialecto Kibala e o termo Ngoya.
  • Jordan, Linda; Manuel, Isata – Sociolinguistic Survey of Kwanza Sul Province.
  • Kitumba, Evaristo – Problemática linguística da província do Kwanza-Sul.
  • Mfwa, Ndonga – Estudos sobre variantes do Kimbundu e o caso Ngoya.
  • Ndombele, Eduardo David – Reflexão sobre as línguas nacionais no sistema de educação em Angola.
  • O Pais – Colectânea “Letras sobre as Línguas de Angola”.
  • Pinto, Hermenegildo – Umbundu: caminhos para a sua preservação.
  • Ramos, Rui – A Língua Kimbundu.
  • Sacalembe, Júlio – Políticas linguísticas em Angola.
  • SIL International – Sociolinguistic Survey of Kwanza Sul Province.
  • Wikipedia – Ngoya language.

domingo, novembro 02, 2025

ILUKE

(Pseudo-sepultura)

É uma alegoria. Uma imitação do sepulcro real onde repousam os restos do finado.

Uluka=atribuir nome/pseudônimo

Iluke=réplica/homónimo


Nas comunidades rurais do Libolo (e xonas adjacentes), quando alguém morre distante e não é transladado seu corpo para a origem, é feito um pseudo-funeral (iluke) em que se colocam em uma pequena urna pertences do de cujus (pode ser resto de cabelo, unhas etc.) que são sepultados como se de um corpo cadavérico se tratasse.  Tal visa "acalmar os espíritos do defunto" e servir de memória para a comunidade.

Por cima da campa, à semelhança dos sepultamentos reais, é anotado o tempo de vida do "homenageado.

Iluke é uma espécie de túmulo de soldado desconhecido.

quarta-feira, outubro 01, 2025

AS VOZES DO KWANZA-SUL NO MOSAICO LINGUÍSTICO DE ANGOLA

Por: Soberano Kanyanga*


I. Introdução

A província do Kwanza-Sul ocupa uma posição estratégica no mapa etnolinguístico de Angola, situando-se entre dois grandes polos culturais e linguísticos:

  • Polo Ambundu: Luanda, Bengo, Malanje e Kwanza-Norte, onde predomina o Kimbundu.
  • Polo Ovimbundu: Huambo, Bié e Benguela, com predominância do Umbundu.

Esta localização faz do Kwanza-Sul uma zona de transição etnolinguística, onde coexistem variantes do Kimbundu e do Umbundu, além de falares locais que expressam a complexidade histórica, social e identitária dos seus povos.

 II. Zonas de transição etnolinguística: Definição e relevância

As zonas de transição etnolinguística são espaços de contacto entre línguas e culturas, caracterizados por:

  • Multilinguismo funcional
  • Interferência linguística (lexical, fonética, sintática)
  • Identidade linguística fluida
  • Variação dialectal e inovação linguística

Distribuição dos falares por influência dominante:

Grupo de maior influência Ambundu (Kimbundu):

  • Kibala
  • Mussende
  • Kilenda
  • Hebo
  • Lubolu
  • Mbwim (Amboim)
  • Waku

Grupo de maior influência Ovimbundu (Umbundu):

  • Seles
  • Cassongue
  • Sumbe

III. O “Falar” da Kibala: Identidade, resistência e reivindicação

A variante do Kimbundu falada na Kibala e arredores é reconhecida pelos próprios falantes como:

  • Kimbundu
  • Kimbundu ky’Epala
  • Kimbundu kyetu

O termo “ngoya”, usado de forma pejorativa por povos vizinhos, foi indevidamente promovido como designação linguística por meios da comunicação social, sem base científica ou consulta aos verdadeiros detentores do conhecimento ancestral e zeladores da história oral.

Importa sublinhar que a designação de uma língua deve estar em harmonia com o nome do povo que a fala. Assim como se fala da língua portuguesa para o povo português, da língua francesa para os franceses, ou da língua ucokwe para os tucokwe, também se deve respeitar essa lógica no caso da Kibala, onde o povo se identifica como Ambundu e a sua língua como Kimbundu da Kibala.

“Não basta ser soba para confirmar dados históricos. É preciso ter idade e discernimento necessário.”


IV. Quadro comparativo: Povo e Língua

Este quadro serve para ilustrar a coerência entre identidade étnica e designação linguística, desmontando a falácia da chamada “língua ngoya” atribuída ao povo da Kibala:

Povo / Comunidade

Gentílico / Identidade

Designação da Língua

Portugueses

Português

Língua portuguesa

Franceses

Francês

Língua francesa

Tucokwe

Tucokwe

Língua Ucokwe

Bakongo

Bakongo

Língua Kikongo

Ambundu

Ambundu

Língua Kimbundu

Ovimbundu

Ovimbundu

Língua Umbundu

 

V. A Herança colonial e a imposição terminológica

Durante o período colonial, foi imposta uma hierarquia linguística que marginalizou os falares africanos, rotulando-os como “dialectos” ou “línguas menores”. A introdução do termo “ngoya” pela Rádio VORGAN nos anos 80 e pela RNA/Ngola Yetu em 1992 e 2007 não foi precedida por estudos científicos nem por validação de “Agentes Autorizados das Comunidades”.

Min C. Cerqueira, Juiz J. Felismino, Revº Gab Vinte e Cinco e Sob. Kanyanga

Em 9 de Junho de 2012, o então governador Serafim do Prado solicitou à Ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira, a substituição oficial da designação “ngoya” por “Kimbundu Kyetu”, alinhando-se com a resposta popular à pergunta:

_ Eye oji lyahi wondola (Que língua você fala)?


 VI. Estudos, testemunhos e evidência de campo

  • Tomé Grosso: Na sua monografia "O Dialecto Kibala (Kimbundu) e a Problemática do Termo Ngoya como Dialecto", revela bilinguismo funcional e confusão terminológica entre os jovens, influenciados por meios de comunicação.
  • Soberano Kanyanga: Inquérito com 60 participantes mostra rejeição ao termo “ngoya” e afirmação do Kimbundu da Kibala como língua de identidade.
  • Gabriel Vinte e Cinco, Moisés Malumbu, José Redinha: Confirmam a origem Ambundu dos Kibala e não identificam qualquer referência histórica ou etnográfica à existência de um povo ou língua “ngoya”.
  • Em "AS CLASSES NOMINAIS DO KIBALA-NGOYA, UM FALAR BANTU DE ANGOLA NÃO DOCUMENTADO,NA INTERSECÇÃO DOS GRUPOS KIMBUNDU [H20]E UMBUNDU [R10]!", JEAN-PIERRE ANGENOT / NDONGA MFUWA / MICHELA ARAUJO RIBEIRO, pesquisadores da Universidade Federal de Rondônia, Universidade Agostinho Neto, Universidade, consideram “O kibala - ou kibala-ngoya – um falar bantu de Angola não-docu-mentado em uso no centro da província de Kwanza Sul, numa área relativa-mente extensa cujas principais localidades são Kibala, Ebo, Wako Kungo, Assango, Cabela, Condé, Quilenda e Mussende. 

Acrescentam que “É propositalmente que recorremos à denominação ‘falar’ ao referir-mos ao kibala na medida em que paira alguma incerteza sobre a questão desaber se é uma variante dialetal assaz distante da língua kimbundu [H21], uma língua autônoma dentro do grupo kimbundu [H20] ou – a priori porque não – do grupo umbundu [R10], ou se se trata de um falar híbrido detransição entre as zonas tipológicas H e R do domínio bantu. O kibala é também – e sobretudo – conhecido como ngoya, um termo pejorativo de origem umbundu com o significado de “bárbaro”, “selvagem”,“imprestável”. ... Contudo, constata-se, notadamente no círculo dos inte-lectuais e políticos oriundos da comunidade, uma reação de repúdio dessa denominação, com proposta de sua substituição oficial por “kibala”, um ter-mo cujo uso até há pouco estava restrito ao meio acadêmico luandense sem real penetração no seio da comunidade dos locutores para os quais a palavra diz somente respeito à principal cidade da região que se chama Kibala e cujos habitantes são chamados “kibalistas”. Recentemente o Instituto de Línguas Nacionais promoveu em Sumbe, capital provinciana do Kwanza Sul, um vasto debate acadêmico-político sobre a realidade sociolinguística da região esobre a adoção da denominação mais adequada entre as denominações concorrentes “ngoya” e “kibala”. De acordo com uma comunicação pessoal do bantuista Vatomene Kukanda, diretor do ILN e decano da Faculdade de Letras da UAN, foi “kibala” que foi recomendado pelos participantes do seminário, entre os quais foram consultados importantes chefes tradicionais”, in PAIA 21(2), p. 253-266, 2011. ISSN 0103-941. 

