O Processo cognitivo é um conjunto de factores
sociais, que vão dos informais aos formais, a que alguns teóricos acrescentam
outros de ordem biológica ou genética. A família (restrita e alargada) a
comunidade e os grupos sociais são os primeiros intervenientes no processo
cognitivo do ser humano, sendo que no caso da civilização bantu, a oralidade é
a via mais expedita para a transmissão de conhecimentos e valores.
Uma das cadeiras da minha primeira instituição de ensino,
o Jango, consistia na formulação de perguntas e respostas.
Para além dos mais velhos, os depositários do
conhecimento, havia ainda os monitores, senhores e jovens já amancebados ou
não, com alguma experiência de vida, conhecimentos comunitários, sociais,
antropológicos e históricos que cobriam as ausências do mestre e o auxiliavam
na missão de formar os novos seres (masculinos): cantando e ensinando novas
canções, contando lendas, estórias e História, explicando aos jovens a ordem
social, as árvores genealógicas (paterna e materna), etc. A oralidade era (e é
onde a escola moderna convive com a tradicional) a via principal.
Adivinhas e respostas, anedotas, aforismos,
adágios e seus sentidos lógicos (pedagógicos), interpretação do tempo (o senso
comum também esboça explicações sobre a astrologia e meteorologia) faziam parte
do conteúdo programático do Jango.
-
Kandundulu bwo!
- Mu museke oxeyenamo?!
Vemos aqui um caso “curioso”(?) em que uma
afirmação exclamativa é argumentada com uma pergunta/resposta. Ilógico no
pensamento europeu mas lógico no raciocínio bantu (povos ambundu da variante
Kibala, Lubolu), na medida em que a pergunta/resposta quer dizer somente que
“depois da defecação, não se poder limpar o ânus arrastando as nádegas na
areia”.
Em “a yaya a yatoka!” (uns vão outros
vêm), uma adivinha que na acepção do pensamento linear europeu pode ter vários
significados, obtemos como resposta “ombundu” (as nuvens).
Fazendo uma adaptação aportuguesada dum aforismo ovimbundu,
que me chegou por via do meu confrade Daniel Gociante Patissa, “só à arena é que não íamos, mas o som da
música sempre nos chegou ao ouvido”. Embora as nossas línguas bantu não
tivessem alfabetos estruturados e conhecidos, até há poucas décadas, conhecimentos sempre tivemos e sempre foram
transmitimos por via da oralidade.
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