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sexta-feira, janeiro 01, 2016

FAZER DA CRISE UMA OPORTUNIDADE DE MELHORIA

(MAHEZU 1)
A vida das pessoas e das organizações é caracterizada por um trajecto curvilíneo, com altos e baixos. Nos momentos altos dos nossos rendimentos e usufruto tendemos a atingir o ponto de acomodação e elaboramos a nossa estrutura de custos em função dos rendimentos, sendo, às vezes, menos atentos à poupança e a investimentos para suprir as dificuldades dos tempos de crise. Até as ideias inovadoras nem sempre surgem PORQUE ATINGIMOS A ZONA DE CONFORTO. Mas, porque a vida é um ciclo com subidas e quedas, é no momento da pressão financeira, da falta de meios e de fontes de arrecadação e da crise que surgem os "ais" e os grandes homens, aqueles que fazem do mar de dificuldades oportunidades de melhoria e de exploração de novas soluções e uso de meios e técnicas legais até à data inimagináveis ou relegados a planos secundários.
Fruto da diminuição dos encaixes em moeda estrangeira pelo país, derivada pela baixa do preço do petróleo, uma commodity cujo valor é regulado  pelo mercado internacional, o Estado e as organizações empresariais vivem uma pressão financeira com origem externa. O equilíbrio da nossa balança de pagamentos externos para a aquisição de alimentos, medicamentos, máquinas, vestuários, produtos e serviços diversos não proporcionados pelo mercado interno demandam moeda estrangeira. Não sendo muito diversificada a nossa carteira de exportações, há toda uma necessidade de se pouparem os poucos dólares que entram e diminuir os consumos. É isso que faz até o Kwanza escassear. Perante o quadro, é importante racionalizar ao máximo, evitar também ao máximo todos os desperdícios, aumentar a produção e a eficácia e eficiência dos métodos. Os meios de trabalho e os materiais devem ser rentabilizados ao máximo, evitando-se a ociosidade. Para quê ter, por exemplo, em uso privado uma viatura que durante a jornada laboral fica mais de 50% do tempo parada quando uma outra pertencente ao Departamento vizinho fica o mesmo tempo ociosa? Se os dois Departamentos usarem uma só viatura, de forma coordenada, estarão a rentabilizar melhor o meio de trabalho e o tempo.
Vários outros exemplos podem ser elencados. Na era da digitalização, a tramitação de documentos, a redundância de cópias em papel precisa ser revista. Diminuir a impressão e optar pela digitalização pode ser outra oportunidade de capturas financeiras em termos de custos (papel e tonel).
E que tal da rentabilização das pessoas e do seu desempenho? Mais do que estar no local de serviço, o fundamental é trabalhar, evitar o absentismo, a lassidão e a ociosidade. Porém, é preciso cuidar da presença das pessoas cuja prestação e resultados não possam ser executados à distância. O controlo rigoroso das frequências torna-se fundamental para incutir uma cultura de disciplina,  responsabilidade e de meritocracia. O controlo de frequências centralizado ou biométrico é apontado como caminho. É preciso premiar os presentes e produtivos com o salário completo e outras regalias ou incentivos que possam existir. E se é legal e moralmente aceitável que quem mais trabalhe melhor seja recompensado, não será injusto isentar os faltosos e improdutivos com a inadiplência a alguns incentivos que as organizações tenham ou venham a ter.
É preciso que líderes e liderados encaremos a crise como um desafio a vencer e uma oportunidade de melhoria dos nossos processos, retirando dela as melhores lições para o aperfeiçoamento dos nossos métodos de gestão (caseira e  institucional).
Dita a tradição bantu que "é na pobreza e nas desgraças que as pessoas mais se unem". Façamos desta crise financeira um motivo de união, na busca das melhores ideias que nos levem às melhores soluções, busca de um maior comprometimento  com a organização e com o  trabalho para que, enquanto menos se espera, possamos cantar bem alto: fui parte da solução!
É que "os desafios e os problemas nos são impostos" mas as soluções dependem de nós.

domingo, dezembro 20, 2015

UMA PARAGEM NA PEDRA ESCRITA DO LIBOLO

Reza a história (recurso à combinação entre oralidade e vestígios de escrita) que um mestiço cabo-verdiano entendeu construir uma pousada na rota entre Dondo e Kibala, estrada nacional 120. E fê-lo exactamente a quatro quilómetros do rio Longa que separa os municípios do Libolo e Kibala. O ano da construção está perdido na memória, mas ainda por aí estão os que participaram da construção do imóvel, cuja parte frontal foi poupada pela guerra. Dizem ter sido nos anos sessenta do século XX.