VII. Propostas para a valorização dos falares locais

  • Educação: Inclusão dos falares locais nos currículos escolares.
  • Cultura: Estímulo à produção artística e literária nas línguas locais.
  • Investigação: Criação de centros provinciais de estudo linguístico.
  • Media: Uso responsável das designações linguísticas, com base em investigação científica e memória histórica comunitária.

 VIII. Conclusão

A valorização dos falares locais é essencial para a preservação da identidade cultural do Kwanza-Sul. Os “falares do Norte e Centro do Kwanza-Sul” são variantes legítimas do Kimbundu e devem ser reconhecidos como tal, com base em evidência histórica, linguística e comunitária.

“Toda a ciência que envolva a antropologia, história e etnografia deve sempre ter o campo como ponto de partida.”Soberano Kanyanga

 Leia mais em: "MESU MAJIKUKA": Resultados da pesquisa para Ngoya 

=

*Formado em Didáctica de História e investigador social.


quarta-feira, setembro 03, 2025

O JORNALISTA, O ASSESSOR E O ADIDO DE IMPRENSA

(Funções, Ética e Intersecções)

Conceitos básicos:

  1. Jornalista é quem exerce o Jornalismo — profissão que, segundo Nelson Traquina (Jornalismo: Teorias e Práticas, 2005), consiste na recolha, selecção, tratamento e divulgação de informações de interesse público, com critérios editoriais próprios. Para mim, é também arte e vício controlável, pois exige sensibilidade, rigor e compromisso com a verdade factual.

  2. Assessor de Imprensa é o profissional de comunicação institucional cuja função é recolher dados, tratá-los conforme o perfil do receptor (media) e disponibilizá-los para posterior divulgação. Como destaca José Marques de Melo, o assessor serve à organização, enquanto o jornalista serve ao público — distinção essencial para compreender os limites éticos e operacionais de cada função.

  3. Adido de Imprensa é, por definição, um Assessor de Imprensa destacado junto de uma missão diplomática, com responsabilidades acrescidas no contexto da comunicação internacional e da representação do Estado.

Intersecções e diferenças

Tanto o jornalista quanto o assessor e o adido de imprensa realizam actividades de recolha, tratamento e distribuição de informação. A diferença reside no destinatário final: o jornalista comunica directamente com o público, enquanto o assessor e o adido comunicam com os media, respeitando os canais institucionais.

A crítica feita por um compatriota — de que seria um “belisco à ética” um assessor entrevistar o seu assessorado e partilhar o conteúdo com jornalistas — revela uma incompreensão sobre os limites e funções da assessoria. A recolha de dados (por entrevista, observação, consulta documental, etc.) é parte legítima da função informativa do assessor, desde que respeite os princípios da transparência e da veracidade.

Segundo Manuel Castells, em Comunicação e Poder (2009), a comunicação institucional é estratégica e visa moldar percepções, mas não deve substituir o papel editorial do jornalista, que continua a deter o monopólio da decisão sobre o que é notícia.


Limites Legais e Éticos

O artigo 5.º do Decreto Presidencial n.º 3/18 de 11 de Janeiro não proíbe que o assessor recolha dados directamente junto do seu assessorado, desde que não os trate como produto jornalístico. Ao fornecer o dado bruto aos jornalistas, o assessor respeita o papel editorial destes, que devem analisar, hierarquizar e decidir sobre a publicação.

Portanto, não é correcto questionar: “Por que o assessor ou o adido entrevistou o seu assessorado e forneceu o dado bruto aos jornalistas?” — desde que o conteúdo não tenha sido editado com fins jornalísticos, mas sim disponibilizado como subsídio informativo.


Reconhecimento Profissional

Importa também reconhecer o trabalho árduo dos diplomatas e seus assessores de imprensa, que muitas vezes sacrificam o descanso e a vida familiar para garantir o bom acolhimento e despedida de delegações oficiais. A assessoria diplomática exige dedicação contínua, jornadas imprevisíveis e uma compreensão profunda da comunicação estratégica.


