O texto de Mia Couto levou-me à reflexão sobre as minhas vivências culturais. Óbvio que a medida em que procuramos ser autênticos, originais e diferentes, caminhamos ao mesmo tempo para a igualdade com os outros. Pois não se concebe nos dias hodiernos sociedades intrínsecas ou fechadas.
Entendo que a autenticidade reside naquilo que mais nos diferencia dos outros, e é isso que procuramos preservar, ou pelo menos não perder à velocidade do vento.
A igualdade, por sua vez, reside no facto de evitarmos ser ilha num mundo que se abre cada vez mais aos outros, ou seja, mais global. Essa busca da actualização ou do ser-se cidadão global leva-nos a importar hábitos alheios.
E esses ganhos e perdas de valores são tão constantes e dinâmicos que à medida em que perdemos uns, porque procuramos sempre “polir” os nossos hábitos aproximando-os aos dos nossos semelhantes, ganhamos outros, num processo universal.
As crianças de hoje já não cantam os mesmos folguedos de há trinta anos. Os velhos daquele tempo levaram consigo as suas experiências que haviam trocado com outros da sua época, e numa altura em que “o mundo ainda era distante”.