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sábado, agosto 01, 2009

JORNALISMO EM ANGOLA: COM OU SEM DIPLOMA?

Para mim é um debate oportuno e incentivo a sua extensão a todos os níveis da esfera pública, daí que tomo a liberdade (peço perdão aos colegas cujas ideias reproduzo sem anuência) de aqui expor o pouco do muito que ainda há por se dizer.

I
Cai exigência do diploma de jornalismo no Brasil
Por: Sérgio Matsuura e Izabela Vasconcelos
O diploma para o exercício da profissão de jornalista já não é mais uma obrigatoriedade no Brasil. Por oito votos a um, o Supremo Tribunal Federal considerou incompatível com a Constituição a exigência da graduação em jornalismo para o exercício da profissão, em votação do Recurso Extraordinário 511961, nesta quarta-feira (17/06). Os ministros Gilmar Mendes, Carmen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Eros Grau, Carlos Britto, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Celso de Mello votaram contra a exigência. Apenas Marco Aurélio Mello votou a favor da obrigatoriedade do diploma.No início da sessão plenária, as teses se dividiram entre a posição defendida pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo e o Ministério Público Federal (MPF), contra a obrigatoriedade do diploma, e a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), com o apoio da Advocacia Geral da União, sustentando a exigência.
Gilmar Mendes, relator do recurso, defendeu a autorregulação da imprensa. “São os próprios meios de comunicação que devem definir os seus controles”, afirmou.
Mesmo sem a exigência de diploma, os cursos de jornalismo devem continuar existindo, argumentou Mendes. “É inegável que a frequência a um curso superior pode dar uma formação sólida para o exercício cotidiano do jornalismo. Isso afasta a hipótese de que os cursos de jornalismo serão desnecessários”, avaliou.

II
Por: Luísa Rogério
Saudações a todos.
Devo confessar que essa notícia foi um balde de água fria para mim. O SJA subscreve a obrigatoriedade do diploma (alargado a outras áreas de formação) na nova proposta do Estatuto do Jornalista.
A nossa principal referência era o Brasil, uma vez que Portugal também derrogou essa exigência legal. Essa questão suscita alguma controvérsia no seio da própria classe, mas acho que sairemos todos a ganhar. Estaremos melhor preparados e os futuros jornalistas abraçarão a profissão com uma bagagem que muitos de nós, os produtos da tarimba, levaram longos anos a acumular.
A questionada postura ética e deontógica da media angolana durante o periodo eleitoral, mas não apenas nesse caso, constitui apenas um exemplo da necessidade de se elevar a fasquia em termos de formação.
Apesar de a lei não ter efeitos retroactivos, há ainda a vantagem de a obrigatoriedade do canudo incentivar muita gente a voltar para os bancos da escola, vencendo o receio de expor-se ao ridículo diante de colegas mais jovens, muitas vezes subordinados. Ressalvando as excepções que confirmam a regra, convém ao patronato ter a possibilidade de recrutar, ao menor custo, novos jornalistas. Já imaginaram que redacções teremos quando todos os jornalistas tiverem um canudo e puderem, a nível das redacções, sustentar e defender teses que contrariam práticas que atentam contra as chamadas regras de ouro? Evidentemente, não tenho a ilusão de que o diploma resolva todas as falhas nossas. Até porque, em países como o Brasil, discute-se diariamente a postura da media. E a discussão já é um começo. O meu receio, repito, é que se evoque o exemplo recente do Brasil para se chumbar o projecto de Estatuto.
Coloco a questão sem qualquer pretesão porque não ostento nenhum diploma universitário e digo isso sem problemas. Em síntese, além de fazer a apologia do diploma, socorro-me desta ladaínha para sensibilizar os colegas a participarem num encontro que o SJA promoverá brevemente para discutir-mos, uma vez mais, o ante-projecto de ESTATUTO DOS JORNALISTAS.

