Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, junho 12, 2014

IMPORTÂNCIA SOCIO-HISTÓRICO-CULTURA DO LIBOLO

Por: Prof. Dr.Carlos Filipe G. Figueiredo, no âmbito do "Projeto do Libolo"

A importância sociohistórica e linguísticocultural do Município do Libolo surge intimamente relacionada com as suas origens. A forte resistência, por parte dos chefes indígenas e suas populações, à fixação de colonos e políticas de aculturação da região determinadas pela administração portuguesa, são atestadas desde o século XVI, ou seja, desde os primórdios da chegada dos portugueses a Angola. Os pesquisadores do actual projecto acreditam que esta resistência tem também, na sua base, a defesa da população contra o resgate de escravos efectuado na região, que seriam enviados depois para a zona costeira (Amboim e barra do Cuanza), antes de serem embarcados para o entreposto de São Tomé e remetidos para o Brasil e América Caraíba.  O modo como se terá processado este resgate e o comércio que o sustentou está longe de se encontrar devidamente documentado, o que constitui um aliciante incontornável para os estudos científicos sobre a rica história da região do Libolo. A confirmar-se o historial de resgate e comércio esclavagista no Libolo, estar-se-á a contribuir com dados históricos inovadores e precisos não só para o estudo do tráfico desenvolvido entre os dois lados do Atlântico, sobretudo nos séculos XVII e XVIII, em que foi intenso o envio de negros da zona banta angolana para o Brasil, mas também para um melhor entendimento acerca dos traços linguísticos e fenómenos culturais transplantados para o Brasil e América Caraíba, via língua e hábitos dos escravos resgatados em África.
Paralelamente, como os confrontos entre nativos e forças armadas coloniais foram bastante intensos e duradouros, tendo a pacificação da região acontecido apenas no primeiro terço do século XX, com a razia de sanzalas e apagamento físico dos sobas sublevados, este aspecto revelou-se fundamental para a preservação de traços linguístico-culturais nativos, que darão igualmente um contributo valioso para o estudo diacrónico da antropologia da região, por um lado, e análise aprofundada das características quer do português como primeira língua (L1) quer do português como segunda língua (L2) falados no Município, por outro lado. O fato de existirem também falantes do quimbundo L1 nas Comunas do Libolo é igualmente de importância extrema para a recolha de dados da língua nativa do Município, que permitirão trazer mais luz sobre os fenómenos de transferência semântica, fonológica e morfossintática para o português L2 adquirido por contacto, por um lado, e sua cadeia de preservação quer no português L1 do Libolo quer nas falas do Brasil, tanto quilombolas como do próprio português do Brasil, por outro lado. Indícios sobre estas particularidades foram já atestados no trabalho apresentado pelos investigadores nos congressos de São Paulo Natal. Assim, e num momento em que Angola começa a ganhar consciência sobre as tendências e singularidades da variedade de português falada no país e a necessidade do reconhecimento do seu estatuto como variedade nacional, os estudos linguísticos a levar a cabo no Libolo, e sua articulação com a vertente do ensino, serão cruciais quer para a formação de docentes quer para a elaboração de materiais e instrumentos didácticos que dêem resposta adequada às extensões de uso do “português angolano”. De facto, só assim se facultará um ensino/aprendizagem da língua consentâneo com as realidades sócio-afectivas e culturais contidas no idioma oficial do país e que reflectem a força do seu pulsar actual.
Depois da pacificação do Libolo no primeiro terço do século XX, e salvaguardando os acontecimentos relacionados com as acções repressivas levadas a cabo pelas autoridades coloniais no início da década de 60 do mesmo século, a região permaneceu em paz até à altura da independência de Angola, em 11 de Novembro de 1975, multiplicando-se o aparecimento de casas de comércio na vila, onde se instalaram também escolas primárias e uma Escola Técnica. A economia prosperou, assente em grandes instalações agro-pecuárias e extensas fazendas, sobretudo de café e sisal. O envio massivo de “contratados” para trabalharem nestas fazendas constitui outra fase da história das “modernas formas de escravidão” no Município, que se encontra por documentar.
Como por documentar estão também as últimas páginas da história mais contemporânea do região, já que após a independência de Angola e instauração da guerra civil, que opôs os partidários do Governo (MPLA) à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e à Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), o Libolo, dada a sua relativa proximidade ao Bailundo, onde a UNITA instalara o quartel-general, foi alvo de várias incursões por parte das tropas deste movimento, que chegaram a instalar-se na povoação de Calulo e a dominar praticamente todo o Município, em determinados períodos da história da guerra civil angolana. O abandono das fazendas e instalações agro-pecuárias, por parte dos colonos, a que se aliaram os efeitos da guerra civil, fez ruir o sistema económico-produtivo, educacional e rodoviário do Município. A povoação de Calulo, onde se sediaram as tropas do Governo durante o período da guerra civil, representava o único ponto de segurança para a população das Comunas do Libolo. O êxodo da população das outras Comunas para a sede do Município ocorreu em grande escala e originou uma nova conjuntura socio-económica, com a redistribuição geográfica da massa de habitantes das Comunas do Libolo. O Quissongo, a Cabuta e a Munenga desertificaram-se e a sede do município enfrentou uma explosão demográfica para a qual as suas debilitadas infraestruturas não estavam preparadas. Os bairros periféricos aumentaram consideravelmente e actualmente, uma década volvida sobre a morte do líder da UNITA e instalação da paz em Angola, as Comunas desertificadas enfrentam dificuldades de repovoamento, que as continuam a afetar social e economicamente. De acordo com dados dos censos da região, recolhidos pelo Prof. Dr. Carlos Figueiredo durante o trabalho de campo em 2011, junto da Comissão Executiva Municipal para o Processo Eleitoral do Município do Libolo,o percentual de habitantes que ainda não tinham atingido a idade de votar era de 46.5%, um valor que atesta estarmos em presença de uma população bastante jovem no Libolo. A distribuição dos habitantes e votantes por Comuna era a seguinte:
(1)                Comuna de Calulo: 52736 habitantes, dos quais 22179 em idade de votar (42.0%);
(2)                Comuna da Cabuta: 12906 habitantes, dos quais 8607 em idade de votar (66.7%);
(3)                Comuna da Munenga: 14567 habitantes, dos quais 4453 em idade de votar (30.6%);
(4)                Comuna do Quissongo: 5244 habitantes, dos quais 4454 em idade de votar (84.9%).
Presentemente, pode considerar-se que apenas a povoação de Calulo possui infraestruturas a funcionar, embora de forma limitada. As oportunidades de emprego são escassas na região, sobretudo para os mais jovens, e as escolas do Município encontram-se a laborar enfrentando dificuldades materiais e de recursos humanos. Calulo está ligado a Luanda por uma via asfaltada de boa qualidade, que atravessa a Comuna da Munenga, mas a estrada que faz a conexão entre Calulo e a Cabuta possui apenas cerca de quatro quilómetros de asfalto, até ao local onde está instalado o pequeno aeroporto do Município. O resto do piso é em terra batida e não está em bom estado de conservação. Por seu lado, a ligação de terra batida às áreas mais afastadas da Comuna do Quissongo apresenta-se bastante comprometida, sobretudo na estação das chuvas.
O percentual dos habitantes em idade de votar dá-nos uma ideia acerca do envelhecimento da população nas diferentes Comunas administrativas. Como se pode verificar, nas Comunas de Calulo e da Munenga, servidas pela estrada asfaltada que liga a Luanda, a população é bastante jovem, já que o percentual de habitantes em idade de votar é inferior à dos que ainda não atingiram essa idade. Contrariamente, as Comunas da Cabuta e do Quissongo, mais isoladas, registam um percentual de votantes mais alto do que o dos não votantes, comprovando-se o envelhecimento da população e a recusa dos mais jovens em abandonarem a sede do Município, onde muitos se fixaram e outros terão já nascido. No caso concreto do Quissongo, a mais extensa Comuna do Município, a situação é mesmo periclitante, já que evidencia um número diminuto de habitantes, com um percentual de envelhecimento extremamente elevado. Resta referir que, à exceção de Calulo, o ensino em todas as outras Comunas administrativas é bastante limitado e ministrado quase apenas por alfabetizadores e alguns professores do ensino primário.

