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quinta-feira, fevereiro 15, 2024

MY FIRST SPEECH


On thursday, 15th Feb.24, our pratice exercise was about speech. Our teacher ask us to write and present a short but very expressive speech. I'm sharing mine with you.

"Dear colleagues and comrades 

Ladies and gentleman,

I would like to start by expressing my gratitude and joy to all of you, for being part of this class and for all the good times away from home! 

Your frendship and support makes my English learning journey even brighter.

By the way, allow me tell you an anecdote which relates to my lifetime experience. I promise not to take much of your time.

When I started to become aware of things and life around my little world, 47 years ago, I met a friend, just a little boy like me.  

His father was semi-literate and his mother illiterate. Both was peasants in a remote rural area of Angola.

My friend's father used to listen to the radio and this influenced so much the boy. 

On silence, he was cultivating the desire to become a radio broadcaster one day in the future.  

I heared his father giving him two life lessons:

Study hard and, once you reach the age to find a job, work with probity and honor.  Unfortunately my friend's father died before the boy turned 9 years old.

After that, the civil war reached our village, and we were forced to take refugee in Luanda where life became so hard, much more than it used to be in our village. 

He had no place to call home, no food, no documents to enroll in public school, and so on.

My friend used to sell goods on the street and was forced to repeat two grades he had already taken, since he did not have documents to prove his truth. Besides, it was the last opportunity he had to study again. 

With his new teacher, my friend gained the reading and writing skills.

So he made his best and studied a lot in public schools and in two universities later on. 

Times later he became a journalist and University Teacher.  After that he started writing books and built a library back in the village where he spent some of his childhood years.  

I would like to tell you more abouth my friend, should I have much time.  

This whole story about my friend is written in a book published last year in Angola.  

Regardless of where we were born, it is possible to grow.  We just need to cultivate a dream, follow a purpose and find a model to follow.

This friend of mine, who I value very much, is myself. Thank you for listetining and for sharing your empathy!"

Cape Town, SA.

quinta-feira, janeiro 11, 2024

À PEDRA: UXITA SUBA

(Memórias lubolenses dos princípios dos anos 80)

A minha infância foi atravessada por diversas vivências que configura(va)m o nosso contexto vivencial tipicamente angolano. Uma delas foi assistir à transformação do milho em fuba (farinha).
As mamãs, ainda jovens, combinavam o esfarelamento, o demolhamento e a feitura da fuba sobre pedra, usando o "martelo triturador" esculpido de um galho de árvore com a forma angular (L ou V) a que chamávamos e mantém o nome de handa.
Os batimentos sincronizados faziam música que se juntava às canções que elas entoavam para buscar forças e narrar a história e estórias do nosso povo, convertidos em "literatura oral". Era uma cooperação que não deixava ninguém para trás. E nós, filhos, inocentes e envoltos em brincadeiras, sempre perto delas, gostávamos do matete que se fazia no final da "moagem" e das broas feitas com banana.
A cunhada Emiliana, que era natural do planalto angolano (dizíamos que era do Huambo), tinha perícia em confeccionar broas enroladas em folhas de bananeira para as assar. A farinha usada era aquela granulada e ainda por secar.
Enquanto as mães moíam o milho, nós tínhamos a missão de arranjar conduto complementar ao que levavam de casa, normalmente kizaka, jihasa, um pedaço de peixe ou carne*. Juntava-se tudo. Cada uma dava um pouco de fuba e um pouco de conduto e fazia-se um repasto conjunto.
Recolhíamos ervas comestíveis, como as folhas de uma árvore que produz resina idêntica ao do quiabo, também designada "xingo", folhas de mulondolo e fazíamos armadilhas com visgo (cola de borracheira) para apanhar passarinhos que caiam bem num almoço sob pedra.
Uma boa caça era motivo de satisfação e orgulho de nossas mamãs que eram mamãs de todos os filhos da aldeia, assim como o matete e os passarinhos que apanhávamos.

*de caça grossa ou pequenos roedores (rato da mata, mangusto, paca, canta-pedra, esquilo, etc.).
=
Publicado pelo Jornal Litoral de 25 de Janeiro de 2024

sexta-feira, dezembro 22, 2023

(IM)PREVISIBILIDADE E COMUNICAÇÃO EFECTIVA

Um dos aspectos a ter em conta na Gestão Empresarial e a previsibilidade e catalogação de eventos sazonais.

Há três dias que me chegam pela RNA lamentos de candidatos a passageiros da ferroviária do centro, do Wambu ao Lwena e vice-versa.

Todo o evento (im)previsto que afecte a reputação da organização é CRISE e demanda COMUNICAÇÃO DE CRISE, coordenada, sólida, dinâmica e assertiva, bem como a mitigação do evento negativo.

Até agora, tudo o que ouvi são "ameaças" de um integrante da ferroviária em "impor multa a quem seja encontrado no comboio sem o bilhete de passagem pago e encaminhamento à polícia".

Sobre as noites não dormida nas ruas fustigadas pela chuva abundante, as filas feitas de pedras, a incapacidade de atendimento da demanda e sobre as reclamações, NADA. Nada ainda se disse!

Tenho pena dos outros e de mim mesmo!

domingo, dezembro 10, 2023

O PAPEL DO CUNHADO NA COMUNIDADE BANTU TRADICIONALISTA

                                                               (constructo)

Na tradição da maioria dos bantu que vive(ra)m em Angola, os genros "são contratados para a procriação", sendo os filhos herança dos tios. Entenda-se por tio o irmão da mãe e não o irmão do pai que deve ser tratado como pai (pequeno ou grande). 

Tal como o criador de gado se gaba de quantas cabeças tem, é comum ver/ouvir as idosas gabarem-se de quantos netos possuem, olhando em primeira instância para os "netos verdadeiros", aqueles gerados pelas filhas, e depois aos "possíveis netos", aqueles gerados pelos filhos.

Assim, quando o indivíduo contrai matrimónio, o foco deve ser a (re)produção de novos membros (progénie) que vão engrossar as fileiras dos seus "donos" (tios), restando ao proletário a esperança de que os seus cunhados façam o mesmo para ele. 

Fruto deste pensamento e acção orientados ao matrilinearismo, os filhos deixam de ser herdeiros do pai, papel confiado aos sobrinhos, porém, força de trabalho, enquanto infantes. 

Tal, nas comunidades ágrafas, se estende à educação, embora não atinja ao suprimento alimentar e de saúde. É (ainda) comum ouvir-se a expressão "chame o tio dele para o educar/aconselhar", sendo também este o confidente imediato. 

Quanto às meninas, de quem se espera que o candidato a esposo ofereça dotes, estes vão para as tias (irmãs do pai) e nunca às irmãs da mãe que deve ser tratada igualmente como mãe (grande ou pequena). As tias são, de igual sorte, as "educadoras" e confidentes principais das sobrinhas.


Em algumas famílias bantu, a primeira refeição a um bebé é dada pela tia ou avó paterna. Porquê?
Acredita-se que, se for "produto de uma lavoura em lavra alheia", a criança venha a sentir-se mal depois da refeição. Por outro lado, a crença em forças supra-humanas e místicas criam na mãe uma pressão psicológica que pode levá-la a confessar eventuais "cultivos extra-lar", sob pena de ver o(a) filho(a) sucumbir no pós-cerimónia de primeira alimentação.

quinta-feira, novembro 02, 2023

FORA, MAS DENTRO DA RÁDIO

Há 17 anos que não "faço rádio", mas, sempre que oiço um noticiário, vem-me à mente a adrenalina de redigir a passos largos e permanente escassez de tempo o noticiário. Ingressei na LAC numa altura em que ainda se fazia jornalismo, tendo sido meus primeiros editores o Pedro Correia, a Sara Fialho e a Carla Castelo Branco. No meio de "gurús" e com uma concorrência interna (entre nós estagiários e juniores) e externa, sobretudo a da RNA, aprendi com os mestres e os concorrentes e construí o meu estilo híbrido (que combina as técnicas de retenção usadas na realização de programas e a técnica incisiva usada na redacção de notícias).

O José Rodrigues, na altura Editor-Chefe, tinha muita experiência de realização. Durante os seus noticiários, recordava sempre os ouvintes dos títulos por desenvolver. Era cativante e fazia esperar pela última. Roubei-lhe a chamada de atenção para o que ainda havia.
Com Ismael Mateus e a Paula Simons, quando regressaram à LAC (após formação em Portugal), prendi/aprofundei a hierarquização e a ter em atenção o tempo do registo sonoro. "Não mais de 30 segundo, o resto é excepção".
Ao meu "concorrente" Pedro Manuel "Pema", com quem nunca trabalhei, roubei os títulos curtos e incisivos, algo que aperfeiçoei com o Prof. Adérito Kizunda, no ISPRA.
Também tive como Editor o Paulo Araújo e dele aprendi o espírito de comando, determinação e dureza.
Do Pedro Correia, embora tenhamos trabalhado pouco tempo, aprendi que o Editor, enquanto líder, está para a equipa, caminhando com ela e defendendo-a quando necessário.

Sempre que oiço noticiários radiofónicos vêem-me à memória todas as lições directas e indirectas dos meus mestres e o repúdio aos títulos quilométricos que dispensam o lead. (In)felizmente o meu ouvido está talhado para a Rádio!

segunda-feira, outubro 09, 2023

QUE LÍNGUA NATIVA FALAM OS POVOS DO LUBOLU?

A 9 de Junho de 2012, o militar e político Serafim Maria do Prado, nas vestes de governador do Kwanza-Sul, escreveu à então Ministra da Comunicação social, Carolina Cerqueira, hoje titular da Cultura, solicitando intercedência desta junto da RNA para que fosse revista a designação errônea atribuída à variante Kimbundu falada no Kwanza-Sul, nas rádios provincial e Ngola YETU. O assunto não teve o provimento esperado, pois ao que se sabe, ou o Ministério que tutela a rádio não orientou ou essa não acatou. Estávamos em vésperas das terceiras eleições gerais, depois das realizadas em 1992, 2008. 

Serafim do Prado, na sua missiva, sugeria que os aludidos programas tivessem a designação "Kimbundu Kyetu" (nosso Kimbundu) ou "Kimbundu do Kwanza-Sul", indo de encontro àquilo que a população autóctone de maior idade responde (ainda) quando perguntada "eye dizwi dyãe wzwela?" (Que língua fala?). A esse questionamento, a resposta é sempre: Kimbundu ngizwela/Kimbundu Kyetu... (falo Kimbundu/o nosso Kimbundu). 

 

Esse contributo (CANHANGA: 2016) recolhido da oralidade no Lubolu e nos municípios do centro do Kwanza-Sul deve ser valorizado e adicionado ao que escreveram Heli Chatelain, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, nas circunstâncias de Angola em que não abundam os trabalhos escritos, toda a ciência que envolva a etnografia, antropologia e história deve sempre ter o terreno e a oralidade como ponto de partida (laboratório) e o gabinete como fábrica (para multiplicação e difusão do conhecimento experimentado). 

 

 

Evidências 

A primeira rádio a emitir um programa com nome ngoya foi a VORGAN em finais dos anos 80 do século XX. 

Os autores do Programa em ngoya da Rádio Kwanza-Sul não realizaram, na altura do lançamento do programa, nenhum estudo científico (conhecido) que os levasse a concluir que a língua não era Kimbundu, mas sim ngoya. 

O Ministério que atendia pelas questões linguísticas não foi ouvido antes da criação/designação do aludido programa (1993). 

Não é a rádio quem determina a autonomização das línguas em Angola, nem é sua função classificar e dar nomes às línguas nativas. 

