Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, dezembro 13, 2007

CULTURA: A MAIOR EMPRESA DE IMPORT/EXPORT


Li em tempos, na Revista Mais, um texto do escritor e biólogo moçambicano Mia Couto em que dissecava sobre o fenómeno da aculturação dos povos, os aplausos e as resistências aos novos elementos.

O texto de Mia Couto levou-me à reflexão sobre as minhas vivências culturais. Óbvio que a medida em que procuramos ser autênticos, originais e diferentes, caminhamos ao mesmo tempo para a igualdade com os outros. Pois não se concebe nos dias hodiernos sociedades intrínsecas ou fechadas.

Entendo que a autenticidade reside naquilo que mais nos diferencia dos outros, e é isso que procuramos preservar, ou pelo menos não perder à velocidade do vento.

A igualdade, por sua vez, reside no facto de evitarmos ser ilha num mundo que se abre cada vez mais aos outros, ou seja, mais global. Essa busca da actualização ou do ser-se cidadão global leva-nos a importar hábitos alheios.

E não foi em vão que Couto concluiu na sua dissertação que “a cultura é a maior Empresa de Importação e Exportação”.

Em cada contacto, quer seja pessoal, telefónico, visual (TV), ou mesmo escrito que mantenhamos, acabamos sempre por passar algo sobre o nosso modus vivendi, como também recebemos elementos sobre o modus vivendi e ou operandi dos nosso parceiros da comunicação.

E esses ganhos e perdas de valores são tão constantes e dinâmicos que à medida em que perdemos uns, porque procuramos sempre “polir” os nossos hábitos aproximando-os aos dos nossos semelhantes, ganhamos outros, num processo universal.

As crianças de hoje já não cantam os mesmos folguedos de há trinta anos. Os velhos daquele tempo levaram consigo as suas experiências que haviam trocado com outros da sua época, e numa altura em que “o mundo ainda era distante”.

Os homens de hoje têm uma experiência que deriva da herança dos ancestrais e da inter-relação com outros povos e culturas, até as mais longínquas. E assim será. Com Importações e Exportações vamos polindo a nossa cultura, sempre tendo em conta que "os homens mais se parecem ao seu tempo do que aos seus ascendentes".

Luciano Canhanga

quarta-feira, novembro 14, 2007

NGOYA OU KIBALA EIS A QUESTÃO


ECHE NI? QUEM SOMOS NÓS (os Kibala)

Debruço-me hoje sobre o nome da língua dos Kibala ou seja a língua que se fala na Kibala e arredores. (Incluo aqui todos os povos do Kuanza-Sul que não se considerem Ambundu ou Ovimbundu, povos e línguas com as quais os Kibala mantêm empréstimos).

Enquanto garoto ouvi sempre de minha mãe, meus avós e demais membros da comunidade (Nasci na fronteira entre Libolo e Kibala) que a expressão Ngoya se referia a indivíduos sem educação, sem maneiras, sem asseio, ou seja, uma expressão que caracteriza o individuo fora do padrão de convivência comunitária.

Ouvi também por parte de aldeões oriundos do planalto e que trabalhavam nas fazendas de café, lá no Libolo, a mesma expressão Ngoya caracterizando-nos sempre que fosse em termos depreciativos. Quando alguém fizesse algo incomum era tido como Ngoya. Mesmo nas brincadeiras "estúpidas",na escola, era assim que os filhos dos oriundos do planalto (ovimbundu) nos tratavam.

Akua nano (equivalente à expressão "os de cima" ou os do Norte) é outra expressão com que os povos planálticos se referem aos seus vizinhos e ascendentes Kibala.

Fruto destas experiências, soube sempre que ser Ngoya era estar “fora da lei” e que a expressão em si estava carregada de sentido pejorativo.

Já nos dias da minha mocidade, e em Luanda, comecei a ouvir a nova versão do termo. Designando a língua que se fala na região Central do Kuanza-Sul, ou seja na Kibala.

Daí que carrego comigo a dúvida e pretensão de esclarecer se na verdade Ngoya é a designação da língua dos Kibala.

Partindo do princípio de que os Ambundu falam Kimbundu: os Ovimbundu; Umbundu, os Portugueses; Português e etc. etc., conservando-se a palavra matriz nas duas expressões que caracterizam os povos e as respectivas línguas, por que razão haveria tanta diferença entre a designação do povo Kibala e a sua língua (no caso povo Kibala, língua Ngoya)?

A meu ver, é mais razoável que Kibala seja a língua dos povos da Kibala tal qual Nganguela é língua desse mesmo povo, no caso corrente não havendo diferença na designação do povo falante e da língua falada.

Gabriel Vinte e Cinco na sua obra “Os Kibala” faz uma abordagem sobre a origem Ambundu dos Kibala através das migrações seculares do norte/nordeste para Centro/Sul, e diz ainda não ter encontrado ao longo das suas pesquisas no terreno (motherland) nenhuma relação entre a expressão Ngoya e a língua dos povos Kibala.

Falam ainda, Vinte e Cinco e Moisés Malumbu, este último na sua obra “Os Ovimbundu do Planalto Central de Angola” sobre a descendência Kibala dos povos Mbalundu e Ndulu (Bailundo e Andulo) importantes reinos planálticos.

A ausência de referência a um suposto povo Ngoya ou uma suposta língua Ngoya leva à terra qualquer argumento que associe a expressão depreciativa Ngoya à designação da língua dos povos Kibala.

Ngoya é um termo difundido e de forma profusa pela Rádio VORGAN, primeira estação a criar um programa na língua Kibala, erradamente designada por língua Ngoya.

A partir de 2007 o canal Ngola Yeto da RNA criou igualmente um programa na língua dos povos da Kibala a que também designou por “Programa em Ngoya”.

Creio que nenhum estudo aprofundado terá sido feito no terreno para se certificar da verdadeira designação deste instrumento de comunicação, levando-nos quase a tomar tal expressão como real e comummente aceite.

Se as iniciativas das Rádios citadas tiveram e têm o seu mérito pela revalorização da língua, permitindo assim a multiplicação de falantes e uma maior reflexão e estudos sobre a mesma, urge também necessário definir, e de forma acabada, a verdadeira designação da língua que se fala na região Central do Kuanza-Sul, uma missão a que somos todos chamados.

Ngoya ou Kibala eis a questão…

OBS:
Leu o texto até ao fim? Tenha ou não gostado deixe aqui o seu comentário.

Luciano Canhanga

segunda-feira, setembro 24, 2007

BLOGGUISMO ANGOLANO: AMADORISMO OU JORNALISMO?



Consultando o blogguer encontramos cerca de 1200 blogs domiciliados em Angola. De angolanos em Angola, angolanos no estrangeiro e estrangeiros em Angola.
Vasculhados um a um notamos que o número não é tão grande assim. E se procurarmos por nomes conhecidos veremos que são pouquíssimos os detentores de páginas na web. Raríssimos ainda aqueles que escrevem "coisas".

O movimento bloggista que na Europa e América estremece as vendas de grandes jornais, dado o seu carácter digital, rápido e sem preço (há os que já publicitam), é em Angola algo muito novo.
O Cibernauta atento encontra páginas como a do Manuel Vieira que escreve o www.serradachela.blogspot.com, onde se publica um pouco de tudo, como sejam, ensaios, actualidade informativa, reflexões, etc.,como:

Jornalista?

Foi por estes dias que, há 35 anos, me ensinaram que se os jornalistas não vivem para servir aqueles que não têm voz, não servem para viver.

Como continuo a pensar que isso é verdade (cada vez mais verdade, tal é o crescente número dos que continuam sem voz), é caso para dizer que o que nasce direito… tarde ou nunca se entorta (também pode ser ao contrário).

Hoje, digo eu, os media estão cada vez mais superlotados de gente que apenas vive para se servir, utilizando para isso todos os estratagemas possíveis: jornalista assessor, assessor jornalista, jornalista cidadão, cidadão jornalista, jornalista político, político jornalista, jornalista sindicalista, sindicalista jornalista, jornalista lacaio, lacaio jornalista e por aí fora.

Ou ainda o texto jornalístico/analítico

“Integração regional político e económica: como tornar efectiva esta intenção?

Angola assume-se cada vez mais, como mentora de novas estratégias de segurança regional na comunidade de países da África austral, SADC. Uma política de boa vizinhança terá sido engendrada. Junto dos dois Congos, por exemplo, a situação está totalmente controlada. Angola também mantém boas relações com a Zâmbia e o Zimbabwe, apesar de politicamente haverem "nuvens negras" a pairarem sobre o relacionamento político- estratégico com a África do sul. Por outro lado, Angola assumiu recentemente a presidência do órgão responsável pela política, defesa e segurança regional da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. Isto aconteceu numa Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da SADC, onde Angola se faz representar pelo próprio Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

Se no capitulo da segurança estamos conversados, a integração regional parece conhecer momentos menos bons no âmbito social. O desenvolvimento dos países da região é nitidamente feito em "ilhas". Falar do nível de organização social da África do sul, da Namíbia e do Botswana é diferente de Angola e do Zimbabwe. Uma cimeira sobre a pobreza foi marcada para o próximo ano, mas nos dias que correm, há milhares de jovens que deambulam pelas ruas da amargura a espera de uma oportunidade de trabalho ou ter um pão para levar à boca”.

=
Temos as páginas do Soberano Canhanga www.mesumajikuka.blogspot.com, onde escreve a título de exemplo:

NUVEM DE ESTRELAS

Por "compaixão" da Manú, cansada, talvez, de me ver a vegetar pelos corredores do alojamento , fui ao Luari (5/08/07) para a primeira edição em Saurimo da "Nuvem de estrelas".

Com certeza que o nome é muito mais atraente. "Chuva de estrelas", concurso cujo vencedor tem direito à participação noutro concurso de índole nacional, organizado pela LAC e TPA. Matias Damasio, Yolas, Beto Dias, Bruna Tatiana Lawilka, entre outros nomes da nossa e doutras praças musicais foram bem ou mal imitados. Casada com a feia esteve a moda cujo destaque foi mesmo a passagem de uma menorzinha nos seus 6 anos.

Ou ainda
www.10encantos.blgspot.com e www.canhanga.blogspot.com
onde se publicam textos de actualidade geral, ensaios, poesia e provérbios.

Já lá se foi o "cenasangolanas", inicialmente distribuído via e-mail aos jornalistas amigos, tendo sido transformado depois em Blog, mas de pouca dura, devido às críticas e ataques que lhe foram feitos por pessoas citadas/visadas.

Fora do Jornalismo e dos blogs que me são familiares, encontro o "Don't give up " da economista e professora Ana Mathaya. Trata-se de uma página onde se escreve da infância à vida adulta, da primaria à docência universitária, mas sem conter textos eminentemente jornalísticos.

Em Don’t give up (http://www.annamathaya.blogspot.com) encontramos textos como “Amanheceu Segunda Feriado, como muitos Luandenses madruguei na luta pelo "comburente" Galp, Marginal, Rádio e finalmente a longa fila do 1º de Maio, que também denominaram de Praça da Paz. Quem eu encontrei? Agostinho Neto, firme imponente. Tentei a duras penas ler-lhe as feições do rosto na ânsia de descobrir se o Poeta, o politico ou o médico humanista: tudo nele se confunde.
Lembrei-me então de ontem a noite: Três gerações - a de meu Pai, a minha, e a depois de mim - reuniram-se na sala lá de casa, todos em torno do tão esperado feriadão. Se aos últimos a data quase nada dizia, aos da geração de meu pai e aos da minha, era sinónimo de nostalgia! Meu pai lembrou nostálgico aquele 22 de Agosto, quando nossa cidade natal foi palco do último discurso do agora "Guia Imortal": "tem kizak 'aí??" perguntara o líder levando o povo ao delírio, fazia-se já sentir a pouca intensidade da voz do líder; minutos depois, Maria Eugenia lhe passara um bilhetinho. Desculpou-se então por não poder fazer um discurso mais longo: "minha voz não esta boa". Quase 20 dias depois o país vestiu-se de preto e as lágrimas rolaram inconsoláveis, a nós que éramos criancinhas…”.
Ou ainda a poesia

“Novamente as discordâncias do eu

[o EU de facto e o eu lírico

Mas sigo em frente

Fazendo de ti um terceiro eu/…”

Em Edson Macedo (www. http://edsonmacedo.zip.net/) que é um cronista de rádio e cinéfilo, encontramos escritos como

Agosto. Há uns anos era o mês das grandiosas FAPLA. O exército angolano que conquistou respeito até do exército sul-africano. Até hoje ainda se lembram do Cuito Cuanavale.

Hoje por hoje o mês de Agosto é lembrado pelo nascimento de José Eduardo dos Santos (28), Jonas Savimbi e já agora minha filha Lízia Adrianne (3) e ainda Fidel Castro e minha filha Alana Keyla (13). No dia 28 completa mais um aniversário. Dos Santos, quer se queira quer não é sempre um estadista e com pinta e postura de Chefe de Estado. Por muito que se goste dele, ou não, estava a ser chato neste mês só se ouvir falar de Dos Santos através de actividades feitas mais na base da graxa do que da ovação. Agosto deste ano, remete para segundo plano o aniversário de Dos Santos e enaltece o desporto. O Basquete. O país. É verdade.

Apesar de vários entretantos, no dia 15 de Agosto (data de Malange… Alguém conhece Malange? Sabe o que é a sensualidade do cacimbo de Malange? Não? Então será noutro texto okay?), um dos árbitros vai lançar a bola e começa o Afrobasket´2007 o mesmo, ou o tal onde Angola já conquistou 8 taças. Oito de um ouro brilhantemente angolano e com características próprias. Porque ao som de bombas ganhamos, ao som de morteiros ganhamos e é lógico que ao som do semba havemos de ganhar…” .

Há ainda as páginas emergentes e pouco conhecidas como a www.angodebates.blogspot.com, a do Zé Neto (http://blogdoz-neto.blogspot.com), a do Paulo Julião (http://pjuliao.blogspot.com), a da Ruth (http://akela-rmc.blogspot.com) e tantas outras que a seu tempo serão lidas com maior profundidade.

São estes e outros retalhos entre jornalismo e textos de análise e reflexões que nos oferecem os incansáveis blogguistas angolanos. Uma “turma” que quer crescer e levar a informação diversificada e plural a quem não a tem à mão.

Nem tão longe, nem tão próximo ainda dum jornalismo puro e informativo, estamos perante reflexões importantes que os jornais nem sempre nos dão e pior ainda a rádio e a Tv. Portanto, informações úteis para consumo. Assim vamos, nós os blogguistas, entre o amadorismo e o jornalismo alternativo.

Luciano Canhanga

quinta-feira, agosto 23, 2007

CONFRONTANDO DADOS, EVITANDO RESPOSTAS, REPLICAS E RECTIFICAÇÕES



São frequentes na nossa comunicação social os desmentidos, correcções ou publicação de comunicados de Imprensa repondo a verdade de factos deformados ou pelos jornalistas.

Muitos levados pelo imediatismo, pela “doçura” da cacha, outros pelo desconhecimento dos princípios elementares da confrontação de dados ou ainda enganados pelas fontes o que cairia igualmente na não confrontação e cruzamento de dados. Sobre isso gostaria de lembrar que “a extorsão ou chantagem e a publicação de notícias falsas e ou deturpados têm pena e multa especificadas (art. 51º e 53º da lei 7/06 de 15 de Maio)".

A lei de imprensa confere aos cidadãos, às instituições e sobretudo aos políticos que se vejam lesados por informações postas a circular pelos órgãos da comunicação social o direito à resposta, à rectificação e à réplica (artigo 76º), evocando também no seu artigo 42º a responsabilização “pelos actos lesivos de interesse e valores protegidos por lei, cometidos através da imprensa, respondem os seus actores disciplinar, civil e criminalmente”.

Importa realçar que de um tempo a esta parte que estes direitos plasmados na nova lei de imprensa vêm sendo questionados, sobretudo no que tange ao seu usufruto que deve derivar da aplicação rigorosa da legislação.

É sabido que embora a lei de Imprensa tenha sido promulgada pelo Presidente da República e publicada em Diário da República, órgão oficial do Estado Angolano, há mais de um ano que o Governo não a regulamenta.

Se atendermos que a promulgação de uma nova lei remete à caducidade a anterior e se termos em conta que a não regulamentação de uma lei a torna quase nula já que se torna impossível a sua aplicação, ficam rodeados de razão aqueles que perguntam se qual é a lei que regula neste momento a actividade de imprensa ou jornalística.

Outra reflexão, já no que toca aos difusores de factos (quer sejam eles reais ou fabricados), tem a ver com o cruzamento de dados e a busca do contraditório.

_Por que não ter como maior preocupação a confrontação e cruzamento de dados, buscando ouvir todos os que directa ou indirectamente se relacionam com o facto em vez de partirmos para a divulgação de informações que nos podem levar a nos retratarmos ou emitir comunicados que desmintam os nossos actos enquanto jornalistas?

_ Será que o facto de estar salvaguardado o direito à resposta, à rectificação e à réplica nos devem inibir de fazer o elementar num jornalismo sério e responsável?

A bem do jornalismo e da sociedade, busquemos e procuremos ouvir todos os implicados e ou testemunhas evitando desta forma a emissão de respostas, réplicas, rectificações e ou mesmo enfrentar uma provável responsabilidade disciplinar, civil e criminal.

A foto foi tirada numa palestra sobre o tema "Direito de resposta e réplica", dirigida a representantes de partidos políticos e de igrejas e a jornalistas e assessores de imprensa, realizada em Saurimo sob a égide do Conselho Nacional da Com. Social, aos 23 de Agosto de 2007.


Luciano Canhanga

quarta-feira, agosto 08, 2007

TÍTULOS JORNALÍSTICOS: EXERCÍCIO DIFÍCIL




Preâmbulo:
Rebusco apontamentos dispersos do Curso de Comunicação/ISPRA (Dr. Kizunda) sobre títulos jornalísticos e lembro:
“O título é chave. Tem de chamar a atenção e de conseguir retê-la. Tem de saltar à vista e de mexer connosco”. O autor desconhecido, acrescenta que “se assim não for, de pouco serve”.
Para que um título mexa connosco terá de surpreender (ibdem) e acrescenta que “um bom título é um pregão que desperta em nós o desejo de saber mais sobre o assunto que apregoa.
Recorrendo ao livro de Estilo da Revista Abril encontramos a receita: Um título “vende uma notícia, uma reportagem e até uma edição” acrescentando que Impõe-se destacar trechos que veiculem informações ou opiniões relevantes...
TÍTULOS QUE DIZEM MAIS DO QUE AS NOTÍCIAS E TÍTULOS QUE NÃO DIZEM NADA: São uma constante no jornalismo, i.e, nos órgãos de imprensa e nos audiovisuais.

Para os escritores começar pelo título em vez do texto é um exercício pacífico. Esta operação é porém complicada para jornalistas que têm de titular depois de escrita a notícia, correndo os riscos de se atrasarem na sua divulgação, já que para além da preocupação com o conteúdo da matéria têm de encontrar a melhor forma de vendê-la.

Certo dia cheguei à Faculdade em que estudo Comunicação Social e deparei-me com um caso que tinha escapado à nossa mania de comentar "as fortes do dia".

Tinha acontecido de véspera o fim da primeira ronda do Girabola (campeonato angolano de futebol, I divisão) e o título do principal jornal desportivo era exactamente este:

-"Proletários vencem com ajuda do árbitro".

Bom pregão para vender o carapau. Porém, aberto o jornal, em nenhuma de suas páginas se fazia referência ao nome do suposto árbitro que terá ajudado a equipa do Primeiro de Maio de Benguela a vencer o jogo, nem as circunstancias que levaram "o artista" a escrever tão chamativo título. Pior ainda, porque nem a equipa adversária se tinha queixado da suposta má arbitragem.

O pregão pegou porque foi forte e o jornal estava em quase todas as carteiras dos apreciadores do desporto-rei (futebol) em Angola. Só que o peixe comprado nem era peixe. Um sardão, talvez, dada a desilusão criada naqueles que o adquiriram para conhecer o árbitro " batoteiro".

Quantas vezes nos deparamos com exemplos como este ou desiludimos os ouvintes, leitores e outros com títulos que dizem o que não se escreve nas notícia, ou que dizem mais do que estas?

Jorge Wemanas, antigo Oubundsman do Público, aconselha que "entre um título descritivo e sóbrio, mas vigoroso, e outro que se reduz a um mero jogo de palavras, o primeiro será a opção correcta".

Os titulos não são nem devem ser escolhidos ao acaso, nem são reflexos da excentricidade do autor. Estão sempre ligados ou ao tema central ou a um detalhe-chave no desenvolvimento do assunto.

Os autores asseguram-se, também, de que os títulos não sejam enfadonhos e que a sua sonoridade contribua para interessar o leitor no conjunto a que dão abertura.

E mais, pretendem despertar a atenção do leitor para o conteúdo do texto e, muitas vezes, apresentam-se como síntese desse conteúdo. Nesse caso, podem ter também uma função prática, orientando resumos, roteiros, catálogos. Os títulos jornalísticos cumprem uma função de destaque na veiculação da notícia, salientando seus aspectos significativos.

Outras vezes os títulos apontam para uma ambiguidade, um suspense, podendo mesmo trazer uma ideia contrária ao que o texto vai desenvolver, com o objectivo de quebrar expectativas.

-Quantas vezes se escreve uma notícia e não se sabe qual o título a atribuir?
Titular é realmente coisa difícil e só os verdadeiros "artistas" o conseguem num abrir e fechar de olhos porque há titulos que dizem mais do que o texto e títulos que não dizem absolutamente nada.

Vamos pois titular com sobriedade, procurando não esconder conteúdos nem dizer mais do que aquilo vem expresso no nosso texto jornalístico!

Luciano Canhanga
Lic. Com. Social, 2007

quinta-feira, abril 05, 2007

A LIBERDADE DE IMPRENSA NA ORDEM JURÍDICA ANGOLANA

LIBERDADE

Provém do latin “libertas” cujo significado é: Faculdade de agir segundo a sua própria autodeterminação, respeitando, porém, as regras legais instituídas. Na sua generalidade a palavra liberdade é usada para designar a liberdade de locomoção, de associação, de religião, de pensamento, de decisão, contratual, de pensamento e expressão,etc.

É importante notar que é na Democracia que a liberdade encontra o seu maior desenvolvimento.

A liberdade de expressão e de informação assegura-se como a faculdade de cada um exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra falada, escrita, imagem ou outro meio; informar-se e ser informado e ainda de poder responder e rectificar.

IMPRENSA

No sentido restrito, corresponde a todas as publicações periódicas nacionais e estrangeiras. O sentido amplo é extensivo à radio, televisão, cartaz, outdoor e outras formas de comunicação massiva.

A liberdade de imprensa está intrinsecamente ligada à liberdade de expressão que é a liberdade de exteriorizar através de mecanismos apropriados para o efeito, um deles a imprensa.

O direito de informar integra: O direito de informar – liberdade de transmitir ou comunicar informações a outrem, de as difundir sem impedimentos, pode também consubstanciar-se no direito aos meios para informar; direito de informar – liberdade de recolha de informações; direito de ser informado; é a versão positiva do direito de se informar, consistindo no direito a ser informado.

Sendo Angola um Estado Democrático e de Direito, todos esses pressupostos estão salvaguardados na Constituição.

HISTORICAMENTE

A Problemática da Liberdade de Expressão e Imprensa começa a ser abordada na nossa ordem jurídica em 1977 através da Lei nº 7/77 de 26 de Maio. Em 1988 estes Direitos e Deveres foram reforçados através da Lei nº 10/88 de 2 de Julho. Com a abertura do país à democracia multipartidária a questão atinente à Liberdade de Imprensa e de expressão dos cidadãos ganha novos contornos e fica mais esclarecida com base na Lei nº 22/91 de 15 de Junho que passa a “regular as formas do exercício da liberdade de imprensa e as providências adequadas para prevenir e reprimir seus abusos”. Porém, em razão da alteração das circunstâncias existentes à data da sua aprovação, insuficiente para cobrir novas situações surgidas devido a maior abertura Democrática, surgiu a necessidade da sua actualização o que deu vazão à elaboração duma nova lei aprovada recentemente pelo Parlamento Nacional.

A actual Lei de imprensa pretende dar um tratamento mais desenvolvido no que toca à clarificação e tipificação de certas condutas omissas na -Lei no 22/91 de 15 de Junho, elaborada e aprovada num contexto em que Angola ensaiava os primeiros passos da era Multi-Partidária e Democrática.

A declaração universal dos Direitos do Homem proclamou no seu artigo 19º o direito de todos à Liberdade de opinião e expressão sem constrangimentos e o direito correspondente de investigar e receber informações e opiniões e de divulgá-las sem limitação de fronteiras.

A Lei Constitucional vigente na República de Angola reza no seu artigo 2º que “...é fundamento do Estado angolano o pluralismo de expressão e de organização política...” a que se segue uma remissão à Declaração universal dos Direitos do Homem e à Carta Africana dos direitos do Homem (LC. art. 21º, 2).

No seu segundo Capítulo, lê-se no artigo 7º que liberdade de imprensa implica:
1. a) O reconhecimento dos direitos e liberdades fundamentais dos jornalistas, nomeadamente os referidos no respectivo estatuto,
c) O direito de livre impressão e circulação de publicações, sem oposição por quaisquer meios não previstos na lei.

No que tange às limitações, é mister destacar a “...proibição da divulgação ou reprodução de notícias ou factos veiculados pela imprensa nacional ou internacional que ponham em causa a unidade, a soberania e a integridade nacionais ou que atentem contra a honra e o bom-nome dos titulares dos órgãos de soberania do Estado...propaganda de guerra, processos de subversão da ordem pública, preconceitos de classe, etc.” (art. 9º).

O Terceiro Capítulo a nova lei fala sobre as empresas editoriais e define na sua primeira secção os moldes em que devem ser constituídas as empresas jornalísticas, a propriedade de empresa, a transparência da propriedade, imprensa e capital público, liberdade de concorrência e obriga a divulgação dos meios de financiamento (art. 15º). A segunda secção do Capítulo III refere-se à direcção dos órgãos de imprensa e dita que “ao ser constituídas as empresas jornalísticas devem indicar um director que não pode ser de nacionalidade estrangeira, devendo publicar igualmente o respectivo estatuto editorial” (art. 16º). Define ainda as competências do director, do conselho de redacção que é uma obrigação para todos órgãos com mais de cinco jornalistas.

O direito de resposta e de rectificação vem plasmado no Capítulo VI, onde se estabelece um prazo para este exercício que é segundo o artigo 42º de 45 dias a contar da data da publicação.

RESPONSABILIDADE PELO ABUSO DA LIBERDADE DE IMPRENSA

A nova lei de imprensa (lei 7/06 de 15 de Maio) estabelece no art. 42º que: “ pelos actos lesivos de interesse e valores protegidos por lei, cometidos através da imprensa, respondem os seus actores disciplinar, civil e criminalmente”.

A extorsão ou chantagem e a publicação de notícias falsas e ou deturpados também tem pena e multa especificadas (art. 51º e 53º).

Há ainda a destacar o artigo 58º que se refere à inadmissibilidade de prova da verdade dos factos em matérias que ofendam o Presidente da República ou chefe de Estado estrangeiro ou seu representante em Angola.

Ao abrigo do artigo 76º da nova lei de imprensa é garantido o Direito de antena, de réplica política e de resposta, aos partidos políticos e o Direito de antena nos serviços públicos de radiodifusão e televisão nos termos a definir por lei especial.

É também importante ter em conta que a liberdade de imprensa não é um direito superior aos outros direitos consagrados na Constituição. Subsiste com estes desde que não os viole.

Correntes de pensamento moderno sobre a matéria admitem que a liberdade de expressão seja mais ampla do que a liberdade de informação por não se submeter ao limite da veracidade. A liberdade de informação está casada com os factos e sujeita, por isso, ao requisito “verdade”. Pelo contrário, a liberdade de expressão tem por objecto as ideias, opiniões ou juízos de valor, não condenatórios à segurança e moral públicas nem aos direitos individuais também protegidos por lei.

SITUAÇÃO ACTUAL IMPRENSA ANGOLANA:

-TV: Dois canais públicos em sistema aberto.

-Agências de notícias: Uma pública e Representações de agências, jornais e estações de rádio e Televisão estrangeiras como: Chinhua, EFE, LUSA, REUTERS, BBC, RTP/África, RDP/África, TSF, etc.

-Rádios: Uma pública com Cinco canais e 20 emissoras locais, cinco Estações privadas em FM, nomeadamente: Rádio Eclésia, LAC (Luanda), Rádio Morena (Benguela), Rádio Comercial de Cabinda, Rádio 2000 (Lubango) e Rádio Despertar (Luanda-2007).

-Jornais: Um diário (jornal de Angola) público. Mais de uma dezena de títulos independentes regulares, destaque para: Semanário Angolense, Angolense, Agora, A Capital, O Independente, Cruzeiro do Sul, Folha 8, Actual, Jornal EME, e Terra Angolana.

-Revistas e boletins: Mais de duas dezena de publicações mensais, bimestrais, trimestrais, etc..

Quanto ao fomento da Comunicação intra-institucional é um dever das Empresas, no sentido de permitir uma maior fluidez de informações e facilitar a formação dos seus empregados, colocando ao dispor dos funcionários instrumentos que tornem tangíveis todas as mensagens no sentido vertical (Direcção/empregados) e no sentido horizontal.

A par da comunicação intra-institucional, as Empresas e Instituições devem desenvolver uma cooperação com os órgãos de Comunicação Social, criando para o efeito áreas responsáveis pela actualização, gestão e difusão da informação produzida pela Empresa e sobre a Empresa ou Instituição.

Uma chamada de atenção é feita aos líderes no sentido de fornecerem informações não classificadas permitindo assim a sua partilha, já que informar é formar.

Bibliografia
-ANTÓNIO, Manuel -Um olhar e pensar televisão, 2005
-Carta Africana dos Direitos do Homem
-Declaração universal dos Direitos do Homem
-http://olhoensaios.blogspot.com -Há Liberdade de Imprensa em Angola, comunicação, UCP, Lisboa 2005.

-ttp://olhoensaios.blogspot.com - Análise ao ante-projecto de lei de imprensa

-Lei Constitucional de Angola.

- Lei 7/06, de 15 de Maio.

-Lei nº 7/77 de 26 de Maio.

-Lei nº 10/88 de 2 de Julho.

-Lei nº 22/91 de 15 de Junho.

-MACHADO, Jónatas - Liberdade de expressão – Dimensões constitucionais, Coimbra, 2002.

-PINTO, Ricardo Leite – Liberdade de Imprensa e Vida Privada, Lisboa 1994

SOUSA, Nuno – Liberdade de Imprensa, Coimbra 1984

Por: Luciano (Soberano) Canhanga: licenciando em Comunicação Social (USPRA)

segunda-feira, março 19, 2007

ANALISE DE TÍTULOS DE PERIÓDICOS ANGOLANOS


(Apresentada ao ISPRA, IV ano Com. Soc., Lab. Imprensa, Dr. A. Kizunda, 2006)

1-INTRODUÇÃO

A história do jornalismo angolano, cuja génese remonta ao sec. XIX, teve ao longo do seu percurso várias preocupações que se foram ajustando ao momento político, social e económico vividos pela então colónia e hoje país independente. Assim é que no auge das monoculturas e do desenvolvimento do comércio mercantilista, o jornalismo nascente esteve ao serviço das elites económicas para mais tarde com a propagação dos ventos libertadores, grande parte dos seus executores aliar-se aos ideais nacionalistas perante o regime de “Estado Novo” de Salazar que teimava em subjugar os angolanos. As elites mestiças e os novos assimilados, detentores de meios económicos e influência em círculos de decisão, tiveram um papel de realce no desenvolvimento da imprensa nascente e da literatura em geral.