III
Por: Ismael Mateus
Quero felicitar o SJA por promover este debate. Oxalá eu possa participar.
É preciso ver a questao do Brasil com tranquilidade. Se agora foi alterado é porque antes havia essa condição. Como sabe quem acompanhou, a luta foi renhida e muitas vozes criticaram e criticam a alteraçao. O principal argumento é o mercado e o desemprego. Ao nivel da discussão etica estavamos exactamente como o Brasil estava há 30 anos quando isso foi imposto. Graças a isso a qualidade melhor, a respeitabilidade também e não há nenhuma crise de identidade da classe jornalista (o que é o nosso caso - vejam-se as discussoes sobre quem é jornalista ou os auto-proclamados jornalistas).

Em Portugal nãio há formalmente ujma obrigatoriedade de contrataçao de jornalistas com diploma. O que se passa é que é quase impensavel aparecer quem nao tenha. O proprio mercado assim o exige. Na hora de confrontar os cvs, a experiencia de trabalho ou o perfil tecnico do candidato, quem nao tem formaçao superior sai a perder.
Nos anos 90, houve uma ampla superaçao de profissionais com anos de trabalho no Cenjor e a maior parte deles foi elevada a equiparados a tecnicos superiores.
Portanto vamos ao debate, tranquilo, sereno e tendo em conta que o nosso caminho é aquele que decidirmos.
E parabéns novamente ao SJA

IV
Por: Luciano Canhanga
Prezados,
Felicito-os a todos por esta abordagem oportuna e anadiável para o ordenamento da nossa classe.
Óbvio que todos os argumentos de razão, quer dos prós, quer dos contra uma obrigatoriedade do género na nossa praça, já foram aqui esmiuçados.Quero apenas chamar-vos para que olhem para a nossa formação básica e média. Pensem na carga de conhecimentos que tínheis e na carga que têm agora aqueles que completam a oitava ou décima segunda classes e reflitamos todos se vale a pena fazer jornalismo com gente que nem o seu próprio nome sabe escrever em condições. Falo, não apenas como jornalista mas, como um pedagogo (sou tb. formado em Ciências da Educação pelo ISCED).

Portugal e Brasil antes de declararem a derrogação da obrigatoriedade do ensino superior (não se obriga que seja em ciências da comunicação) tiveram de arrumar a casa, profissiinalizando a classe. E nós? Se calhar valerá irmos discutindo o assunto em cada fórum possivel. Um braço a todos e boa reflexão.
V
Por:Elias André
Caros,
É bom e saudável falarmos de nós. Trata-se de uma questão que deve ser objecto de uma séria reflexão de todos os profissionais de comunicação social. O nosso passado recente não nos possibilitou termos Jornalistas formados. Talvez se tenha pensado que para se ser jornalista não é necessário ter formação superior. Aliás, diga-se que até aqui a profissão é exercida por pessoas sem essa formação superior, mas que têm garantido o jornalismo que o nosso mercado apresenta. Mas importa também destacar que esses "velhos" herdaram uma boa "escola" de jornalismo. Hoje, o cenário é totalmente diferente. Os colegas saidos do ensino médio, talvez por debilidades do próprio ensino sabemos que nível apresentam. A formação superior poderá não ser o factor determinante para o exercício de um óptimo jornalismo, mas, dá outra visão da profissão. Eu próprio sempre pensei que a minha formação média era suficiente, mas depois da Licenciatura conclui que é importante e melhor para o jornalista ter formação superior. Francamente, formação média para Jornalismo já não é nível aceitável hoje.

Não temos condições de exigir essa formação nesta fase porque a agressividade do mercado não permite, mas é bom e aconselhável discutir-se esta questão.Há aspectos científicos da profissão que a "Tarimba" não ensina. Discussões científicas sobre o Jornalismo em Congressos Internacionais por exemplo devem ser feitas por profissionais com formação superior porque a "Tarimba" é muito limitativa. Se alguém criou a Universidade de Comunicação Social ou Jornalismo foi por alguma razão. O desenvolvimento da própria tecnologia na comunicação social, designadamente à Televisão requer outros conhecimentos.Não vamos certamente chegar a nenhuma concliusão já, mas é bom irmos pensando nesta questão. Todas as profissões têm Ordens ou Associações e nós estamos reduzidos ao Sindicato. Algum órgão tem de regular o exercício do jornalismo em Angola. "Mentimos Mais Alto Quando Mentimos Para Nós Mesmos".

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L.C.

4 comentários:

Adebayo Vunge disse...

A notícia não será propriamente novidade e tem a ver essencialmente com as dinâmicas de sociedades como o Brasil e Portugal onde a afirmação desta classe profissional é sucular e estando indubitavelmente ligada a história recente - ora no combate ao fascismo ora na derrocada da ditadura militar de Direita.
Entretanto, para nós, esta questão do diploma como uma das concições sine qua non para acesso a profissão de jornalista há tempos se afigura urgente definir de uma vez por todas, assim como deve ficar clarificado o conceito do próprio jornalista e de outros profissionais que trabalham em jornalismo. Há entre nós uma grande confusão que urge debelar e esclarecer publicamente, com diplomas legais ou outras vias.
Quanto a mim, a discussão é ainda mais abrangente. Sou defensor do diploma, obviamente com a retroactividade da Lei, mas cono tenho dito, é ainda mais urgente debater que formação devem os jornalistas obter? Que papel atribuir a instituições como o IMEL e CEFOJOR? Que cargas devem ser administradas nos cursos de comunicação social, jornalismo, ciencias da comunicação e outros de cariz conexo? Um ensino mais teórico ou mais prático?
Vale, por isso, instigar o Sindicado e outros organismos a debater esta questão... com a celeridade que o assunto impõe... apoiados no que a realidade e a prática nos ensinam, sem dogmatismos, fundamentalismos e ou frivolidades.

Michell Niero disse...

Antes de tudo, parabéns por montar este blogue. Fiquei algum tempo aqui e li coisas fantásticas que me deram vontade escrever este comentário.

Sou brasileiro, jornalista e sou o responsável pelo O Patifúndio! (www.opatifundio.com), uma revista cultural publicada na internet voltada a trazer a cultura, o cotidiano, os personagens que formam a lusofonia.



Estamos prestes a fazer nosso primeiro de existência e temos a intenção de trazer para o nosso time de colaboradores blogueiros ilustres de cada país lusófono.
Por isso, faço este convite. Caso este projeto seja de seu interesse, gostaríamos de ter a honra de tê-lo como nosso colaborador, trazendo à medida do possível aos nossos leitores um pouco do que é ser angolano.



Meu MSN: michellniero@hotmail.com
e-mail: michellniero@opatifundio.com

Um abraço

Bento José dos Santos disse...

BENTO DOS SANTOS
Apesar do som dos trompetes não propagarem o eco pelos quatro cantos acho oportuno espelhar a minha opinião quanto ao tema em discussão, até porque faço parte da classe.
De forma sucinta acho que o exercício da classe jornalista sem a formação específica (a nível superior) é desvantajosa para o desenvolvimento e consequente valorização da classe. Sustento minha tese pela analogia de pressupostos do custo benefício, ora vejamos;
Os profissionais de comunicação social Angolana perdem excessivamente pela concorrência desleal da vulgarização da classe e pela invasão de quadros externos que se apresentam com este requisito em detrimento dos quadros tarimbados de Angola.
A titulo de exemplo interno, sublinho a reconversão de carreiras e os seus objectivos. Médicos, advogados, engenheiros, professores etc, são valorizados e prioridades em função da especificação da sua área de formação a quando do exercício da profissão; O que acontece na Comunicação Social Angolana consiste também no facto de que a exigência de formação superior e a especialização dos técnicos e jornalistas representa uma ameaça aos inúmeros oportunistas que exercem a profissão de forma anárquica.
Quanto ao custo a sociedade, as instituições pagam de forma elevada pela falta de anuência deste pressuposto.

Anónimo disse...

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