O Ex-Governador Serafim do Prado escreveu, a 9 de Junho de 2012, à então Ministra da Comunicação Social, pedindo a troca da designação do Programa, retirando a expressão ngoya, por considerara que ela não era aceite. 

A discussão sobre a designação da língua que se fala no Kwanza-Sul é matéria extensiva a todos. 

Há tendência de alguns procurarem "investigar" para justificar o nome (ngoya) quando a investigação devia ser prévia à criação do programa? 

  

Sem demérito àquilo que os signatários do “anguoia que significa vai por aqui” (?), publicaram no Jornal de Angola e retomado pelo Portal de Angola a 15/07/2011, uma melhor compreensão do assunto passaria por fazer um levantamento com metodologia aplicável à ciência social nos municípios do Lubolu e nos do centro do Kwanza-Sul, como o fizeram Héli Chatelain, Maia, Redinha, Vinte e Cinco, entre outros. Ademais, toda a ciência que envolva a antropologia, história e etnografia deve sempre ter o campo como ponto de partida. 

  

O dinamismo das línguas pode levar algumas variantes à emancipação, aí onde as correntes forem mais heterodoxas do que ortodoxas. Porém, todo nome tem de ter um sentido etimológico e semântico, o que me parece não existir no caso dos proponentes do ngoya para a designação de uma suposta língua (que pretendem autónoma do Kimbundu) falada no Lubolu e nos municípios centrais do kwanza-sul. Há, por isso, que separara as águas e definir o que se pretende: autonomização ou redesignação? 

Como nota final, convido o (a) leitor (a) a colocar aos lubolenses maiores de quarenta anos as seguintes indagações: 

1- Ouve rádio com frequência? 

2- Ouve a rádio Kwanza-Sul e a rádio Ngola Yetu? 

3- Quando começou a ouvir o termo ngoya como língua que se fala no Kwanza-Sul? 

4- Antes disso que língua falava/que nome tinha a vossa língua? 

3- A língua nativa língua que se fala no Lubolu é Kimbundu ou Ngoya? 

  

Referências

CANHANGA, Soberano (2016) A língua dos Kibala Kimbundu ou Ngoya?, http://jornalcultura.sapo.ao/…/a-lingua-dos-kibala-kimbundu…https://www.portaldeangola.com/2011/07/morais-antonio-pesquisa-ngoya/ 

https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADnguas_de_Angola, 07.06.2028 

REDINHA, José (1984). Distribuição Étnica de Angola, 8.ª ed., Luanda, Centro de Informação e Turismo de Angola. 

Semanário Cruzeiro do Sul, ed. 3-10 Maio 2008. Língua dos Kibala: Kimbundu ou Ngoya? 


segunda-feira, julho 31, 2023

BILINGUISMO ENTRE OS AMBUNDU DO LUBOLU

Kalulu, 25 -28 de Julho de 2023.
Encontro Conjunto da 21ª Conferência da Associação dos Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola (ACBLPE); IX Encontro Internacional do Grupo de Estudos de Línguas em Contacto (GELIC); Encontro Conjunto das 2ªs Jornadas Internacionais Científico-Pedagógicas do Instituto Superior Politécnico do Libolo (ISPTLO); VIII Internacional do "Projeto Libolo", com participação de investigadores de Angola, Portugal, Macau, Hong Kong, Senegal, Holanda, França, Brasil, Dinamarca, Espanha, EUA, Finlândia, Alemanha, Itália e Cabo Verde.






















quarta-feira, maio 24, 2023

UXIMIKA


Literalmente, uximika (kimbundu lubolense) é atear fogo para diversos fins que vamos procurar discorrer nas linhas abaixo. Das queimadas podem derivar proventos e prejuízos.

Esta prosa é motivada por uma situação ocorrida a 23.05.2020, e que levou alguns bairros de Luanda a "dormir na escuridão", porque numa subestação da empresa distribuidora de energia houve incêndio "periférico" que destruiu alguns equipamentos (se bons ou sucatas não sei). Tais equipamentos eléctricos, ao que as imagens nas redes sociais mostraram, estavam num vasto quintal e em volto a capim seco. É aqui que surge o tema "queimadas".