Conclusão

Em síntese, o jornalista, o assessor e o adido de imprensa operam em campos distintos, mas complementares. O jornalista é o guardião da esfera pública, enquanto o assessor e o adido são mediadores institucionais. A ética na comunicação não se mede apenas pelo canal utilizado, mas pela intenção, transparência e respeito aos papéis definidos.

A assessoria de imprensa, quando exercida com rigor e consciência institucional, não usurpa o papel do jornalista. Pelo contrário, complementa-o, oferecendo subsídios que devem ser tratados com liberdade editorial. É preciso compreender, como diria Traquina, que o jornalismo é uma construção social da realidade, e essa construção começa muitas vezes com dados recolhidos por profissionais da comunicação institucional.


26.02.2022.

quinta-feira, agosto 07, 2025

A COMUNICAÇÃO DA LIDERANÇA DA IECA (PRELEÇÃO)

 Provérbios 15:1: 

"A resposta calma desvia a fúria, mas a palavra ríspida desperta a ira".

Notas prévias

1.Pelas pesquisas que fiz, o Modelo de Comunicação da IECA assenta em três pilares: Evangelização, Educação e Acção Social, cuja ABORDAGEM se resume em alfabetização, saúde e agricultura (nas comunidades rurais) e direitos hiumanos.

2. Em Ciências de Comunicação, as acções e os gestos comunicam. A forma como fui recebido pelo Pastor Lutero e pela Pastora Natália acabaram por diluir todo o conteúdo que tinha preparado para partilhar convosco. Vou, tão somente, partilhar alguns tópicos e esperar que discutamos e encontremos meios-termos.

 Conceitos

a) Liderança é a capacidade de influenciar e guiar pessoas para alcançar objectivos comuns. Ela pode ser baseada em autoridade formal ou em influência natural, e envolve habilidades como visão estratégica, empatia e tomada de decisão.

 b) Liderança Religiosa vai além da gestão organizacional; ela envolve inspiração espiritual, orientação moral e serviço à comunidade. Um líder religioso deve equilibrar autoridade e humildade, promovendo valores como compaixão, justiça e fé.

 c) Comunicação é o processo de transmitir informações, ideias e sentimentos de forma clara e eficaz. Ela pode ser verbal, não verbal, escrita ou visual, e depende de factores como contexto, audiência e objectivo.

 d) Comunicação Religiosa tem um propósito especial: transmitir mensagens espirituais de forma acessível e inspiradora. Ela deve ser clara, respeitosa e adaptada ao público, utilizando linguagem que fortaleça a fé e promova a reflexão.

Técnicas de Comunicação Geral e Religiosa

- Escuta activa: Demonstrar interesse genuíno pelo interlocutor.

- Uso de metáforas e parábolas: Tornar conceitos espirituais mais compreensíveis.

- Adaptação ao público: Ajustar a linguagem conforme o nível de conhecimento e experiência dos ouvintes.

- Expressão corporal: Postura, gestos e contato visual reforçam a mensagem.

- Uso de tecnologia: Recursos audiovisuais podem tornar a comunicação mais envolvente.

 Como desenvolver uma Comunicação Assertiva e Eficaz na Igreja?

- Clareza na mensagem: Evitar ambiguidades e ser direto.

- Empatia: Compreender as necessidades e sentimentos dos ouvintes.

- Consistência: Manter coerência entre discurso e acções.

- Interacção: Incentivar perguntas e participação ativa.

- Feedback: Avaliar constantemente a recepção da mensagem e ajustar conforme necessário.

 O que Priorizar e o que Evitar para Comunicar Melhor?

Priorizar:

- Mensagens inspiradoras e edificantes.

- Linguagem acessível e respeitosa.

- Exemplos práticos e aplicáveis à vida cotidiana.

- Comunicação inclusiva e participativa.

Evitar:

- Uso excessivo de termos técnicos ou teológicos complexos.

- Comunicação autoritária ou impositiva.

- Falta de conexão emocional com o público.

- Mensagens contraditórias ou confusas.

 Como evitar o Efeito Boomerang na Comunicação?

 O efeito boomerang ocorre quando a mensagem tem o efeito contrário ao desejado. Para evitá-lo:

- Evite imposições: Prefira diálogo e persuasão em vez de ordens rígidas.

