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segunda-feira, agosto 10, 2009

NASCE OUSADIA NO JORNAL DE ANGOLA

Habituado a ler títulos no diária nacional de orientação oficial que sempre nos convidaram a guardar o jornal ou saltar para a página dos anúncios, leio hoje, e com satisfação, na página online uma entrada curiosa: Japoneses no Ministério da Saúde*.

Dentro de mim perguntei-me: Será que o governo optou agora por contratar especialistas japoneses para a nossa saúde? Uma curiosidade que, com certeza, quis matar, e como?


Folheando a página correspondente ao que lí na chamada de capa:
“O ministro da Saúde, José Van-Dúnem, recebeu, em Luanda, a delegação japonesa chefiada pelo embaixador encarregado do Sector da Saúde para África e o conselheiro do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, Yasuhiro Yamamoto, com quem trocou impressões sobre os desafios na área médica em Angola.
Yamamoto é a figura mais importante na área de medicina de emergência no Japão.
Durante a audiência, o embaixador Yamamoto referiu que o Japão considera a área da Saúde como um dos pilares mais importantes na sua cooperação com Angola, por ser o -factor fundamental para a vida do povo-“.


Realmente, uma feliz ousadia e que só perde por tardia no nosso único diário. O apelo é para que: sem sensacionalismo os títulos despertem curiosidade para a compra do Jornal de Angola que nada custa aos seus fazedores, já que o custeamos todos nó (contribuintes).
Se assim for, em todas as matérias, e se todos os jornalistas intitularem com mestria, sem pintar em demasia, mas sem serem bastante redundantes, o Jornal de Angola só terá a sua cotação em alta, podendo ombrear, quem sabe, com os semanários que há muito aprenderam a lição, que até é da kabunga.

E na primeira página, como destaque do jornal, intitulava-se:


AGENDA ATÉ 2012
“Governo aprova projectos de grande impacto social”

Até aqui nada de anormal. A frustração do leitor só acontece quando lido o lead não encontra nem a designação/localização dos projectos, nem a benfeitoria dos mesmos.
Por dentro:
“O Conselho de Ministros aprovou, ontem, a carteira de projectos de grande impacto econômico e social, a desenvolver até 2012. A carteira de projectos tem o custo estimado de 1,2 mil milhões de dólares**, a serem financiados através da linha de crédito do banco de Desenvolvimento da China, investimento provado e outras linhas de crédito disponíveis. Um comunicado emitido no final da reunião refere que a carteira de projectos foi aprovado considerando o -potencial dos recursos naturais e a competitividade do sector, tendo em vista uma maior geração de emprego e renda-" >POLÍTICA/3

O que terá faltado ao articulista para não dar os elementos essenciais neste lead. Guardou a designação dos "importantíssimos projectos" na página interior onde geralmente poucos vão? E o título não é redundante? Ou é bastante assertivo para um jornal que queira endereçar o convite ao leitor?

*Texto de Fonseca Bengui, edição de Quinta, 16 de Julho 2009 Jornal de Angola.
** Por que não uma estimativa em Kuanzas, a nossa moeda?



Luciano Canhanga

sábado, agosto 01, 2009

JORNALISMO EM ANGOLA: COM OU SEM DIPLOMA?

Para mim é um debate oportuno e incentivo a sua extensão a todos os níveis da esfera pública, daí que tomo a liberdade (peço perdão aos colegas cujas ideias reproduzo sem anuência) de aqui expor o pouco do muito que ainda há por se dizer.

I
Cai exigência do diploma de jornalismo no Brasil
Por: Sérgio Matsuura e Izabela Vasconcelos
O diploma para o exercício da profissão de jornalista já não é mais uma obrigatoriedade no Brasil. Por oito votos a um, o Supremo Tribunal Federal considerou incompatível com a Constituição a exigência da graduação em jornalismo para o exercício da profissão, em votação do Recurso Extraordinário 511961, nesta quarta-feira (17/06). Os ministros Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello votaram contra a exigência. Apenas Marco Aurélio Mello votou a favor da obrigatoriedade do diploma.No início da sessão plenária, as teses se dividiram entre a posição defendida pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo e o Ministério Público Federal (MPF), contra a obrigatoriedade do diploma, e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), com o apoio da Advocacia Geral da União, sustentando a exigência.
Gilmar Mendes, relator do recurso, defendeu a autorregulação da imprensa. “São os próprios meios de comunicação que devem definir os seus controles”, afirmou.
Mesmo sem a exigência de diploma, os cursos de jornalismo devem continuar existindo, argumentou Mendes. “É inegável que a frequência a um curso superior pode dar uma formação sólida para o exercício cotidiano do jornalismo. Isso afasta a hipótese de que os cursos de jornalismo serão desnecessários”, avaliou.