Eu mesmo, sendo natural de uma aldeia do Libolo, aprendi cedo a cuidar e usar o fogo como "fonte" de alimento, de defesa e de higiene.
No tempo seco/kixibo, o lixo e toda a erva seca é queimada. É menos trabalhoso queimar do que capinar. Chegados os meses de maio e junho (quando o capim ainda não está completamente seco), roça-se/corta-se o capim à volta das lavras e fazendas (picadas) ao qual se joga fogo, para se defender do fogo das caçadas nos meses de Agosto e Setembro.
À volta das casas, nas aldeolas, para evitar que cobras e outros predadores se abeirem das pessoas e dos animais domésticos, é o fogo posto que alarga o "espaço vital e visual". Daí que atear fogo à capinzais circunscritos (quintalões) ou não é, para o angolano do interior, uma prática inculcada na psique, agindo de forma costumeira tão logo se depare com capim seco que pode, no seu imaginário, compaginar-se com a oportunidade de: caça, defesa, visibilidade, facilidade agropecuária (nascimento de relva para os herbívoros domésticos, e prática agrícola), etc.
Ainda a 23.05.2020, limpei um dos meus quintais (onde decorrem obras civis) usando a prática da queima do capim seco. E foi mais fácil ter o espaço limpo do que seria se usando a enxada. E mesmo assim, teria ainda de descartar o capim.
Queimada é prática primitiva da agricultura, destinada principalmente à limpeza do terreno para o cultivo de plantações ou formação de pastos, com uso do fogo de forma controlada que, às vezes, pode descontrolar-se e causar incêndios em florestas, matas e grandes terrenos agricultados.


quinta-feira, novembro 03, 2022

CAUSAS DO BI-LINGUISMO ENTRE OS AMBUNDU DO KWANZA-SUL

 (Constructo

Nota prévia: a expressão bilinguismo, aqui utilizada, exclui da abordagem a língua portuguesa que é hoje falada e compreendida por mais de 71% dos angolanos¹. A análise cinge-se a línguas locais de origem bantu.

Um inquérito feito por Tomé Grosso entre os povos do norte e centro do Kwanza-Sul, para aferir que língua falam, indica a existência de bilinguismo, havendo habitantes de zonas predominantemente ambundu que também falam Umbundu e, eventualmente, pequenas bolsas ovimbundu, em território de maioria ambundu, que também se comuniquem alternativamente em Kimbundu. 

Do latim bilinguis, bilíngue é um adjectivo que se utiliza em referência a quem fala duas línguas. O termo bilinguismo, aplicado ao indivíduo, significa a capacidade de expressar-se em duas línguas. Numa comunidade, é a situação em que os falantes usam duas ou mais línguas alternadamente (WEINREICH, 1953). 

Espreitando o censo de 2014, verificamos que a língua portuguesa é falada por mais de 71% (média), sendo que nas áreas rurais a percentagem média de falantes baixa para 49% (Censo 2014). Por outro lado, o Censo 2014 aponta as províncias de Luanda, Bengo, Kwanza-Sul, Kwanza-Norte e Malanje como a região de predominância ambundu, constituindo-se em 7,82% do total da população angolana (pg. 51), não afastando a existência, nesse espaço geográfico de Angola, de falantes de outros idiomas de origem bantu, com predominância aos ovimbundu. 

No seu conjunto, os ovimbundu constituem 22,96% da população angolana, sendo o Umbundu o idioma mais falado e dos povos que, pelas razões que elencaremos abaixo, mais emigraram para outras regiões, mantendo, entretanto, quase imaculada a sua cultura. 

- Por que haverá bilinguismo entre as populações do Kwanza-Sul? 
No inquérito efectuado para a sua monografia (licenciatura) que visou esclarecer a designação do idioma dos povos do norte e centro do Kwanza-Sul, Tomé Grosso identificou respostas duplas quando questionava "eye hoji lyahi wondola?" (que língua você fala), num quarteto de escolha entre ngoya, Kimbundu do KS, Kibala e Mbalundu (Grosso 2019, pg. 69). 