- Considere o contexto: Certifique-se de que a mensagem é apropriada para o momento e público.

- Evite julgamentos: Mensagens que parecem acusatórias podem afastar em vez de aproximar.

- Teste a recepção: Antes de divulgar amplamente, avalie como a mensagem é interpretada.

 

Muito obrigado e que Deus coninue a nos iluminar!

Luanda, 07.06.2025

sexta-feira, julho 25, 2025

OS GÊMEOS NA COSMOGONIA AFRICANA BANTU(ANGOLA)

CONSTRUCTO

Cosmogonia é o conjunto de narrativas, mitos ou crenças que explicam a origem do universo, da vida e das forças naturais. Nas tradições africanas bantu, especialmente em Angola, a cosmogonia está profundamente ligada à ancestralidade, à natureza e à espiritualidade, revelando-se em símbolos como os gêmeos, os montes, os rios e os nomes sagrados.
Na cosmogonia bantu, os gêmeos ocupam um lugar especial, sendo vistos como manifestações de equilíbrio, dualidade e força espiritual. Essa simbologia aparece em diversas línguas e culturas do território angolano:

Oshiwambo: Weyulu e Ndilokelwa ou Mandume e Hanyangha
Umbundu: Njamba e Ngeve
Kikongo: Nsimba e Nzuzi
Cokwe: Lweji e Cinguli ("Kinguli")
A título de analogia com outros territórios e cosmogonia africanas, na África Oriental, os gêmeos são chamados por Apiyo e Adongo, sendo Apiyo a primeira criança nascida de gêmeos e Adongo a segunda.

No território ancestral do Lubolu — hoje dividido em três circunscrições municipais — junto ao majestoso rio Kwanza, erguem-se dois montes imponentes: Kakulu nyi Kabasa, que personificam gêmeos na tradição local. A ancestralidade Ngola (Ambundu) passou a nomear os gêmeos como Kakulu e Kabasa.

Nem sempre os gêmeos nascem de sexos diferentes. Quando são do mesmo sexo, ainda assim recebem os nomes tradicionais: Kakulu e Kabasa. O filho que nasce logo após os gêmeos é chamado de: Kaxinda ou Fuxi Kimbundu; Kasinda (Umbundu) e Landu (Kikongo).

Na visão ambundu, Kakulu é considerado o primeiro a ver o sol, sendo o mais velho no imaginário tradicional — embora, segundo a ciência, seja o mais novo por nascer depois.

Essas designações revelam como os nomes africanos carregam significados profundos, conectando o indivíduo à sua linhagem, à natureza e ao mundo espiritual. Os gêmeos, em especial, são vistos como mensageiros, guardiões ou manifestações de forças cósmicas, e os filhos que os seguem também ocupam papéis simbólicos importantes.

sábado, junho 07, 2025

"QUE FALOU KIMBUNDU É ZINHA DOMINGO"

A escola era entre a aldeia de Mbango Yo'Teka e a aldeola de Kabombo. Um quarto, que restava da antiga residência do senhor Marques, colono português que àquelas terras fora degredado para fazer agricultura, servia de sala de aulas. O professor era Faustino Kisanga Bocado. Como o ensino era e é ainda em língua portuguesa e os nativos de Kuteka mantinham o contacto com a língua colonial apenas quando chegasse a idade escolar, o uso do Kimbundu (no recinto escolar e em casa) fora proibido para acelerar a aprendizagem da língua veicular em Angola.

Assim, aqueles que fossem ouvidos a glosar o Kimbundu, fosse na lavra, durante as pescarias (rapazes) ou recolha de lenhas (meninas) eram denunciadas, se não houvesse um bom pacto entre eles.
Alguns pediam aos outros tréguas ao uso do português e todos, mas todos mesmos, se comunicavam na língua materna, inibindo qualquer traição ao professor Bocado. Sorte semelhante não teve a Zinha. Eram duas meninas homónimas na sala improvisada da pré-kabunga que recebia as lições debaixo da frondosa mulembeira.
_ Camá, prossor, ontem Zinha falou Kimbundu. - Denunciou Kephele.
O professor olhava para a Zinha Miguel, a mais dada a violar a regra "Kimbundu zero", imposta a todos os alunos.
_ É mentira, camá prossor, eu não fali kimbundu. Que falou Kimbundu é Zinha Domingo. Falou assim, "mbomba mu hondja Ùwabe"! [banana com bombó é saborosa!]
E assim ficou registado. Passam quase cinquenta anos. Sempre que se alude à proibição do uso do Kimbundu na escola ou ao mau português usado pelos meninos que frequentam a escola, surge essa cena contada de bica em boca e de geração em geração.

