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terça-feira, setembro 09, 2008

SOFRER E BENEFICIAR NA NOSSA COMUNICAÇÃO SOCIAL

“O Presidente da República inaugura hoje o Hospital Central da Huila, no Lubango, que sofreu profundas obras de reabilitação”, sic. A.A, RNA, 29/08/08.

“No Moxico, município do Alto Zambeze, é hoje, inaugurada a ponte sobre o rio Zambeze destruída em 1984, depois de ter beneficiado de obras de reparação” sic. RNA.

Tendo em conta ao conteúdo, depreende-se que ambas infraestruturas foram reparadas após destruição pela guerra. Então, se com a guerra sofreram, a sua reparação torna-se um benefício… ou será o contrário?

Analisado o discurso jornalístico (Rádio e Jornal) notamos, com frequência, e até por parte de jornalistas já experimentados, algum descuidado na articulação dos dois termos (sofrer e beneficiar), o que se deverá a alguns vícios do passado. É que houve um tempo em que as matérias sobre infraestruturas só veiculavam “sofrimentos” ao invés do que se passa agora que estamos em tempos de reconstrução. Por outro lado, há também que ter em conta o fraco nível de formação académica e técnico-profissional por parte de alguns que se julgam “gurus” da nossa comunicação social.

Analisando a questão noutro prisma, notamos que do ponto de vista comunicacional a mensagem atinge o seu objectivo, na medida em que o entendimento é de que quer no primeiro caso, quer no segundo, houve reparação das infraestruturas, apesar de num caso a acção ter sido sofrimento e noutro beneficiação.

Do ponto de vista linguístico, aí a coisa é diferente. Beneficiar e sofrer têm significados diametralmente opostos como elucida qualquer dicionário da língua portuguesa, o nosso instrumento de trabalho.

Sofre quem é prejudicado... (sic. dic. prático ilustrado, 1990) e beneficia quem é favorecido... (ibdem).

Já que "os médicos enterram os seus erros, os advogados os aprisionam, mas os jornalistas os expõem ao público", vamos comunicar com lisura e velar também pela formação da nova geração, desprovida de um ensino escolar rigoroso e muito mais apegada aos media como instrumentos de formação e informação.


Luciano Canhanga

1 comentário:

Anónimo disse...

Extrema coerência, parabéns!


Talita - Brasil.