Seis respostas, dos 50 inquiridos, apontavam duplamente Kimbundu e Umbundu ou Kibala (variante de Kimbundu) e Umbundu, correspondendo a 12% dos respondentes, o que desperta a nossa atenção. No auge das monoculturas, início do sec. XX, os fazendeiros instalados no Kwanza-Sul, quer fossem portugueses ou alemães de origem judia, procuraram intensamente por mão-de-obra ovimbundu por, alegadamente, se mostrar mais apta ao trabalho manual e a viver acampada, o que não acontecia com os nativos locais, propensos à rebeldia e fuga, visto que, "na visão de Heimer (1980), o período colonial conjugou lógicas capitalistas e não capitalistas, conjugação através da qual se gerava o excedente da produção agrícola e se reproduzia uma mão-de-obra barata" (Quitari, 2010). 

José Capela (1978), citado por Quitari, descreve a forma «compulsória» como os povos do sul de Angola foram introduzidos na economia monetária para o pagamentos de impostos, recorrendo à venda da força de trabalho e/ou da produção agrícola aos colonos. Quer nos acampamentos, quer nas aldeias a que se juntaram ou constituíram, depois da desintegração das fazendas, esses antigos trabalhadores braçais ovimbundu conservaram sua língua, seus ritos de iniciação e festas e demais marcas de sua cultura, transmitindo-as a seus filhos e netos. 

As necessidades fisiológicas e de integração levaram-nos, por outro lado, a encetar processos integrativos, o que os levou a aprenderem o Kimbundu local. Tal processo levou a que, embora cada unidade linguística conservasse intacta a sua língua (Kimbundu para a maioria autóctone e Umbundu para as minorias emigrantes), se desenvolvesse um bilinguismo, na medida em que procuravam comunicar e compreender-se simultânea e indistintamente em cada uma das línguas. Outros processos integrativos e de fusão como os casamentos entre Ambundu e Ovimbundu, a frequência de catequeses, igrejas, escolas e instrução militar são também apontados como elementos que propiciaram o bilinguismo entre os ambundu e ovimbundu do Kwanza-Sul. 

S.K., 48 anos, natural de Mbangu de Kuteka, Libolo, entrevistado a proposito do bilinguismo entre os Ambundu do Kwanza-Sul, afirma que aprendeu Umbundu nos momentos de recreio escolar, numa altura em que, enquanto neto de um antigo detentor da categoria de assimilado² era impedido de falar Kimbundu, ao passo que os seus coetâneos e colegas Ovimbundu glosavam Umbundu nos intervalos entre aulas e durante toda a vida quotidiana longe da escola único recinto em que o professor os obrigava a falar a Língua Veicular. 

Katumbu K'Etinu, 75 anos, natural da margem libolense do rio Longa, afirma que sempre falou Kimbundu, porém, "por causa dos mbalundu da fazenda" e por, numa fase de sua vida, se ter juntado a um Ngangela que falava Umbundu aprendeu a perceber e falar Umbundu, tendo um filho que é meio Ambund e meio Ngangela/Ovimbundu. A anciã acrescenta que na última aldeia em que viveu (Pedra Escrita), que é um "ajuntamento de povos de várias origens", com destaque para os Ambundu e ouvimbundu que trabalhavam nas fazendas coloniais, "todos falam Kimbundu, Umbundu e Português", sendo a última a "língua da escola, do contacto com a administração e visitantes". 