domingo, junho 01, 2014

A IMPACTO DO CONSUMISMO NA ECONOMIA DOMÉSTICA

(A reflexão de sempre)
Acordei tropeçando em sapatos que raras vezes uso. Abri o roupeiro e deparei-me com muita roupa que uso de vez em quando ou quase nunca.

- Vivemos comprando coisas que não precisamos,
- Com o dinheiro que não é nosso (créditos bancários).
- Para parecer que somos o que não somos (financeiramente folgados).
É óbvio que não precisamos de viver no limite das possibilidades, tendo apenas o estritamente necessário. Não precisamos de ter “a máquina” no limite de potência, entrando em descompasso caso um “equipamento” entre inesperadamente em actividade. Mas, que tal ser mais comedidos nas compras?
Os especialistas em marketing sempre nos impingirão a comprar cada vez mais e satisfazerem, desta forma o desejo dos vendedores e prestadores de serviços para quem trabalham. Os fabricantes e prestadores de serviços (combinados ou desagregados) vivem da produção e venda. É o consumo que gera crescimento. Mais consumo resulta em mais dinheiro e mais investimentos. Hoje, os produtos e até os serviços que se prestam são dimensionados no tempo. Desvalorizam-se à velocidade da criatividade e da moda tornando muito efémera a sua duração. Você compra um veículo cujo design é atraente. Seis meses depois sai um novo modelo com um design “irresistível”. Você precisa de veículo em bom estado técnico para se locomover ou precisa de andar naquele com novo design?

Quem segue a moda apenas vai dançando a música dos produtores, amplificada pelos homens da promoção. Você será o homem ou a mulher que sempre estará na praça, comprando a qualquer preço, com o dinheiro que (ainda) não é seu. E vai trabalhar cada vez mais para pagar o que você deve ao banco que também lucra com os juros.

Ou você descarta a moda que o leva a usar "produtos perecíveis" ou sentir-se-á como eu que, mesmo estando desalinhado com a moda, me sinto cheio de coisas que me parecem estar a mais.