_ Mbomba mu hondja ùwabe!

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Publicado no Jornal Litoral a 25 de Maio de 2025

sexta-feira, maio 02, 2025

MEMÓRIAS DE KUTEKA E PEDRA ESCRITA

A 25 de Janeiro de 2025, cruzei, próximo da aldeia de Pedra Escrita, com uma parente que não conhecia. É neta ou bisneta do "Velo Xingwenda" [Velho Cinquenta], parente da minha mãe. 

Quando me foi apresentada pelo mano Gonçalves Manuel Carlos, recorremos à árvore genealógica para nos situarmos e, mesmo nunca me ter visto antes, quando se apercebeu que eu era filho da "avó Maria Canhanga", começou a recitar uma música dos tempos de xilimina [folguedos dos anos 90 do século XX] e que fazia alusão a mim.

"Kajila bera mwititu twazeketu (3x)"[Passarinho diga, vamos pernoitar no ninho].

Em menos de 3 meses, na aldeia de Mbango yo'Teka, foquei imortalizado e recordado por pessoas que nasceram décadas depois de eu ter por lá passado, de Janeiro a Março de 1990, fugido da Unita que me correra de Kalulu e, semana depois, da aldeia de Pedra Escrita.

A jovem, parecendo minha mais velha (eu cinquentão e ela na casa de 30), lavava roupa, depois de ter preparado e posto a secar o bombó à beira da EN120. 

Eu, o mano Gonçalves, o Nelo e Páscoa fomos colher canas. A caminho da "kitaka" [horta] vi duas árvores que, na minha terra, atraem borboletas que nelas nidificam, surgindo, depois, os "mabuka" ou "katatu": uma é "munzaza" e outra, de folhas alargadas e em formato de coração dobrado em duas lâminas, é "ndolo".

Veio-me à mente outra canção do "xilimina" dos anos noventa:

"Moça mu kyaña ndolo, moça mu kyaña ndolo, mu kyaña ndolo we sosó lyamutema bwengi" [a moça, de tanto colher e usar lenha de ndolo, a fagulha atingiu-lhe a zona nevrálgica"]. Na verdade, a palavra, aqui convertida em "nevrálgica" é um impropério. Só os jovens embriagados de kapuka ou lyambados cantavam essa versão ao lado de adultos. O dislate era sempre substituído por um termo não agressivo.

Naquele tempo das rusgas e raptos [rusgas de jovens abrangidos ou não para o serviço militar obrigatório e raptos da Unita], o que se cantava era a saudade dos que tinham partido e que deles não se tinha notícias e a reinvenção das vidas para enfrentar os dias duros de futuro imprevisível. E assim, enquanto se metaforizava nas canções como "sambwa li sambwa obuji yatena moye" [entre duas elevações/lados o obus atingiu uma palmeira], também se cantava a saudade dos que tinham sido levados pela sorte madrasta e dizia-se "Kisasa kumbi otoka, bukanga twazeketu" [Quando Kisasa regressar vamos pernoitar fora de casa, a conversar, cantar e contar coisas nossas].

As letras eram curtas e repetitivas, mas com sentido e alcance muito longos.

"Bwahila Toy inyungu ibiloka!" [Onde morreu o Toy os abutres estão às voltas para debicar os seus restos]. 

Debois de kitotas, a presença de abutres em algum lugar era indicador da existência, por perto, de um cadáver (humano ou de outro animal qualquer).

Os inválidos, os envergonhados, os tímidos e toda a sociedade, individual ou colectivamente, também eram "personagens" das letras das canções que, muitas vezes, mudavam apenas a estória, mantendo a melodia e o tilintar do tambor e do bujão. "Nange, nange, Xoxombo wombela, wombela, Xoxombo nange, nange katé okyo wombela" [De tanta solidão, causada pela timidez em desfiar o rosário a uma jovem, Xoxombo teve de recorrer ao estupro].