Olímpio de seu nome, assim também se chama(va) o seu herdeiro que dirigiu a pousada nos anos oitenta e noventa do século passado, entendeu publicitar o seu investimento e escolheu a maior pedra daquele troço.

A dez quilómetros de Lususu, onde ergueu a pousada, encontrou uma grande pedra, do lado esquerdo de quem trafega no sentido Dondo-Kibala. Com audácia e engenho, os homens pegaram em tinta e pincéis e gravaram a meio do pedregulho que deve medir uns trinta ou mais metros de altura:
“Lussusso
Estalagem Boa Viagem”

De lá para cá, quer a pedra quer a aldeia que emergiu nas redondezas do já quase monumento, nos anos oitenta, são tratados por “Pedra Escrita”.

A estalagem de que só resta a parte do restaurante, pois os aposentos traseiros não foram poupados pela acção devastadora do tempo e sabotagem casada com a guerra civil, é conhecida por “Bar do Olímpio”.
O bar do Olímpio é o único ainda intacto e em funcionamento em Lussusso, dos três que existiam nos anos 80 do século XX, nomeadamente: Bar do Falção e Bar do Miguel Neto.

domingo, novembro 01, 2015

GERINDO HOMENS E RECICLANDO VASSOURAS

Geralmente, as pessoas chegam às organizações empresariais super motivadas, mesmo não ganhando tanto quanto gostariam ou tanto quanto a sua carteira de custos demanda. Estão motivadas porque ocorre-lhes mostrar o que sabem, aprender o que lhes falta e encarnar o ADN ou cultura da organização. Mostram-se propensos a fazer mais do que aquilo que deles se espera ou se lhes exige, sendo por isso tratados na gíria das organizações como "vassouras novas".
Sempre que numa organização as coisas estagnaram em relação ao desempenho do Capital Humano, a primeira ideia da gerência vai para a contratação de um novo integrante, com provas dadas e super motivado para reforçar e oxigenar a equipa em aparente apatia. É a chamada "vassoura nova" que varre tudo quanto seja trabalho que lhe seja delegado. Comumente, os novos integrantes, por desconhecerem ainda a casa, surgem sem grandes vícios de absentismo laboral e, por conseguinte, não se entregam à ociosidade.
Quem nunca passou por essa experiência na condição de novo reforço de uma equipa ou, na qualidade de Gestor, recorrendo à contratação de uma "vassoura nova"? Mesmo nos nossos domicílios, costuma-se dizer, e com dose de razão, que "uma nova vassoura varre melhor". Porém, mais prudente será aquele que fizer o reaproveitamento inteligente de todas as vassouras antigas que tiver. Trocando os cabos, invertendo as bases, reforçando os palitos naquelas em que a moldura se apresente vazia, etc. Assim também é na Gestão de Pessoas.
Com o tempo, a ausência ou atraso na progressão de carreira, o incumprimento da expectativa inicial quanto ao incremento da remuneração,  a falta de respeito pelo seu trabalho e, às vezes, a falta de consideração por parte das lideranças e dos integrantes da equipa, acabam desmoronando todo aquele edifício motivacional, caindo na rotina e acomodando-se na zona de conforto. Tal como nos nossos domicílios, a "vassoura nova" se junta as antigas e reforça o exército das que pouco ou nada fazem em prol da organização.
Se o causa da apatia do Capital Humano tiver que ver com desajustes institucionais e não meramente com a acomodação na zona de conforto, a "nova vassoura" começa a funcionar tal qual varrem as outras: a trabalhar com brechas, com falta de atenção, com falta de precisão e desatenção ao tempo de entrega dos produtos e ou serviços, prejudicando os prazos do patrão ou da liderança. O descontentamento, a desmotivação, e espírito de deixa andar ou deixa fazer e outros comportamentos negativos começam a invadir a sua mente.
- Já fiz a minha parte. Fiz o máximo. Pensei e inovei o quanto pude. Agora que venham outros! – Diz-se vezes sem conta nas instituições. Pessoas jovens, muitas vezes, se entregam ao desleixo de nada fazer. Gastam dinheiro nos transportes para ir e voltar do local se serviço, deixam filhos e família manhã cedo e regressam à noite, com o pretexto de que vão trabalhar, quando as oito horas diárias são passadas no trabalho e não a trabalhar.
Nesse estágio, quando os casos se generalizam, há que se fazer um diagnóstico sobre a situação geral e conter ou mitigar as causas.
Já se sabe que não é destruindo todas as penelas velhas e comprando outras substitutas que se obtém a boa comida, pois o tucokwe (povos do leste e nordeste de Angola) dizem, e bem, que "doho ikulu ikateleka kulya cipema!" (A panela velha faz boa comida!).
Como fazer da "vassoura velha", aquela que limpa com brechas, uma "vassoura renovada" e que se renove todos os dias?
Não sendo esse exercício um ensaio científico e com suficiente suporte bibliográfico, mas baseado tão somente na experiência que o autor vai acumulando, eis algumas dicas:
- Formação e capacitação do Capital Humano (quer seja on job ou fora do local de serviço): cursos de especialização, formação académica, palestras seminários, conferências e outros eventos correlacionados podem servir de balões oxigenadores.
- Política de Incentivos e Recompensas: Instituir uma jornada que seja por objectivos e resultados e não por mera presença física. Há quem é assíduo e pontual mas que não produz  como haverá gente sem assiduidade, nem pontualidade que produza mais. Distribuindo tarefas concretas, objectivos e metas bem delineadas pode ser um caminho. De seguida, serão (re)compensados aqueles que venham a superar as metas, o que incentiva os demais a seguirem-lhes o exemplo. Quem mais produz deve ganhar mais. E, retenha-se o ganhar mais nem sempre se deve traduzir em dinheiro. Há muitas formas de motivar ou recompensar as pessoas. Elogios em público (criticas em privado), um novo meio de trabalho, beneficiar de viagem de serviço, participar de uma reunião em que apenas os líderes fazem parte, representar a organização em eventos, são pequenos gestos e acções que podem motivar e galvanizar o Capital Humano para mais empenho e chamar os outro ao bom exemplo.
- Rotação e ajustamento em novas tarefas (mobilidade interna): o curso do tempo de trabalho numa organização leva as pessoas a terem novas preferências em termos de tarefas. Há ainda aqueles que ganham novas habilidades. Torna-se, por isso, importante estar-se atento a isso. Quem beneficiou de uma nova formação on job, distinta da inicial, procurará implementar o seu novo conhecimento. O mesmo se dirá em relação a quem tenha concluído um novo ciclo académico ou tenha uma nova formação distinta daquela que possuía quando foi recrutado. Daí a necessidade do estudo da composição do capital humano da organização, de tempo em tempo, para aferir as principais mudanças ocorridas e fazer os ajustamentos pertinentes. Toda a mobilidade, mesmo interna, redundará sempre em vassouras novas ou vassouras renovadas que devem ser cuidadas e com energias renovadas  para que nunca percam o vigor e o bem fazer.
Sendo o Capital Humano dotado de uma complexidade psíquica e intelectual, geri-lo é das tarefas mais difíceis, exigindo a interdisciplinaridade e a participação de todos os Gestores da Organização. É, destarte, a Gestão de Recursos Humanos ou Capital Humano uma tarefa transversal a toda a Organização e não apenas da área encarregue de gerir os processos administrativos de Recursos Humanos.

quinta-feira, outubro 01, 2015

HOMÓNIMAS EM KIMBUNDU


Divagando em Kimbundu, "língua dos meus papás, "que não devo esquecer"!

Kuzola:
a) verbo intransitivo equivalente em português a rir.
b) verbo transitivo directo equivalente a gostar/amar.




- Ngala utala ngo mathu ala uzola/ Ima wala uzwela ya bolo. Ngandala kuzola.
 > Assisto apenas as pessoas a rirem. As coisas que dizes não prestam. Dá-me vontade de rir/quero rir.
...
- Kalumba yo nga muzolo kyavulu.
> Gosto/amo muito (d)aquela moça/rapariga.

- Kuzola kituxi.
> Amar/gostar é pecado/crime.

terça-feira, setembro 01, 2015

EM KIMBUNDU TB NOS ENTENDEMOS III

Na Língua bantu Kimbundu, todos os verbos na forma infinitiva começam invariavelmente pelo prefixo "ku", correspondente ao "to" do inglês: (to be, to see, to love).
Temos assim, em Kimbundu: kulesa (lamber), kwenda (andar), kukamba nguzu (fraquejar), kwya (ir), kwiza (vir), kubiluka (virar), kuxaxata (apalpar), kudilonga (aprender), kufuta (pagar), kukema (gemer), kudya (comer), etc.

 Fonte: Adaptado do tipografado de MULELE, S/D.

sábado, agosto 01, 2015

EM KIMBUNDU TAMBÉM NOS ENTENDEMOS II

No seu "Manual de aprendizagem de Kimbundu"*, sem data, que me chegou às mãos em 1993, MULELE, diz que os substantivos comuns, em Kimbundo, subdividem-se em seis classes que fazem o singular e plural de forma distinta.
Ei-los, seguidos de exemplos nos dois números.
1ª- classe: mu-a (muthu-athu)- pessoa
2ª- classe: mu-mi (mundele-mindele) - branco
3ª- classe: ki-i (kima- ima; kyama-yama)- coisa; animal
4ª- classe: di-ma (dibengu-mabengu) - ratazana
5ª- classe: i-ji (ingo-jingo) - onça
6ª- classe: ka-tu (kambonga-tumbonga) - criança.
Nota: nesta obra, que suponho anterior ao alfabeto convencionado pelo Instituto de Linguas Nacionais, em 1984, o autor já usa K em vez que Q embora não transforme "U em W" e "I em Y" quando essas vogais se encontrem diante das demais vogais "a, e, i, o, u".
O autor explica ainda que "G", antes de "E e I", terá sempre o som de "gue". Os sons portugueses equivalentes ao "ch" são representados pela letra "X".


* título de minha autoria pois o dactilografado de Mulele não apresenta a capa.

quarta-feira, julho 15, 2015

A REALIZAÇÃO DO PRONOME REFLEXO EM LÍNGUAS COMO KIMBUNDU E UKOKWE


Estive a fazer um pequeno estudo comparado entre o Kimbundu e Ucokwe, línguas faladas em Angola (oeste e leste).
Quando perguntei às minhas turmas de L. Portuguesa (uma da Universidade Lueji A Nkonde e três do Inst. Sup. Polit. Lusíada da Lunda Sul) como traduzir para Português as expressões em Ucokwe "mukwatenu, mulambenu e mulilenu", as respostas dos estudantes falantes de Ucokwe foram: lhe agarram, lhe batem, lhe chorem.

As expressões bantu acima mencionadas pouco diferem do Kimbundu "mukwatenu, mubetenu e mudilenu ou murilenu" (agarrem-no, batam-no e chorem-no".
Em Kimbundu e Ucokwe, a pronominalização é realizada pela anteposição do pronome que se torna prefixo do verbo.
Assim: dá-lhe é, em Kimbundu "mubane". Ngwece (pronuncia-se nguetche) é largue-me/larga-me em Ucokwe.
=
Em termos de uso do pronome oblíquo “lhe” na pronominalização, é míster assinalar que ele substitui o complemento indirecto, ou seja, aqueles regidos de preposição, enquanto os pronomes o, a, os, as e variações como lo, la são complementos directos.

Já em Língua Portuguesa, a expressão “cumprimentar-lhe”, por exemplo, está errada, pois o verbo “cumprimentar” é transitivo directo, ou seja, exige complemento sem preposição.
a) Quero cumprimentar o meu pai pelo esforço empreendido. Quero cumprimentá-lo pelo esforço empreendido.
 

quarta-feira, julho 01, 2015

EM KIMBUNDU TB NOS ENTENDEMOS I

EM KIMBUNDU TB NOS ENTENDEMOS I
Pronomes pessoais (associados ao verbo kudya equivalente ao comer, indicativo, presente)
Eme - ngidya
Eye - udya
Mwene - udya...
Etu - tudya
Enu - mudya
Ene - adya



Fonte: MULELE, S/D.
 

segunda-feira, junho 15, 2015

O PLURAL DOS NOMES EM KIMBUNDU

- Ngala utunda kudibya (venho da lavra);
- Wala utunda ku mabya (vem das lavras);
- Twala utunda kumabya (vimos das lavras).
Em kimbundu, o plural (dos nomes e verbos) faz-se prefixando os determinantes aos nomes e verbos para fazê-los concordar em número.

segunda-feira, junho 01, 2015

AO ENCONTRO DE KAMUXIBA

Kamuxiba
Hoje começo com um pedido clemência aos antropólogos angolanos e busco harmonização do percurso etimológico do lexema supra.
Não sei se haverá entre os bakongu, donos da "zanga" (parece que a Samba era de Ngola ao contrário da ilha que era a casa de tesouro de Ntotila), vocábulo cuja raiz esteja na origem de kamuxiba. Por isso, vou divagar em kimbundu.
Muxiba=veia, pelanca, carne flácida e ou imprópria para consumo, (também extensivo à) canal de irrigação/desaguadouro.
Tal leva-me a deduzir que terá havido na área um canal fluvial desaguando sobre o grande "kalunga-lwiji", sendo ka=diminutivo e Muxiba=veia ou canal irrigador/desaguador.
Outra hipótese leva-me à existência de um povoado Muxiba (?), sendo os pescadores ou primeiros habitantes da praia pesqueira de Kamuxiba, em Luanda, originários de tal agrupamento populacional de  Muxiba.
Aqui, kamuxiba seria corruptela de "mukwa Muxiba" ou "akwa Muxiba" (originário/originários de Muxiba).
Convido os actuais akwa muxiba e os ana-a-zanga, vizinhos, aí no istmo, para darem consistência a mais uma divagação dum mukwa Lubolu.