Conseguida a independência, uma das grandes preocupações foi descolonizar a nossa comunicação social (1) e uma vez conseguido este desiderato, uma nova frente se abriu com a democratização do país; a pluralização da informação, sua desgovernamentalização e a consequente despartidarização, visto que vivíamos num regime de Partido/Estado.

Hoje, a tendência da informação (2), sobretudo a veiculada pelos órgãos da comunicação social públicos, parece-me ser a personalização, independentemente dos factos. É o que se chama em linguagem miúda por bajulação. Infelizmente poucos ainda se deram conta desta tendência preocupante, pois os títulos e leads das notícias publicadas em vez de trazerem os factos protagonizados pelos actores políticos, económico e sociais e a sua relação com os destinatários, trazem como substancia o próprio actor. Assim é que encontramos títulos como “presidente da República recebeu embaixador itinerante das Barbudas”, entre outros títulos de fraca elaboração jornalística em vez de serem publicados assuntos do interesse dos destinatários.

A notícia é hoje um produto que precisa de ser vendido e antes publicitado para que o cliente descubra nele interesse para o seu consumo. Se tal não acontecer e estivermos apenas a agradar o protagonista, tal facto não passará disso mesmo, já que uma notícia só o será caso haja relação de proximidade (3) entre o facto e o destinatário da informação veiculada.

O presente trabalho, uma análise de formas de elaboração em diferentes periódicos, destina-se a responder um imperativo académico na cadeira de Laboratório de Imprensa, ministrada no ISPRA pelo Dr. Adérito Kizunda.

ANÁLISE DE PERIÓDICOS (TÍTULOS)

Aberto o jornal de Angola de 9 de Julho de 2006 página (27) destinada às regiões encontramos o tipo característico de iniciação que realça o actor em vez da cena.

Título: Juventude do K-Norte apelada a preservar a moral e o civismo

Pós-titulo: Presbítero falava mais de dois mil jovens numa cerimónia eucarística.

Lead: O padre católico Mateus Nhenga apelou, em Ndalatando, a juventude do Kuanza-Norte, sobretudo a feminina a preservar a virtude moral e do civismo, evitando o uso de roupas que exponham a nudez. O presbítero falava a mais de dois mil jovens reunidos numa cerimónia eucarística e festiva do colégio Santa Maria Goretti de Ndalatando, pertencente a igreja Católica.

Analisado o texto em apreço concluiremos que apesar de deficiências no manuseamento da língua de trabalho (4), a preocupação do editor ou do homem chamado a “vender o produto” foi mais para a figura do protagonista em vez dos factos e da relação destes com os destinatários do produto, o que demonstra um jornalismo de fraco profissionalismo e comprometido com a promoção dos personagens em vez dos factos, aliás muito comum ainda, sobretudo nos órgãos audiovisuais.

A propósito da escrita jornalística, Matews Arnold citado por Piedrahita diz que: “jornalismo é literatura com pressa” acrescentando porém que deve valer-se da boa escrita para influenciar uma sociedade massificada, apressada e desejosa de conhecer.

Noutro Jornal, o AGORA, na Sua edição de 30 de Setembro de 2006, Numa reportagem regional, o jornalista escreve:

Subtítulo: A responsabilidade Social

Lead: Numa lavra comunitária trabalham 60 famílias. Plantam e colhem arroz, banana, milho, ananás, batata e toda a gama de horto frutícolas. Do outro lado produz-se 800 litros diários de leite fresco, manteiga, queijo, leite de soja, gelados e yougurtes para o refeitório.

Notamos aqui uma forma incomum de iniciação de texto jornalístico, dando-se valor notícia a um lugar indeterminado (Numa lavra), enquanto se podia encontrar uma forma de iniciação que suportasse o subtítulo.

Não se tratando de um jornalista correspondente como se pode depreender no primeiro caso (JA) em que é conhecido o baixo nível de formação dos confrades, no caso do Jornal AGORA trata-se inclusive de um jornalista sénior e com direito a Maboque (5).

Encontramos ainda na Imprensa angolana situações como desmentidos de notícias não difundidas. Aparentemente absurdo e mais na comunicação social pública do que na privada, notamos exemplos como o que descrevo, apenas em guisa de prova:

Jornal de Angola e ANGOP, dia 10 de Outubro 2006. “Presidência da República desmente audiência a Miala”. Referências a uma nota produzida pelos serviços de apoio da presidência da república a negar (desmentir) um suposto encontro entre o Presidente José Eduardo dos santos e o antigo chefe dos serviços de inteligência Externa, Fernando Garcia Miala, difundido por um semanário da capital, sem que a imprensa pública lhe tivesse dedicado uma palavra sequer.

Outros exemplos se seguem. E retomo o assunto Miala para trazer à análise outra forma incomum de iniciação.

AGORA, 30 Setembro de 2006, página 13.

Título: Miala volta ao activo?

Lead: Não correspondem à verdade os rumores postos a circular esta semana de que o general Fernando Miala teria viajado para Kinshasa para retomar os contactos com as autoridades da república Democrática do Congo.

Dois aspectos se salientam nesta prosa jornalística: Iniciação com a forma negativa e desmentido de rumores que não são fontes.

Escuso-me a comentar a iniciação com o Não. Porém, se atendermos que os rumores nunca se constituíram em fonte de informação credível, logo facilmente depreendemos que jornalista algum deve informar com base em rumores, logo inoportuno seria desmentir rumores.

CONCLUSÃO

Dois factores contribuem ainda para a ocorrência frequente de casos como os dois anteriores: A fraca formação dos escribas e o comodismo em relação a determinados hábitos e vícios de escrita acumulados ao longo do tempo. Note-se que é de pouca história a preocupação com a beleza estética das matérias jornalísticas e sobretudo a preocupação com a forma como ela, a notícia, chega e é percebida pelo destinatário.

O jornalismo angolano viveu um longo período de recadismo (6) e propagandismo (7) que macularam a forma de escrever e dizer, já que toda a perícia e inovações se pareciam inúteis aos olhos dos censores e dos decisores em termos de valorização das matérias.

