Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, novembro 15, 2017

ESTÓRIAS DO MUSEXI E KANZANGIRI

Musexi é o nome do rio que se "corta" antes de se atingir a "loja do Ferreira", sentido EN 240 Munenga/Kalulu.
 
Já andei à pesca pelo rio Musexi com o finado Toy Kanzunona e o Segunda Kabengo, ambos meus sobrinhos de maior idade.
 
Uma vez, em 1983, à faina, deixei escapar um bagre de tão grande e escorregadio que era. Ouvi, daqueles dois "mais velhos" algo que uma criança de hoje não aturaria sem largar um desabafo malicioso. Engoli, em seco, todas as críticas que eram próprias de quem procurava por que levar ao estómago, num período de muitas carências em termos, sobretudo, de "conduto".  
 
Voltei a atravessar o Musexi, a montante, indo ao Kanzangiri (montanha) onde ficavam as lavras e refúgio dos aldeões da Munenga, nos tempos mais negros da guerra civil, em finais da década de oitenta do século XX. Os aldeões, jovens sobretudo, podiam passar a manhã e o dia na aldeia de Munenga mas, às noites, era para Kanzangiri (montanha à esquerda, sentido Munega-Kalulu) que todos os caminhos apontavam.
 
Ngunji é outro rio que tangencia o vilarejo de Munenga. Quem vai à administração comunal, atravessa-o junto à antiga cerâmica gerida por Manuel Cunha no pós-independências. O Ngunji não tinha, à data destas observações/memórias, muito peixe e o seu caudal era menor do que o do Musexi, mesmo no tempo chuvoso. O Ngunji nasce na montanha que se acha à direita da estrada Munenga-Kalulu. É por aquelas bandas onde a minha prima Sofia Kayela fazia a sua lavoura. Sempre que fosse à Munenga e não encontrasse pessoas na aldeia, ia às proximidades da nascente do Ngunji ou ao Kanzangiri. Mas as margens agricultáveis do Mukonga, cheios de palmares e suculentas laranjas em tempo próprio, eram outro possível destino, trilhando a picada dos "Cabral" que mais à nascente do sol haviam instalado uma fabriqueta de sabão, à base do óleo de coconote e soda cáustica.


Publicado no jornal Nova Gazeta de 07/12/17
 

Sem comentários: