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quinta-feira, junho 17, 2010

A MINHA LUTA PELO "KIBALÊS"

Tomei conhecimento, via Klub-K, da (prosa do confrade Kitumba Evaristo) de um estudo realizado no Kuanza-Sul e que é chancelado pelos Senhores Dr. António Panguila (Historiador e Escritor) e Avelino António Kalunda (Consultor Técnico), datado de Luanda 16 de Junho de 2010, cuja conclusão é: “… No Kuanza-Sul, a  Língua é denominada em função do nome de cada município; assim, os da Kibala, dizem que falam a língua Kibala; os do Ebo, dizem que falam a língua Ebo; os de Mussende, dizem que falam a língua Sende; os da Gabela, dizem que falam a língua Mboim, etc. De qualquer maneira, a variante Kibala é a mais falada como dialecto do Kimbundu, falado nos oito (8) Municípios da província (Kibala, Libolo, Mussende, Waku-Kungu, Ebo, Gabela, Kilenda e Porta-Amboim) com a excepção dos municípios do Sumbe Konda, Uku-Seles e Kassongue, que falam o dialecto do Umbundu.

Atendendo que a Província do Kwanza-Sul possui dois (2) grandes grupos etnolinguísticos isto é, o grupo Ambundu e o grupo Ovimbundu, que motivaram a fala do Dialecto do Kimbundu e o de Umbundu, para se encontrar uma denominação ideal da língua da referida região, passa necessariamente em aglutinar as denominações «KIMBUNDU e UMBUNDU» (Kimbundu + Umbundu = à Kimbundubundu), dois (2) dialectos falados na referida região, dando origem a palavra «Kimbundubundu», proposta como nome único da Língua Franca da província do Kwanza-Sul, de tal modo que se salvaguarde o equilíbrio étnico da região, capaz de proporcionar a unidade etnolinguística e cultural da Província…”.


OS MEUS ARGUMENTOS

O estudo (que abaixo transcrevo) me parece tecnicamente bem elaborado e com (alguma) cientificidade. Porém, discordo da nomenclatura proposta para designar uma língua "comum” inexistente (já que são dois subgrupos que derivam do ambundu e umbundu) juntando as matrizes das variantes principais que se falam no Kuanza-Sul.



As línguas não possuem fronteiras estanques. Os habitantes da fronteira (zona de confluência linguística entre Portugal e Espanha) não falam oficialmente portunhol.


As línguas de cada povo ou aglomerado etnolinguístico têm, geralmente, como designação o gentílico deste povo. Portugueses falam português, chineses falam chinês, não vejo por que razão falarão os povos do Kuanza-sul o proposto kimbundumbundu, nem vejo a razão de fundir as duas vertentes (uma do umbundu e outra do kimbundu) em apenas uma, fazendo dela a língua do Kuanza-Sul que sempre teve as suas línguas (in)dependentes, umas das outras.
Daí que difícilmente um falante de kimbundu aceitará ser considerado falante de "Kimbundumbundu", o nome proposto, tão menos os homens do sul da província, que se comunica fluentemente em umbundu, o consentirão.

Em “Ngoya ou Kibala eis a questão”, publicado nesta e noutras páginas, tenho os argumentos de razão que complementam esta dissertação.


E já agora, se se considerar como válida a proposta, qual seria o gentílico dos povos falantes desta “nova língua”?.



_ Kimbundumbundês?


O estudo em questão
Fonte: Club-k.net: Quarta, 16 Junho 2010 23:27

Problematica línguistica da província do Kwanza-Sul - Kitumba Evaristo

"Kwanza-Sul - Introdução: A língua, é veículo sócio – divino da alma; é caminho do pensamento e sentimento humano e transumanos; é também motivo de suma importância visto que, as condições sociais do contacto partem da necessidade de comunicação entre diferentes grupos etnolinguísticos através da língua.

Proposta da denominação ideal da língua
De qualquer maneira, não é possível desenvolver uma determinada sociedade sem estabelecer intenso contactos económicos, políticos e culturais. Por este motivo, temos vindo a desenvolver uma intensa actividade de investigação científica, na tentativa de encontrar a verdadeira e ideal denominação da Língua Franca da Província do Kwanza-Sul.

A nossa grande preocupação reside no facto de a grande maioria da população reagir negativamente e com íra em relação ao termo “Ngoya” como nome da Língua da Província do Kwanza-Sul. Esta denominação foi dada sem contudo, se realizar um trabalho de investigação científica numa província, onde uma só língua tem muitos nomes.

A denominação certa de uma determinada língua baseia-se em critério sociolinguístico, pois deve ser determinada pela consciência colectiva correspondente, que consiste pelo facto dos falantes terem o conhecimento da língua que falam e concordarem com a denominação da mesma.

Origem da grande maioria da população do Kwanza-Sul (breve historial)
Com base nos dados recolhidos, dá-se conta que até 1930, os nativos da Kibala, falavam fluentemente a Língua Kimbundu, tal como se fala em Malange, motivo pelo qual, a referida população nativa, ter origem do Reino do Pungu-a-Ndongo.

O irmão do Ngola Kiluanji-Kya-Samba, chamado Kipala-Kya-Samba, por ordem do seu Soberano irmão aqui já referido, provavelmente, antes do Século XV, deixa o Pungu-a-Ndongo e parte com um grande grupo de homens e mulheres, atravessam o Rio Kwanza, na área chamada “Salto de Cavalo” e entram na região do Kwanza-Sul, ocupando a área da Kibala; o nome “Kibala” tem como termo original «kipala», por uma questão fonética da língua portuguesa, foi alterada para o termo «Kibala»; Kipala, significa “Rosto”; Kibala, é nome do seu fundador, o primeiro Soba da Kibala.

Depois da ocupação efectiva da Região da Kibala pelo seu primeiro Soba, Kipala-Kya-Samba (o que Significa filho da Samba), um dos membros desta Comunidade, chamado Katyavala Buíla, sem dar satisfação as autoridades politicas da Kibala, retira-se com um grande grupo de mulheres e homens e, funda o Reino do Bailundu, com toda a autoridade estabelecida, o que não contentou o Soba Kipala-Kya-Samba, anos depois, este organiza o seu Exército e invade o Bailundu, pondo em debandada as autoridades politicas daquele Reino, o que resultou a captura de mulheres e homens levados para Kibala como Reféns; o próprio Rei Katyavala, saiu deste ataque incólume tendo restabelecido novamente a sua autoridade politica. Assim sendo, com a presença dos reféns nativos do Bailundu em Kibala, que mais tarde deixaram de ser escravos, a língua Kimbundu funde-se com a língua Umbundu dando origem aos dialectos do Kimbundu e Umbundu falados na Província do Kwanza-Sul.

As autoridades da Kibala, não voltaram a atacar o Bailundu, pois o próprio Soba arrependeu-se de ter proporcionado guerra contra o Bailundu, uma vez que o seu fundador é seu parente.

O Governo da Kibala era composto pelo Soba, Ministro de Guerra que residia na Aldeia de Muxingi na região de Kitambi 37 Km da Sede Municipal da Kibala e o Ministro da agricultura que residia na região do Tari, à trinta (30) Km da Sede Municipal da Kibala, com o poder do domínio da chuva em todo território nacional, este tinha o Título de Kwkwa-Kioko, e dava instruções mágicas a toda região do Kwanza-Sul assim como também em Malange, sobre as técnicas de como se faz parar a chuva.

Ainda dados também recolhidos, dá-nos conta que em 1914, os colonialistas portugueses, para criar dificuldades à população nativa, decidiram ocupar todas as terras férteis em toda província do Kwanza-Sul, de tal forma que os Autóctones tiveram que praticar a agricultura de subsistência nas montanhas, o que provocou uma grande penúria alimentar. O governo dos colonizados da Kibala, se reuniu estrategicamente em Muxingi, o Ministro da Guerra recebe ordens de atacar o Exército Colonial e destruir todos os objectivos económicos.

O Exército Colonial sofreu grandes baixas em campo de batalha, obrigado a negociar com o Soba Kandimba do Bailundu, que lhes deu o apoio militar e que conseguiu desvendar o segredo mágico do Ministro da Guerra da Kibala, chamdo Kapanga-a-Lunga, que depois disto já não conseguiam vitórias nas operações militares.

A ajuda que o Bailundu prestou aos invasores Portugueses, foi interpretada pelas autoridades da Kibala como traição à Pátria e aos interesses dos Negros, porque o Soba Kandimba mandou o seu Exército atacar e matar Negros iguais. Esta acção, minou o relacionamento entre a população da Kibala e a do Bailundu, em que quando se encotravam nas htongas (Grandes Rossas de cafeiros), os Kibalas não conversavam nem comiam com os Bailundu. Estes enfurecidos diziam: (Ove olo ngoya), o que significa dizer, “estes são gulosos por isso é que não aceitam conviver connosco.”

Ngoya, é um termo pejorativo com que os Bailundu insultavam e chamavam os Kibala, que na Língua Umbundu, significa: Guloso, oportunista ou individualista, pelo que não é nome de uma língua, aliás, nenhuma Língua Africana tem esta denominação, outrossim também é nome de uma montanha que fica situada na fronteira entre o Município do Waku-Kungu e o do Bailundu.

Assim sendo, o Exército do Kapanga-a-Alunga foi vencido, ele e outros seus oficiais foram apanhados vivos, obrigados a lenharem e com as mesmas lenhas foram queimados numa pedra chamada Dand-ya-Kyawle (pedra onde o Kapanga-a-Alunga e os seus Oficiais foram queimados). Estes dados foram fornecidos pelo Ñgana-Ekete (que significa Anti-bala ou Senhor duro como ferro), e pelo Soba Kitumba de Kitambi, sendo o primeiro Ex-Oficial e sobrevivente da guerra do Kapanga-a-Alunga, também conhecida de guerra de Kandimba. Antigamente, isto é no período pré-colonial, o chefe Máximo da Kibala, não tinha o Título de Rei porque dependia já de um outro Rei, o Rei Ngola Kiluanji-Kya-Samba isto é, dependia do reino do Ndongo; em caso da morte do Soba da Kibala, o seu sucessor, tinha de ser empossado pelas Autoridades do Pungu-a-Ndongo, ao passo que todos os oito (8) Municípios que falam a variante Kibala, os seus Sobas eram empossados pelas autoridades da Kibala com excepção dos Municípios do Sumbe, Konda, Uku-Seles e Kassongue, que foram constituídos mais tarde e que falam o dialecto do Umbundu".