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quinta-feira, fevereiro 04, 2021

KATALAMBA

 WATUNGU KUKUNDA KWENGANGA WOBATA!

(Literalmente: quem constroi  atrás seguiu a Kinganga): o aforismo kibala-lubolense reporta-se, entre outros, a uma vertente do crescimento populacional das aldeias kwanza-sulinas.

A genesis das aldeias rurais tem como base o núcleo familiar. Regra geral, um emigrante em busca de terra fértil, pasto, faina ou paz espiritual depois de atritos na aldeia de origem, constitui uma nova comunidade residencial. 

Esse patriarca, com seus filhos, esposas e sobrinhos, funda a aldeola que, com o tempo, cresce (à medida que os filhos e sobrinhos forem constituindo famílias e atrairem outros parentes e amigos para o novo conglomerado habitacional.

A relacão consanguínea faz com que os casamentos dos constituintes, regra geral, se façam com pessoas de outras aldeias próximas e/ou distantes que não sejam de mesma linhagem. 

Surge aqui a figura de katalamba¹ que é incontornável num kixobo².

Parente e ou amigo/a do casal, o/a katalamba é o/a emissário/a do noivo que, no dia do kixobo, se mete a caminho da aldeia de da noiva, levando-a, em companhia da tia desta ou outra representante de sua família, à casa do noivo.

Pelo caminho, mostra-lhe e conta-lhe estórias e história sobre os hábitos e costumes da sua família , sobre os rios, coutadas, bens físicos  e espirituais, permissões e proibições, famílias amigas e inimigas, entre outros aspectos de vida familiar e comunitária. 

A/o katalamba é geralmente bem recebido em casa da nubente e tratado como interlocutor válido/a do seu representado.

Há outros ritos de baixa variabilidade de aldeia em aldeia que, regra regal, consistem em entornar um pouco de kisângwa³ e óleo de palma em cada entroncamento, representando o manifesto de paz com todos quantos trilharam e venham a trilhar aquele  caminho e fartura à nova família.

Terminada a cerimônia matricial, uma noite dançante, com fartura em funji de carne, regada com makyakya⁴ e wala⁵, algumas peças do enxoval da noiva são entregues como lembrança a/o katalamba, como prato, garfo, faca, copo e outros possíveis objectos.

O autor desta crônicas foi katalamba no kixobo de Rosa José, em 1996, em Luanda, tendo recebido como lembranças: um prato, garfo, faca, colher  e copo de vidro.


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1- Emissário/a do noivo.

2- Cerimônia matrimonial.

3- Sumo feito de farinha de milho e adocicado com seiva de uma raiz designada por muxiri ou mbundi (Umbundu).

4- Destilado alcoólico também designado por kaporroto.

5- O mesmo que kisângwa. Garapa.

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