O que levou o autor J. Melo a concluir que havia na altura, e como ainda há, excessiva informação oficial (op cit pg 61-2).

Estes aspectos apontados por J. Melo em 1991 são ainda notáveis na imprensa pública ou oficiosa do país, 15 anos depois, dado o fraco nível de instrução dos feitores do jornalismo angolano e a excessiva dependência político/partidária dos responsáveis dos Órgãos da comunicação Social.

Nota-se agora, com a chegada ao país dos primeiros formados em Comunicação social e Jornalismo, que se começa a valorizar aspectos como: a língua, a estética e critérios de valorização dos textos.

É preciso não perder de vista que o jornalismo que se impõe hoje no mundo é o explicativo, de análise. Os leitores são cada vez mais cultos e pedem informações antes reservadas a minorias por isso não podemos contentá-los com informação mal elaborada e pessimamente explicada. In: Pedrahita, 2000, jornalismo moderno.

BIBLIOGRAFIA

  • Equipe do SEPAC- Rádio: a arte de falar e ouvir, Edições Paulinas, 2003.
  • Jornal AGORA (citado)
  • Jornal de Angola (citados)
  • MELO, João - jornalismo e política, UEA, 1991
  • PIEDRAHITA, Manuel -Jornalismo Moderno (história, perspectivas e tendências, rumo ao ano 2000), Plátano edições técnicas.
-

1 Aqui entendida como o afastamento de toda a ideologia colonial nos órgãos da comunicação social e adequá-la ao processo Revolucionário em curso.

2- Uma leitura atenta das notícias publicadas na Comunicação social pública leva-nos a encontrar uma maior tendência para formas de iniciação centradas na pessoa.

3-Pode ser geográfica, afectiva, ideológica, cultural, política etc. A notícia deve ser algo que interesse o receptor.

4-Nota-se no texto em análise uma confusão no uso da preposição a e da forma verbal há, para além de aparentes dificuldades em termos de utilização da crase.

5- Prémio anual de jornalismo de carácter nacional atribuído pelo grupo César e Filhos. Avaliado em cerca de USD 50 mil.

6- Termo usado para designer a actividade jornalística baseada apenas na reprodução de discursos políticos e oficiais, sem conferir aos mesmos um valor acrescentado. No seu ensaio sobre jornalismo e política, publicado pela UEA em 1991, João Melo, dizia que “os meios de comunicação angolanos, à data, são empresas estatais orientados politicamente pelo partido”.

7- José Marques de Melo citado por João Melo in: jornalismo e política diferencia jornalismo e propaganda nos seguintes termos: “O jornalismo limita-se apenas à sua função de informar ou de levar ao conhecimento do público notícias, interpretações e opiniões. A propaganda, por sua vez, embora tenha por actividade essencial a informação, vai mais além. Informa persuadindo, influenciando. (Melo, João, - jornalismo e política, UEA, 1991)


Luciano Canhanga

quarta-feira, março 07, 2007

DIREITOS E DEVERES DOS JORNALISTAS

1-Introdução

Quando procedemos a abordagem dos direitos e deveres dos jornalistas temos duas referências. O senso comum sobre o ideal, e aqui é que o ideal se torna no politicamente ou situacionalmente correcto, e nas referências doutros ordenamentos jurídicos da profissão. No nosso caso, a lei Constitucional pela sua elevação ‘e a primeira a enunciar no seu artigo 35º a liberdade de imprensa que por adição vem regulada na lei 7/06 faltando porem a sua regulamentação, bem como o completamento dos demais instrumentos jurídicos.

No caso português que tem sido a nossa referência e bebedouro de grande parte dos nossos mestres, os direitos e os deveres dos jornalistas estão devidamente explicitados no Estatuto do Jornalista – lei nº 1/99 de 13 de Janeiro, mais especificamente no capítulo II. Explicita todos os direitos fundamentais dos jornalistas assim como as garantias da liberdade do exercício da sua profissão.

O Estatuto do jornalista Moçambicano define o jornalista como sendo aquele que, como ocupação principal, permanente e remunerada, exerce funções de pesquisa, recolha, texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica.

Porem, não constitui actividade jornalística o exercício de similares funções desempenhadas ao serviço de publicações de natureza predominantemente promocional, ou cujo objecto específico consista em divulgar, publicitar ou por qualquer forma dar a conhecer instituições, empresas, produtos ou serviços, segundo critérios de oportunidade comercial ou industrial, sendo ainda o exercício da profissão de jornalista é incompatível com o desempenho de funções de angariação, concepção ou apresentação de mensagens publicitárias; Funções remuneradas de marketing, relações públicas, assessoria de imprensa e consultoria em comunicação ou imagem, bem como de orientação e execução de estratégias comerciais; etc.

2-Direitos dos jornalistas

Estando os direitos e deveres consagrados na lei, aos jornalistas exige-se que além da hetero-regulação imposta pelas normas jurídicas, apreendam e cumpram o expresso no seu código deontológico (ainda por aprovar). Este apresenta as linhas de conduta ideais para que o jornalista cumpra a sua função com rigor do ponto de vista ético. Daí que cumprir o exposto num código deontológico deve ser motivo de orgulho e brio profissional, não se tratando este de meros ideais utópicos e inexequíveis (lê-se no código deontológico dos jornalistas portugueses).

No nosso caso a matéria ligada aos direitos dos jornalistas vem plasmada na lei 7/06 de 15 de Maio ao consagrar no seu artigo 17º que os jornalistas têm direito a: Liberdade de expressão, criação e divulgação, de acesso às fontes de informação e aos locais públicos, direito ao sigilo profissional, participação na vida da empresa jornalística, filiação em qualquer organização sindical ou outras instituições do país, entre outros. Já no artigo 5º podemos ler que a liberdade de imprensa directamente relacionada ao jornalista se traduz no direito de se informar e ser informado e informar.

Igualmente quando confrontada a bibliografia portuguesa encontramos no artigo 6.º do Estatuto do Jornalista referência aos direitos fundamentais dos profissionais desta área, explicando que no acto de informar juntam-se dois conceitos, o dever de informar e o direito de informar. Assim como aos cidadãos é consagrado o direito a serem informados.