II
Por: Luísa Rogério
Saudações a todos.
Devo confessar que essa notícia foi um balde de água fria para mim. O SJA subscreve a obrigatoriedade do diploma (alargado a outras áreas de formação) na nova proposta do Estatuto do Jornalista.
A nossa principal referência era o Brasil, uma vez que Portugal também derrogou essa exigência legal. Essa questão suscita alguma controvérsia no seio da própria classe, mas acho que sairemos todos a ganhar. Estaremos melhor preparados e os futuros jornalistas abraçarão a profissão com uma bagagem que muitos de nós, os produtos da tarimba, levaram longos anos a acumular.
A questionada postura ética e deontógica da media angolana durante o periodo eleitoral, mas não apenas nesse caso, constitui apenas um exemplo da necessidade de se elevar a fasquia em termos de formação.
Apesar de a lei não ter efeitos retroactivos, há ainda a vantagem de a obrigatoriedade do canudo incentivar muita gente a voltar para os bancos da escola, vencendo o receio de expor-se ao ridículo diante de colegas mais jovens, muitas vezes subordinados. Ressalvando as excepções que confirmam a regra, convém ao patronato ter a possibilidade de recrutar, ao menor custo, novos jornalistas. Já imaginaram que redacções teremos quando todos os jornalistas tiverem um canudo e puderem, a nível das redacções, sustentar e defender teses que contrariam práticas que atentam contra as chamadas regras de ouro? Evidentemente, não tenho a ilusão de que o diploma resolva todas as falhas nossas. Até porque, em países como o Brasil, discute-se diariamente a postura da media. E a discussão já é um começo. O meu receio, repito, é que se evoque o exemplo recente do Brasil para se chumbar o projecto de Estatuto.
Coloco a questão sem qualquer pretesão porque não ostento nenhum diploma universitário e digo isso sem problemas. Em síntese, além de fazer a apologia do diploma, socorro-me desta ladaínha para sensibilizar os colegas a participarem num encontro que o SJA promoverá brevemente para discutir-mos, uma vez mais, o ante-projecto de ESTATUTO DOS JORNALISTAS.

III
Por: Ismael Mateus
Quero felicitar o SJA por promover este debate. Oxalá eu possa participar.
É preciso ver a questao do Brasil com tranquilidade. Se agora foi alterado é porque antes havia essa condição. Como sabe quem acompanhou, a luta foi renhida e muitas vozes criticaram e criticam a alteraçao. O principal argumento é o mercado e o desemprego. Ao nivel da discussão etica estavamos exactamente como o Brasil estava há 30 anos quando isso foi imposto. Graças a isso a qualidade melhor, a respeitabilidade também e não há nenhuma crise de identidade da classe jornalista (o que é o nosso caso - vejam-se as discussoes sobre quem é jornalista ou os auto-proclamados jornalistas).

Em Portugal nãio há formalmente ujma obrigatoriedade de contrataçao de jornalistas com diploma. O que se passa é que é quase impensavel aparecer quem nao tenha. O proprio mercado assim o exige. Na hora de confrontar os cvs, a experiencia de trabalho ou o perfil tecnico do candidato, quem nao tem formaçao superior sai a perder.
Nos anos 90, houve uma ampla superaçao de profissionais com anos de trabalho no Cenjor e a maior parte deles foi elevada a equiparados a tecnicos superiores.
Portanto vamos ao debate, tranquilo, sereno e tendo em conta que o nosso caminho é aquele que decidirmos.
E parabéns novamente ao SJA

IV
Por: Luciano Canhanga
Prezados,
Felicito-os a todos por esta abordagem oportuna e anadiável para o ordenamento da nossa classe.
Óbvio que todos os argumentos de razão, quer dos prós, quer dos contra uma obrigatoriedade do género na nossa praça, já foram aqui esmiuçados.Quero apenas chamar-vos para que olhem para a nossa formação básica e média. Pensem na carga de conhecimentos que tínheis e na carga que têm agora aqueles que completam a oitava ou décima segunda classes e reflitamos todos se vale a pena fazer jornalismo com gente que nem o seu próprio nome sabe escrever em condições. Falo, não apenas como jornalista mas, como um pedagogo (sou tb. formado em Ciências da Educação pelo ISCED).

Portugal e Brasil antes de declararem a derrogação da obrigatoriedade do ensino superior (não se obriga que seja em ciências da comunicação) tiveram de arrumar a casa, profissiinalizando a classe. E nós? Se calhar valerá irmos discutindo o assunto em cada fórum possivel. Um braço a todos e boa reflexão.
V
Por:Elias André
Caros,
É bom e saudável falarmos de nós. Trata-se de uma questão que deve ser objecto de uma séria reflexão de todos os profissionais de comunicação social. O nosso passado recente não nos possibilitou termos Jornalistas formados. Talvez se tenha pensado que para se ser jornalista não é necessário ter formação superior. Aliás, diga-se que até aqui a profissão é exercida por pessoas sem essa formação superior, mas que têm garantido o jornalismo que o nosso mercado apresenta. Mas importa também destacar que esses "velhos" herdaram uma boa "escola" de jornalismo. Hoje, o cenário é totalmente diferente. Os colegas saidos do ensino médio, talvez por debilidades do próprio ensino sabemos que nível apresentam. A formação superior poderá não ser o factor determinante para o exercício de um óptimo jornalismo, mas, dá outra visão da profissão. Eu próprio sempre pensei que a minha formação média era suficiente, mas depois da Licenciatura conclui que é importante e melhor para o jornalista ter formação superior. Francamente, formação média para Jornalismo já não é nível aceitável hoje.

Não temos condições de exigir essa formação nesta fase porque a agressividade do mercado não permite, mas é bom e aconselhável discutir-se esta questão.Há aspectos científicos da profissão que a "Tarimba" não ensina. Discussões científicas sobre o Jornalismo em Congressos Internacionais por exemplo devem ser feitas por profissionais com formação superior porque a "Tarimba" é muito limitativa. Se alguém criou a Universidade de Comunicação Social ou Jornalismo foi por alguma razão. O desenvolvimento da própria tecnologia na comunicação social, designadamente à Televisão requer outros conhecimentos.Não vamos certamente chegar a nenhuma concliusão já, mas é bom irmos pensando nesta questão. Todas as profissões têm Ordens ou Associações e nós estamos reduzidos ao Sindicato. Algum órgão tem de regular o exercício do jornalismo em Angola. "Mentimos Mais Alto Quando Mentimos Para Nós Mesmos".

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L.C.