Assim era o cancioneiro popular com história e estórias fundadas no longo percurso da sociedade e nos anseios transformadores do amanhã.

sexta-feira, abril 25, 2025

"A FALTA DE MOTIVAÇÃO E O IMPACTO NOS COLABORADORES" AOS OLHOS DE LÍZIA HENRIQUE

DALAI LAMA UMA VEZ DISSE “TODA ACÇÃO HUMANA, QUER SE TORNE POSITIVA OU NEGATIVA, PRECISA DEPENDER DE MOTIVAÇÃO”

Boa tarde a todos,

É com enorme prazer que vos dou as boas-vindas a esta sessão tão especial de lançamento do livro A FALTA DE MOTIVAÇÃO E O IMPACTO NOS COLABORADORES- UM ESTUDO DE CASO NO MINISTÉRIO DE GEOLOGIA E MINAS, uma obra que promete marcar não só os leitores, mas também o panorama literário nacional.

Hoje, temos a honra de contar com a presença do seu autor, Soberano Kanyanga, uma figura que se destaca pela sua sensibilidade, dedicação à escrita e pela forma como consegue transformar palavras em emoções vivas.

Luciano Canhanga |Soberano Kanyanga| tem vindo a construir um percurso notável, seja através da sua escrita envolvente, bem como da sua capacidade de observação da realidade.

Este, sempre esteve ligado ao jornalismo e comunicação institucional, mas foi nas vestes de Director de Recursos Humanos que se viu digamos, "forçado” a imergir nos desafios que encontrou no então Ministério de Geologia e Minas, quando convidado a dirigir o GRH, após colaboração em uma empresa extractiva (a Sociedade Mineira de Catoca)

Eventualmente, você pergunte: Que desafios encontrou?

 Meus senhores e minhas Senhoras estes desafios encontram-se no livro!

O livro em destaque, aborda um tema crucial para o desempenho organizacional, especialmente no contexto do funcionalismo público angolano.  

Este livro representa não apenas uma contribuição valiosa para o campo de Recursos Humanos, mas também um testemunho do rigor, da dedicação e da paixão que o autor deposita no seu trabalho. Ao longo das suas páginas, somos guiados por uma análise profunda, sustentada em investigação atualizada, metodologias sólidas e um espírito crítico exemplar.

A pesquisa realizada revela, que a falta de motivação é um dos principais factores que impactam negativamente o desempenho dos colaboradores, sendo um desafio significativo para a gestão de actividades no setor público.

Na referida pesquisa o autor utilizou métodos quantitativos e qualitativos, incluindo questionários aplicados a setenta funcionários, a fim de explorar as causas e consequências da desmotivação no então Ministério de Geologia e Minas.

O estudo, realizado no Ministério de Geologia e Minas, identifica que a ausência de políticas e acções voltadas à motivação, como o reconhecimento, a remuneração adequada e incentivos como o seguro de saúde e a formação, contribui para a desmotivação dos funcionários, cujos resultados negativos para a organização todos os gestores conhecem.

Entre as conclusões, destaca-se o facto de a motivação estar diretamente ligada à recompensa e ao estilo de liderança, e que as variáveis sociodemográficas influenciam os resultados. É ainda sugerido, que as lideranças devem repensar as suas práticas para melhorar o ambiente organizacional e a valorização dos colaboradores.

Para além do rico conteúdo, que é uma nítida fotografia dos desafios com que se debatem muitas das instituições públicas, para não dizer todas, o autor procurou, igualmente, preservar a história de um colectivo de colaboradores que cada um ao seu nível, procuraram prestar um serviço público digno e humanizado.

Hoje, infelizmente, não podemos dizer à nova geração que no Largo António Jacinto (conhecido como largo dos Ministérios) existiu um edifício que atendeu os Serviços de Geologia e Minas e, posteriormente, o Ministério de Geologia e Minas, pois este edifício (mostrar a contracapa) já não existe.

Termino com um sincero agradecimento a Luciano Canhanga, não só pela obra que hoje nos apresenta, mas também pelo contributo inestimável que tem dado ao desenvolvimento do conhecimento.

Convido agora o autor a partilhar connosco um pouco do seu processo criativo, das motivações por detrás deste livro e, claro, do que podemos esperar ao mergulhar nesta leitura.                  

Muito obrigado a todos pela presença.

Lízia Henrique

Em Luanda, aos 24 de Abril de 2025.