Desta feita, o jornalista tem, na era da informação, um poder imenso enquanto filtrador dessa mesma informação. Note-se entretanto, que esse poder não deve ser confundido com importância. “ O importante numa notícia é aquilo que é noticiado e não o seu autor” . Pois nesta sede de protagonismo encontra-se um dos grandes problemas já que a notoriedade conferida pela profissão leva a que muitos procurem a fama aparecendo, apregoando que querem ser reconhecidos pelo seu trabalho, quando na realidade apenas pretendem à custa da exposição pública alcançar um estatuto de estrela vazio no conteúdo.

Para aqueles que prestam bons serviços ao jornalismo, o ponto 2 do artigo 7.º do mesmo estatuto assegura o seu direito a assinar ou identificar os trabalhos que criam. Este direito, tal como muitos outros, assume também a característica de dever, uma vez que ao assinar um trabalho o jornalista assume a responsabilidade do seu conteúdo. Isso evita que o jornalista se esconda atrás do órgão de comunicação que representa, protegendo-se assim de eventuais reclamações. Uma vez identificados os seus trabalhos, o jornalista tem também o direito à protecção desses mesmos trabalhos.

Nos artigos 8.º, 9.º e 10.º encontramos referências ao direito ao acesso às fontes de informação e aos locais públicos, direito que é particularmente assegurado nas empresas públicas, de interesse público ou de poderes públicos, no que se refere a fontes de informação. No que toca ao segredo de justiça importa referir que o jornalista não pode ter acesso ao processo que se encontre ao abrigo do referido segredo. No entanto nada o impede de fazer a sua própria investigação jornalística podendo aceder a informação que naturalmente pode publicar, desde que não tenha sido através da consulta do processo em segredo de justiça.

3-Deveres dos Jornalistas

Como principal referência de consulta no tocante a matéria, encontramos o artigo 18º da lei7/06 de 15 de Maio e ainda a legislação portuguesa e moçambicana sobre os deveres do jornalista nomeadamente o Estatuto do Jornalista, assim como no Código Deontológico do Jornalista. O artigo 18 da nossa lei de imprensa dita que os jornalistas devem:

Informar com rigor, respeitar o perfil editorial da empresa jornalística, respeitar os limites ao exercício da liberdade de imprensa estabelecidos por lei, respeitar as incompatibilidades decorrentes do estatuto do jornalista, confrontar as fontes de informação e contribuir para a elevação do nível de educação cívica dos cidadãos.

Sendo coincidentes do ponto de vista factual, na ausência de um código deontológico nacional ou estatuto do jornalista actualizado, recorri ` a legislação portuguesa e moçambicana, já citada para rebuscar as incompatibilidades que a lei 7/06 levanta:

Não fazer publicidade (entenda-se voz, imagem ou redacção da mesma), estar vinculado a órgãos militares ou paramilitares, agências publicitárias, cargos públicos ou assento parlamentar, assessoria de imagem empresarial, etc. São motivos para a cassação da carteira jornalística, noutros países regulada e passada por uma comissão criada para o efeito.

Assim, a primeira alínea do artigo 14º do Estatuto do Jornalista português, que coincide com o moçambicano, remete-nos precisamente para a ética profissional. O jornalista é chamado à honestidade da interpretação dos factos, assim como ao rigor e isenção da informação.

Outra referência a destacar é a necessidade de serem ouvidas ambas as partes intervenientes, algo que por vezes não acontece, ou acontece tardiamente, o que leva a que se gere rapidamente o boato.

O combate ao sensacionalismo é uma preocupação dos legisladores lusos que escrevem: “Há linhas editoriais de jornais, revistas e televisões que se pautam sobretudo pelo sensacionalismo das notícias”.

A terminar é também dever do jornalista reconhecer que acusação sem provas é uma grave falta profissional. Devendo ainda o jornalista lutar contra as restrições às fontes de informação, assim como as tentativas de limitar a liberdade de expressão que são formas de censura e de escamoteamento da verdade.

Quanto aos meios para obter informações, o jornalista deve utilizar apenas meios leais e não abusando da boa-fé de ninguém.

As fontes devem ser sempre identificadas pelo jornalista, salvo no caso das suas fontes confidenciais, a quem deve assegurar o anonimato.

Um ponto extremamente importante é relativo à presunção de inocência que o jornalista deve salvaguardar aos arguidos até a sentença transitar em julgado.

O jornalista deve proteger as vítimas de crimes sexuais e delinquentes menores. A sua exposição deve ser evitada a todo o custo, assim como jamais deve humilhar quem quer que seja ou perturbar a dor de outros.

O jornalista, como qualquer outra pessoa, deve rejeitar o tratamento discriminatório das pessoas seja em função do que for. Assim como deve divulgar as situações em que observe essa discriminação.

A vida privada das pessoas deve ser sempre respeitada excepto nos casos em que a conduta de alguém contradiga valores e princípios que defenda publicamente.

4-Conclusão

Por tudo quanto foi aflorado resta dizer que é ainda longo o caminho entre o ideal e o real.

O ideal seria aquilo que vem consagrado nas nossas leis e o que pode ser adoptado de leis similares doutros países. Porem, o facto de sermos uma democracia nascente e com grande parte de jornalistas a passarem por dificuldades sociais básicas, propicia em grande medida a não elaboração de um ordenamento jurídico eficiente e capaz de regular o exercício da profissão jornalística, como também o seu cumprimento estrito por parte dos profissionais.

Apesar dos avanços na lei 7/06 em falta esta ainda a regulamentação da profissão de jornalista: o Estatuto dos Jornalistas, o Código Deontológico e a Comissão da Carteira e Ética, instrumentos importantes para proteger os direitos dos jornalistas, assim como para garantir o exercício responsável da profissão.

O acesso à informação também poderia ser aprimorado pela circulação de informação nas línguas nacionais faladas nas diversas províncias de Angola. Segundo a Lei de Imprensa, as empresas jornalísticas deveriam emitir informação nas línguas nacionais. Embora tal seja um facto na RNA e TPA não há actualmente incentivo para que a media privada também o faça.

5-Bibliografia

-CANHANGA, Luciano- Há liberdade de imprensa em Angola: www.olhoensaios.blogspot.com

-Diário da republica n. 59 I série de 15 de MAIO DE 2006 - Lei 7/06, lei de Imprensa
-Estatuto do jornalista Moçambicano

-Estatuto do Jornalista português – lei nº 1/99 de 13 de Janeiro

-http://joaomanuelmalainho.blogspot.com (direitos e deveres dos jornalistas)

-http://www.misa.org.mz/est.htm

-Projecto de Estatuto do Jornalista angolano_ SJA e associados, 2003




Luciano Canhanga