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terça-feira, maio 22, 2012

Anotações ao Jornalismo angolano

O que há e o que falta no interior

Nota Prévia:
Metajornalismo: é a tendência do jornalismo que visa analisar o desempenho, de forma crítica, da media, apontando o que, no interesse do público, seria de destacar/realçar como também as proprias valências /carências dos jornalistas.

Portanto, estes "apanhados" não visam apontar o dedo a este ou àquele jornalista, a este ou àquele media concreto. É somente a ideia geral do que se passa no interior de Angola, alí onde há vontade, cumpre-se com o mínimo, mas faltam ferramentas técnicas que propiciariam um desempenho ainda melhor. Pretende o autor desta prosa, com essa sua visão crítica, despertar os jornalistas e responsáveis dos Órgãos de Comunicação Social para a necessidade de uma formação e auto-superação constantes.

                1- Ausência de Profundidade e ousadia no trabalho jornalístico

É uma das pragas que assolam pela negativa o nosso jornalismo. Embora se defina o jornalismo como “Literatura com pressa”, esta actividade não deve ser exercida de forma tão apressada ao ponto de matar os acontecimentos.

Depois de um facto, os destinatários da informação querem sempre saber o que vem depois. É como num jogo; onde depois da finta o espectador quer saber qual será o passo seguinte. Os jornalistas têm ignorado este aspecto, não nos dando o antes e o depois.

Segundo a teoria social, é a enumeração de factos que faz os fenómenos. No jornalismo, é o seguimento detalhado de um assunto que faz Um Caso ou uma grande reportagem. Daí que uma boa reportagem deve ter sequência e profundidade.

O imediatismo ou o laxismo mutila o exercício do jornalismo sério, responsável e comprometido com a sociedade que reclama, cada vez mais, por um jornalismo virado ao cidadão. Por outro lado, é preciso que o jornalista tenha a ousadia de ir buscar outros elementos para além do óbvio. A isso se chama jornalismo de profundidade ou de investigação. É preciso seguir todos os desenvolvimentos e conexões possíveis de um caso e chegar ao fim da estória.

                    2- Uso/domínio da língua de trabalho (portuguesa)
Alguns jornalistas denotam conhecimentos bastante precários da língua com que trabalham. Muitos não dominam as mais elementares regras gramaticais como a concordância e a regência verbal. Desconhecem as formas de tratamento e de reverência, confundindo ou misturando os pronomes tu e você (2ª e 3ª pessoas) ou ainda confundindo excelentíssima com o reverendíssima. Outros, mesmo trabalhando em rádio, que requer elevada capacidade de improvisação, nem possuem no seu léxico habitual um universo de mil palavras. Isso faz deles redundates por demasia, sem uma pauta mental de sinónimos nem antónimos.
3- Domínio das técnicas de redacção Jornalística

Salvo contáveis excepções, o texto não passa de um punhado de adjectivos e adjectivos. São frases desencontradas, incoerentes, redundantes, confusas/sentido. Apenas agradáveis ao ouvido (na forma de discurso oral) mas sem conteúdo que se retenha. É como “comprar sem nada levar para casa”.

4- Recolha de informação e cruzamento de fontes

Uma boa notícia não reside na maneira como o facto é protagonizado ou na natureza dos seus protagonistas. A "boa notícia" reside na boa recolha, cruzamento e tratamento da informação. Os jornalistas limitam-se a anunciar o óbvio. Limitam-se a ligar o microfone e reproduzir “ipis verbis” o discurso da fonte primária, esquecendo-se que o assunto pode ser vivificado com outros elementos. Numa reportagem, por exemplo, sobre a inauguração de uma escola, o jornalista esquece-se de fazer o antes da escola, a inauguração e a pós-inauguração. Esquece-se de ler e interpretar o mundo que circunda o acontecimento, o que acaba por limitar a informação veiculada. Numa reclamação de trabalhadores sobre salários, os jornalistas limitam-se a ouvir os queixosos, não dando voz ao empregador visado nem as entidades reguladora e sindical. Outros limitam-se por exemplo a recolher os custos da escola e nunca os beneficios/beneficiários... 
5- Exercício da profissão e necessidade de formação

Os níveis de conhecimento, quer técnico quer geral são deficientes. Não há escolas especializadas no interior , nem frequência constante de cursos de superação. Não existem “cafés de ideias” nem outros instrumentos informais que permitam a troca e/ou passagem de experiências entre os jornalistas. As valências internas (os santos de casa) nunca são exploradas.
Os jornalistas de referências da praça são “tarimbeiros” que aprenderam a exercitar o ofício (na oficina) vendo os seus mestres a fazer. Poucos possuem fundamentos teóricos e pouquíssimos ainda exercitam “estudos de casos”, como acontece nas universidades e escolas especializadas. Embora alguns se afirmem como os grandes “papões” muitos estão desprovidos de conhecimentos adequados e sólidos sobre o jornalismo moderno, quando comparados com a "praça luandense". Torna-se necessária uma formação contínua dos escribas para melhorar o desempenho técnico-profissional dos jornalistas.