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sábado, fevereiro 01, 2014

KWANZA-SUL OU CUANZA-SUL?

Em conversa no chat do face book, o meu amigo Isidoro Natalício colocou-me a questão da grafia dos nomes de origem bantu (topónimos e antropónimos). Referia-se o amigo Isidoro que a TPA tem-nos escrito de forma diferente àquela que eu uso na grafia dos "nossos" nomes.

Tendo em conta a importância do assunto, ainda que o debate e as conclusões sejam superficiais, julguei oportuno partilhar as ideias que defendi nesta página que é menos volátil ao tempo.
 
1º - Os topónimos obedecem, para além da atribuição da designação, a um registo. Esse registo é válido até que o topónimo mude de designação ou se corrija a grafia. Para exemplificar, devo dizer que nos cadastros, a província angolana a sul do rio Kwanza está registada "erroneamente" como "Cuanza-Sul" em vez do que seria expectável, Kwanza-Sul. O mesmo se pode aplicar ao meu nome, Canhanga, que devia grafar-se Kanhanga para obedecer ao alfabeto convencionado pelo CICIBA (Centro de Investigação das Civilizações Bantu), combinado com a Resolução 3/87 de 23 de Maio, do Conselho da Revolução. 
 
2º - As regras do CICIBA para a ortografia das línguas bantu diz que a letra C tem o fonema equivalente ao dígrafo Tx e ainda pelos grupos consonânticos TCH e TSH. Exemplos: Cikala-Cyolohanga, Cindjendje, Citembu, Civingiru, Citende Cya Zango, Cipalavela, etc.

Sempre que as vogais I e U estejam  junto de outras, as primeiras devem mudar para Y e W. Exemplo: "muanha" (sol) deve grafar-se correctamente "mwanha); "diniangua" (abóbora) deve grafar-se "dinyangwa"; "kizua"=kizwa, etc. 

Para obtermos o fonema equivalente em Português a "C" devemos grafar "K". Kanhanga, Kambundi-Katembu, Kalulu, Kahála.
 
Não sou telespectador atento da TPA e não sei dizer se grafam de acordo aos registos portugueses ou se de acordo ao alfabeto das língua bantu. De uma coisa, porém, tenho certeza: É preciso corrigir urgentemente os registos dos nossos topónimos (calculo que o MAT- Ministério da Administração do Território-  tenha já um projecto nesse sentido) e passar-se a exigir que haja uma grafia correcta dos topónimos de origem bantu.

Não se pode aceitar que a nossa moeda seja Kwanza e o rio que lhe dá o nome ainda se designe Cuanza. O que se passa hoje é que não há rigor. Cada escreve como bem entende. Eu que sou adepto da grafia segundo a originalidade dos nomes, tenho grafado como será no futuro. Para o presente, pode ser que alguém considere o meu procedimento errado.

Obs: 
A 30.01.2014 tive acesso ao documento "Divisão Política Administrativa e Topínímia de Angola", elaborado pela Direcção Nacional de Organização do Território. O mesmo retoma apenas os "baptismos" coloniais e não propõe alterações à redação dos topónimos de origem bantu.

Vim ainda a saber, de um amigo internauta (comentários ao artigo publicado no Club-K), que o MAT remeteu essa lista aos Órgãos de Comunicação Social, públicos e privados que, de imediato, passaram a grafar os topónimos angolanos segundo os cadastros coloniais.
A título de exemplo, a minha circunscrição natal, Munenga, é condificada como: MUNENGA, COMUNA DO LIBOLO, CUANZA SUL (AOCS70 60 02).
      AOCS070602
-Munenga

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