Semelhantes estórias foram ouvidas no Hebo (Ebo) e no Kisongo (Quissongo), contadas respectivamente por Sabalu Lumbu, 60 anos, e Kambambi Mulalu, 55 anos, que vivenciaram a passagem ao Estado, por força da Lei nº 37/6 de 3 de Março (nacionalizações e confiscos) de fazendas antes detidas por colonos, a desintegração dos acampamentos de trabalhadores de origem Ovimbundu, recrutados no centro de Angola, e sua integração nas aldeias locais, próximas das antigas fazendas. Tal contexto político, histórico e sociológico, narraram, fez com que a necessidade de comunicação permanente, interação e integração das minorias propiciasse, quando possível, o surgimento do bilinguismo entre os Ambundu do Kwanza-Sul (regiões em que existiram acampamentos de trabalhadores Ovimbundu em fazendas agrícolas). 
... 
¹- Censo 2014 
²- Os assimilados eram os indivíduos que conseguiram demonstrar à administração colonial portuguesa que tinham alcançado um nível de evolução social que lhes permitia transitar de indígena para a categoria superior dos que tinham interiorizado e viviam segundo os preceitos da civilização europeia (adaptado de Nuno Domingos, 2020)

quinta-feira, setembro 01, 2022

A LÍNGUA PORTUGUESA E OS ANGOLANOS DAS GERAÇÕES X E Y

Geração X é uma expressão que se refere, segundo alguns teóricos da sociologia do trabalho, aos indivíduos nascidos entre meados da década de 1960 e início da década de 1980, ou seja, durante os anos que se seguiram ao baby boom do pós IIGM, verificado entre 1946 e 1964. Depois deles, surge a geração Y que abrange os nascidos entre os anos 80 e 90 (sec. XX), quando o mundo se tornou essencialmente tecnológico. São tidos como tendo crescido com amplo acesso à informação e ao conhecimento e foram moldados por essa realidade, tornando-se pessoas mais curiosas, inquietas e movidas por desafios. Será que em países como Angola dominam tudo?

Há muito tomei conhecimento que faço parte de uma geração que não domina língua nenhuma. Nasci ao tempo em que era Presidente da República o General Spínola (durante o governo de transição). Em Angola, os tempos eram de expurgar tudo o que havia sido "imposto" aos nativos, até as coisas de validade eterna como a Língua que se tornou primeira para muitos de gerações posteriores. Levou-se ao "caixote de lixo" a língua do "escravagista" mas não se deu ao "homem novo" instrumentos científicos para a aprendizagem de línguas que hibernaram, ficando na oralidade. Com professores que diziam ensinar numa língua que desprezavam e não dominavam, eis-nos, aqui chegados, com canudos e petulantes, sem língua nenhuma para nos orgulharmos, comunicando eficazmente nas suas diversas formas de manifestação (gráfica e oral).
Que língua domina as gerações X e Y?
Os mais velhos têm a vantagem de terem aprendido, de modo seguro e eficiente, uma língua que nunca desaprenderam.
A nós, vieram dos maquis "professores" que não dominavam a Língua Portuguesa, mutilando-nos. Com eles, veio um suposto "nacionalismo linguístico" que nos levou a não aprender o que devíamos, como também não aprendemos língua africana nenhuma.
E andamos feitos morcegos: nem Português sabemos, nem línguas africanas (bantu ou pré-bantu) dominamos (sobretudo na sua forma de representação gráfica).
Quando alguns despertavam do sono e do ópio em que estavam mergulhados, veio a implementação, por parte de Portugal e Brasil, do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa de 1990, do qual Angola não aderiu (ainda), deixando-nos cada vez mais perdidos, muito confusos e confundidos.
- Que caminho/versão seguir?
Estávamos ainda a despertar de um sono e etilismo profundos.
Não aprendemos o que devíamos ter aprendido e surge uma maneira diferente de grafar e, sobretudo, de acentuar. É quilómetro ou quilômetro? Estômago ou estómago. Feiúra ou feiura? Quota ou cota? Esclavagista ou escravagista? Certo que disso há consequências!
- Que nos resta?
Humildade, atenção à forma de grafia e uso correcto, leitura permanente dos que conhecem e usam correctamente a Língua Portuguesa e baixar as orelhas às críticas de quem nos aponte os erros.