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quinta-feira, fevereiro 04, 2010

FORMAÇÃO E MOBILIDADE JORNALÍSTICA NAS FM DE LUANDA

= é um fenómeno normal de mercados concorrenciais =
A LAC, criada em Setembro de 1992 antes das primeiras eleições multipartidárias; a Eclésia, ressurgida em 1997; a Despertar, substituta da VORGAN e a Rádio Mais, criada em 2009 constituem as rádios comerciais de Luanda e que emitem em Frequência Modulada. Todas elas subsistem, teoricamente, da comercialização de espaços, campanhas publicitárias e anúncios.

A Rádio Luanda, Rádio Cinco, Rádio FM Stéreo e a Rádio Escola (vinculada ao Ministério da Comunicação Social) estão ligadas umbilicalmente à Emissora Pública Nacional, a RNA.

Em 1992, quando da abertura da LAC, o que o mercado assistiu foi uma fuga dos melhores quadros da RNA para a novel emissora, fruto do factor novidade da sua programação, mais condizente com a realidade política-democrática do momento, e dos atractivos salários que praticava. O país entrava para a concorrência e sopravam ventos de mudança em todos os sentidos. “A camisola tinha sido colocada no roupeiro e o estômago já tomava decisões laborais”.

Assim, vimos jornalistas como Ismael Mateus, Paula Simons, Pedro Correia, José Rodrigues, Mateus Gonçalves, Amélia Pombo (de Aguiar), entre outros, juntarem-se à directora Maria Luisa, na LAC.

A RNA mais se parecia a “uma senhora que perdera os melhores filhos”. A retomada das emissões da Eclésia só viria a complicar ainda mais a situação da RNA que mal se refez do “tufão LAC” viu outros dos seus melhores filhos partirem. Destacam-se nesta “emigração” nomes como os de Mário Vaz (hoje na TPA), Laurinda Tavares, entre outros, que faziam o núcleo áureo das manhãs informativas da Nacional. Até a LAC ganhou concorrência e não deixou de ver jornalistas e sonoplastas “rezarem” na Emissora Católica.

O cenário de Luanda era também vivido nas províncias de Cabinda Benguela e Huila onde as FM Comercial, Morena e 2000 faziam concorrência às apêndices da RNA, as emissoras locais.

Havia esperança de que a abertura democrática do país à economia de mercado de livre concorrência viesse a potenciar a produção e concomitantemente o mercado publicitário que é a grande alavanca financeira da média privada.

O retomar da guerra, porém, e a estagnação da produção nacional veram a criar sérias dificuldades financeiras às emissoras comerciais, o que levou também à estagnação dos investimentos e dos salários, para além de uma tenaz máquina intimidatória contra a média privada e jornalistas mais espevitados que partia do “Edifício da Avenida dos Combatentes”.

Os profissionais do grupo RNA, por sua vez, viram os seus ordenados melhorados, protegidos pelo poder político instituído, graças à informação paternalistas que veiculavam, e ainda bafejados com ofertas de casas, viaturas e postos de chefias. Para este ultimo aspecto, bastará olhar para a estrutura orgânica dos OCS púbicos, havendo nalguns casos chefes sem subordinados.

Estes factores pesaram bastante para o retorno de muitos profissionais que tinham emigrado, levando consigo jovens recém-formados pelas FM privadas.

A melhoria dos salários, as viagens ao exterior, a estabilidade do emprego, entre outras regalias, foram “armas decisivas” para a inversão do fenómeno migratório a favor da média pública.

As comerciais passaram à condição de simples formadores de mão-de-obra que uma vez experiente viam partir, fruto do assédio da media pública que tinha igualmente interesse em esvazia as FM e diminuir o seu poder de influenciar a opinião pública. A TPA, RNA e o Jornal de Angola estão hoje repletos destes jovens (do meu tempo e de tempos mais próximos).

Hoje, o tempo médio de permanência de um jovem numa comercial vai até um ano, o que corresponde exactamente ao período de um estágio bem sucedido. Esse factor levou também à depreciação da qualidade do serviço jornalístico destas emissoras que, embora conservem alguns “mais velhos” que definem as políticas editoriais e os conteúdos programáticos, se vêem forçados a trabalhar com executores inexperientes e com fraco domínio da língua e das técnicas.

Se as comerciais precisam hoje de jovens inexperientes, por serem pouco exigentes quanto ao salário, estes jovens também precisam das comerciais como trampolim para outros vôos. É nelas que rapidamente se afirmam e encontram, o mais cedo possível, quem para eles acene. Essa é a realidade nas redacções jornalísticas da media privada, em geral, onde a mobilidade é tão grande, chegando a haver renovação completa em apenas 24 meses ou menos, sendo destino a comunicação social pública, a Nova Media (de capitais híbridos), a assessoria de imprensa e afins.

Outro factor que propicia a constante mobilidade dos jovens jornalistas tem sido a elevação da formação académica em áreas não relacionadas com o jornalismo e as ciências da comunicação. Uma vez terminadas as licenciaturas, os jovens partem para a aplicação prática dos seus conhecimentos académicos. Assim, o jornalismo radiofónico, em particular, tornou-se numa porta de passagem para outros destinos bem mais remunerados e valorizados, deixando de ser, a arte de informar, um ofício atrativo para muitos jovens com reforçado apego ao dinheiro e estabilidade material.

Fruto desta situação, assistimos também à carência, no mercado angolano, de jornalistas de grande gabarito e performances para as mais díspares necessidades. Os grandes gurus vêem-se sem discípulos sérios para legar conhecimentos, devido à efêmera estadia dos jovens nas redacções, e o mercado externo começa a ser a solução para o preenchimento de vagas nas redações. Estes expatriados, nem todos de boa qualidade, acabam por inflacionar o mercado, “colonizar” o nosso espaço mediático com vícios de outras paragens e jargões que não se adaptam nem ao nosso “linguajar”, nem ao nosso ser e estar.

Que solução?

_ A palavra é sua. Comente!

2 comentários:

Anónimo disse...

Saudações.
Muito grato pela visão e interesse que (sempre)manifestastes em relação ao assunto, aquí apresentado em forma de extensão de muitas abordagens que tivemos a oportunidade de fazer, em vários fóruns.
Contudo, penso que a reflexão deve ser extensiva, em parte, à qualidade do ensino da profissão que é feita, particularmente, no IMEL(saudades do tempo) e no CEFOJOR,(precisa reestruturar o curriculum do curso).
Por outro lado, o poder económico cada vez mais concentrado numa minoria permite, a esta, a capacidade de gerir a "festa" ao prazer da sua música, com aliciamento aos quadros das FM, afim destes prestarem serviço nas novas empresas de conunicação, criadas com fundos, cuja proveníência, quase que nunca são declarados....
O estabelecimento de uma tabela salarial para quem faz a mesma coisa seja em que órgão for, se calhar, poder ajudar no assunto, pois, as diferenças seriam, apenas em termos dos subsídios de chefia, o que anulariam os chefes sem caxico, aliás, subordinados, como bem reflectiste.
A criação da comissão de carteira e ética deontológica é outra etapa a percorrer rumo à solução do assunto, isto porque, se calhar, seria ela a definir quando e porque motivos os expatriados podem tirar o pão do nacional... Atenção, nada de xenofobia, mas com o CEFOJOR E o IMEL a formarem por cada ano qualquer coisa como duas centenas de jornalistas, (muitos deles entregues ao quem sabe um dia!) não vejo porquê que os portugas e brasucas vêm em Angola para ensinar-nos como se puxa o cabo que liga à câmara...

C.C.Adão

Anónimo disse...

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