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quinta-feira, fevereiro 15, 2018

DE EX-LIBRIS A "LIXEIRA"

Contam os mais velhos que "até 1975 o Edifício que suportava a antiga açucareira do Bom Jesus já foi o ex-libris da localidade", ou seja o seu cartão postal.
- Aqui, todos os que vinham para a agricultura e trabalho nas plantações, fossem brancos, patrícios ou contratados do sul, todos, a primeira coisa que pediam para ver era a fábrica da açucareira", conta o septuagenário Domingos Bandeira cuja família aí aportou para trabalhos na construção civil e depois nas plantações de cana-de-açúcar e outras que foram existindo, depois da paralisação da açucareira.
Erguido cuidadosamente com pedra e cal e com alguma variação de tijolo maciço e cimento, a edificação de dois pisos e um sopé de madeira fora projectado para resistir ao vento e à água, contando também com prováveis inundações. A rua, principal, é a da marginal do Bom Jesus, uma barreira de terra criteriosamente seleccionada e compactada, misturada com rochas neolíticas de maior resistência. A parte traseira conservava as máquinas e os fornos, hoje votados ao abandono. Nem só um contador de história no local para animar turistas que muito perguntam sem respostas sábias e prontas.
Verdade ou não, também se conta que, "antes de se edificar o edifício naquele espaço, a natureza oferecia uma nascente de águas termais que foi, entretanto, extinta por acção humana".
Hoje, as ruínas clamam por alguma atenção "museológica" ou similar para manter a memória da serventia que tiveram num passado de glória não muito distante. No espaço contíguo à fábrica foi erguida uma processadora de água, uma assinalável mais valia, tendo em conta a criação de postos de trabalho e o relançamento da industria na região.
O edifício de paredes "fortes e robustas" é hoje um "fraco" a desabar aos poucos, transformado em depósito de lixo e com as mulembas a cuidarem das suas paredes.
E como quem se previne evita males piores, demolição é o que mais se sugere, antes que haja azar para quem por aí passa regular ou sazonalmente instalado na sua viatura ou os tundenge que brincam inocentemente na ternura da sombra do imóvel abandonado.
Algum'alma atenta para ver o que se passa e sugerir alguma serventia? É que mais a baixo, uma já bem conhecida firma agropecuária transformou "terra parada" em verdejantes campos de bananal, videiras e outras culturas, enquanto que na zona norte florescem pujantes indústrias de bebidas.

Texto publicado no Jornal de Angola, Caderno Fim-de-Semana, Nov. 2017

ENTRE PROMOVER O CONSUMO E POUPAR PARA O ESTÓMAGO

Acordei tropeçando em sapatos que raras vezes uso. Abri o roupeiro e deparei-me com muito vestuário que uso de vez em quando ou quase nunca.
 
Vivemos comprando coisas que não precisamos; Com o dinheiro que não é nosso (créditos bancários); Para parecer que somos o que não somos (financeiramente folgados). É óbvio que não precisamos de viver no limite das possibilidades, tendo apenas o estritamente necessário. Porém, também não precisamos de ter “a máquina consumista” no limite de potência, entrando em descompasso caso o “equipamento” entre inesperadamente em actividade. Tal se formos mais comedidos nas compras?
 
Os especialistas em marketing sempre nos impingirão a comprar cada vez mais e satisfazerem, desta forma o desejo dos vendedores e prestadores de serviços para quem trabalham. Os fabricantes e prestadores de serviços (combinados ou desagregados) vivem da produção e venda. É o consumo que gera crescimento. É estimulando o consumo que a moeda circula. Mais consumo resulta em mais dinheiro e mais investimentos. Teorias conhecidas mas que, a meu ver, e para quem junta cêntimos para ter o que levar à boca, deve ter a noção de que hoje, os produtos e até os serviços que se prestam são dimensionados no tempo. Desvalorizam-se à velocidade da criatividade e da moda, tornando-se muito efémera a sua duração. Você compra um veículo cujo design é atraente. Seis meses depois sai um novo modelo com um design “irresistível”. Você precisa de veículo em bom estado técnico para se locomover ou precisa de andar naquele com novo design?
 
Quem segue perdidamente a moda ou os apelos dos "marqueteiros" apenas vai dançando a música dos PRODUTORES amplificada pelos homens da PROMOÇÃO. Você será o homem ou a mulher que sempre estará na PRAÇA, comprando a qualquer PREÇO, com o dinheiro que (ainda) não é seu. E vai trabalhar cada vez mais para pagar o que você deve ao banco que também lucra com os juros. Ou você descarta a moda que o leva a usar produtos perecíveis e supérfluos ou sentir-se-á como eu que, mesmo estando desalinhado com a moda, sinto-me ainda cheio de coisas que me parecem estar a mais.
Pense nisso antes de se fazer á praça!