Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, setembro 02, 2020

AO ENCONTRO DE "PLATÃO DA KIBALA"

Uma dúvida colocada por um amigo quanto à denominação dos meses e o início do ano na cosmogonia batu (realce aos ambundu, ovimbundu, tucokwe e bakongo) que eu defendia ser Setembro o 1° mês e ele Janeiro (como na Europa) fez-me desviar a rota do trabalho e ir ao encontro do Rev° Gabriel Vinte e Cinco.
Para mim, ale associa o conhecimento natural, ganho pela experiência, indagação permanente e busca de respostas (transmitido pela oralidade por seus mais velhos) e o conhecimento científico-acadêmico, sendo, por isso (minha apreciação), uma PONTE entre os detentores do saber consuetudinário e do positivo (cientifico). É uma pessoa que tem conhecimentos e conselhos para todas as idades e tipos de organização intelecto-racional.

Bem podia caracterizá-lo de "Sócrates", porém, o maior filósofo helênico não deixou obra escrita, sendo a sua escola e magistério conhecidos por meio de PLATÃO, seu discípulo.
Gabriel Vinte e Cinco tem livros publicados sobre o Kwanza-Sul e Metodismo Unido em Angola. É, por isso, o meu Platão da Kibala.

O mestre confirmou que Setembro é para os Kibala, povos sedentários originários do Ndongo e que habitam o centro do Kwanza-Sul, o 1° mês do ano.
Abaixo os nomes, a começar pelo correspondente a Setembro (mês do início da chuva e campanha agrícola):
1- Kamoxi (Setembro do calendário gregoriano)
2- Kakyadi
3- Katatu
4- Kawana
5- Katano
6- Kas(s)amano
7-Kas(s)ambewa
8- Kanake
9- Kava
10- Kakwi/Kakunyi
11- Kuthu-Kathulu
12- Kithulumune (Agosto)

Já a terminar, quando a conversa bem encarrilada parecia não ter fim, contrariamente ao relógio que caminhava apressado, o mais velho (Platão da Kibala) falou sobre os jovens que querem saber tudo num único instante, sem estimular a abertura da "biblioteca".

- Para cortar a barba de um idoso é preciso jeito. Os jovens têm de ter paciência em procurar pelos mais velhos, estimulá-los à conversa, e evitarem vir com perguntas para responder de forma apressada. É preciso sentar, contar mahezu* e conversar. - Assinalou, ao mesmo tempo que agradecia o empenho deste articulista na recolha e divulgação de "sentimentos, conhecimentos e fazeres do nosso povo".

* Conversa introdutória, semelhante a yala nkuhu (Kikongo). Nela, cada parte faz uma revista sobre o estado de saúde, o motivo da viagem/visita e os últimos acontecimentos de cada parte.


Sem comentários: