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quinta-feira, novembro 19, 2009

O MELHOR DIA PARA UMA NOTA DE IMPRENSA

Quando o assunto é temporal, quando se torna inadiável levar o assunto institucional à esfera pública, não há escolha de tempo. O melhor dia seria “ontem”.

Porém, quando pode haver a escolha do melhor momento, quando se quer e pode dar maior amplitude e noticiabilidade ao facto, qual a melhor altura para “soltar” uma Nota de Imprensa/Press Release?

Da minha experiência jornalística notei que à segunda-feira, fruto da “improdutividade” do fim-de-semana, as redacções estão carentes de notícias. As redaçcões precisam de factos novos. Daí que o aproveitamento de uma press release é quase que generalizada e total. A adesão é maior e melhor.

Quanto à redacção da nota de impensa, é melhor aquela em que os jornalistas não só encontrem respostas aos clássicos elementos do lead, como também se ajuste ao estilo redactorial da casa, daí quem não será um exercício vazio rescrever a nota, indo de acordo ao estilo de redacção de cada receptor. Regra geral, os jornalistas gostam de ver facilitada a sua tarefa. É importante que os elementos que satisfaçam ao lead estejam no princípio da press release.

O título da press release deve ser atractivo aos jornalistas, pois "se o pregão for mal efectuado, por melhor que seja o produto, poucos ou ninguém a ele chegará". Se a nota de imprensa for enviada por e-mail, será importante ligar aos receptores, para confirmarem a recepção. Apesar da cultura, há jornalistas que ainda não abrem com regularidade ou à chegada à redacção os seus correios electrónicos.

Os conselhos acima aplicam-se às notas e pedidos de cobertura noticiosa.
Motivo, Local, Data e Hora, para além de outros elementos periféricos, são importantes.

Note que as Rádios precisam de som e, se alguém estiver habilitado a falar de véspera, o ideal seria colocar na Nota o contacto deste "porta-voz".

Luciano Canhanga

domingo, novembro 01, 2009

O ACTO MATRIMONIAL ENTRE OS LIBOLO E KIBALA

O CASAMENTO (Ú SOÑONA)
Os povos do Libolo e da Kibala (municípios da província angolana do Kuanza-Sul) consideram-se kisoko* por isso mesmo são pacíficos os actos matrimoniais entre estes dois povos do grupo ambundu.

O acto matrimonial tem início com o galanteio ou conquista (ú seka), sendo normalmente o homem quem toma a iniciativa ou os pais deste, podendo ainda a família contrária propor o mesmo à família do rapaz.

Normalmente, é na adolescência que começam os galanteios quando não se tratem de individuos já adultos e em segundas núpcias.  A idade biológica é irrelevante, falando mais a robustez física, atendendo a maturidade  precoce ou retardada dos individuos. O desenvolvimento físico na mulher é factor de relevância.

As adolescentes juntam-se, regra geral, em casa duma idosa, pretenciosamente para dela cuidarem e aprenderem lições de vida, com realce à vida conjugal futura. É nesta kandumba (caserna) onde os adolescentes e jovens do sexo masculino se sentem à vontade para o desfilar de rosários.

Ter um objecto de uso pessoal da jovem pretendida, um lenço, um pano, ou uma pulseira, é considerado meio camino andado para o passo seguinte. Porém, a sociedade/comunidade atenta deve aprovar ou reprovar esta relação nascente em que jogam preponderantemente os activos e passivos entre ambas as famílias. Se reprovação não houver, o passo seguinte será a oferta de uma porção de tabaco, um maço de cigarros ou um valor equivalente à tia paterna ou avó da pretendida.

A aceitação desta oferta será o selo de que nada obsta o namoro entre os jovens, pasando à categoria seguite de “a muibula” que siginifica estar ocupada ou pretendida.

KUIBULA (PRETENDER)
O acto tem o significado exacto de pretender a rapariga. Perguntar às famílias se nada obsta. A aceitação da bouquilha de tabaco ou outro produto correspondente equivalente à aceitação do namoro por parte de quem o recebe e que deverá comunicar aos pais da jovem.

A família da rapariga deve, em seguida, reunir e analisar os hábitos do rapaz e de sua descendência, jogando preponderantemente a amizade ou atritos que haja entre ambas, caso sejam de mesma aldeia ou de aldeias próximas.

Ultrapassado favoravelmente este passo, um emissário é enviado à parte do pretendente, comunicando-lhe a aceitação formal do namoro, passando o jovem a frequentar a casa dos sogros, idem a jovem que se deve prestar a alguns serviços domésticos em casa da futura sogra. É o ensaio.
São esses actos que ajudarão a determinar se a futura nora é ou não honesta e trabalhadora. Chegados a este patamar a sociedade jamais permitirá relacionamentos paralelos, sobretudo se praticados pala nubente, sendo qualquer acção desrespeitosa para com ela passivel de uma multa pecuniária e, às vezes, castigos físicos, ditados pelo soba da comunidade.

ÚLEMBA (Alembamento)
É o acto pelo qual a família do noivo formaliza o noivado através da entrega de bens à família da jovem. Não se trata de compra, como alguns podem pensar.

É apenas um acto que valoriza a noiva e que sub entende o costume e o respeito pelas tradições seculares. Não fazer o alembamento é que se torna anomalia e nunca o contrário.

Nas comunidades rurais mais recônditas a bebida mais usada é o kaporroto ( bebida destilada). O noivo, ajudado pela família, deve juntar garrafões de kaporroto em número variável, panos para a sogra, cobertor para a avós, o dinheiro do alembamento que acompanha a carta de pedido devidamente forrada em lenço branco e fechada com alfinetes dourados.

Nas comunidades mais iluminadas o Kaporroto é substituido por garrafões de vinho, wisky, caixas de refrigerantes e cerveja, cigarros, peças de panos para a sogra, fato para o sogro e outros bens. Há famílas que enviam uma lista de bens e outras que são liberais.

Geralmente a família do noivo é recebido em festa, abatendo-se um animal quadrúpede doméstico e outro que é oferecido vivo à família da noiva em forma de dote.

O ACTO FINAL: Ú-UANA (A BUSCA)
Levar a mulher da casa de seus pais é o acto consumatório da união matrimonial entre os nubentes. Preparada a casa em que viverá o novo casal, a família do noivo envia um emissário à casa da família da noiva com a missão de a ir buscar.

O emissário, um tio, uma tia, um kisoko ou outro individuo de confiança ou amigo comum dos nubentes leva um garrafão de kaporroto, ou algumas caixas de cerveja e refrigerantes, dependendo do lugar e das posses.

Deve munir-se de alguma pecúnia de reserva para em caso de multas devidas a atrasos na chagada ou gravidez em casa dos pais. Recebido em festa, apresneta o mahezo (conta o motivo da visita) e é acompanhado com o bater de palmas à medida que discorre o discurso.

Uma tia, amiga ou outra representante acompanha a nova ao seu novo lar. A noiva vai normalmente de rosto coberto destapando o véu somente depois de apresentada pela acompanhante à sua nova família, os sogros. Manda a tradição que na primeira noite ambas tias da noiva e do noivo dvem confirmar a virgindade da rapariga através de lenções novos e brancos que ao raiar do sol são por elas recolhios devendo estar ensanguentados, sinónimo de que houve defloramento naquela noite nupcial.

Se se confirmar o defloramento, ambas tias rejubilam-se, sendo motivo de orgulho das famílias por se ter cumprido a norma tradicional. Há vezes, porém, em que tal acto não passa de uma simples montagem com a conivência de ambas tias. Pegam numa galinha e escondem-na no quarto dos nubentes. À noite, sacrificam-na e o sangue é usado para sujar os lençóis.


A festa de despedida entre o noivo e sua família e as acompanhantes da noiva é regada de muito kaporroto, vinho e/ou outras bebidas, dependente dos hábitos de consumo, do local e das posses. Há famílias que fazem acompanhar a sua filha de um dote (em retribuição ao recebido). Normalmente uma vaca ou outro animal de médio porte, cuja reprodução deverá ser seguida na mesma bitola pelo novo casal.  Este dote tem, porém, outros significados importantes a reter: 1- O apreço que os pais da noiva nutrem pelo genro; 2- Que não a maltratem, pois também têm posses.

A REPRODUÇÃO (ÚKITA)
É o passo seguinte. Ambas famílias permanecem atentas à primeira gravidez da jovem, sendo motivo de preocupação se tal não acontecer nos primeiros seis meses de casamento.


* Kisoko é termo em kimbundu que significa (pessoa ou povos com quem se tem) um pacto de amizade, amor, fraternidade, relações igualitárias e ou privilegiadas ou íntimas. Entre dois kisoko até a asneira passa despercebida.


Luciano Canhanga