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quinta-feira, agosto 23, 2007

CONFRONTANDO DADOS, EVITANDO RESPOSTAS, REPLICAS E RECTIFICAÇÕES



São frequentes na nossa comunicação social os desmentidos, correcções ou publicação de comunicados de Imprensa repondo a verdade de factos deformados ou pelos jornalistas.

Muitos levados pelo imediatismo, pela “doçura” da cacha, outros pelo desconhecimento dos princípios elementares da confrontação de dados ou ainda enganados pelas fontes o que cairia igualmente na não confrontação e cruzamento de dados. Sobre isso gostaria de lembrar que “a extorsão ou chantagem e a publicação de notícias falsas e ou deturpados têm pena e multa especificadas (art. 51º e 53º da lei 7/06 de 15 de Maio)".

A lei de imprensa confere aos cidadãos, às instituições e sobretudo aos políticos que se vejam lesados por informações postas a circular pelos órgãos da comunicação social o direito à resposta, à rectificação e à réplica (artigo 76º), evocando também no seu artigo 42º a responsabilização “pelos actos lesivos de interesse e valores protegidos por lei, cometidos através da imprensa, respondem os seus actores disciplinar, civil e criminalmente”.

Importa realçar que de um tempo a esta parte que estes direitos plasmados na nova lei de imprensa vêm sendo questionados, sobretudo no que tange ao seu usufruto que deve derivar da aplicação rigorosa da legislação.

É sabido que embora a lei de Imprensa tenha sido promulgada pelo Presidente da República e publicada em Diário da República, órgão oficial do Estado Angolano, há mais de um ano que o Governo não a regulamenta.

Se atendermos que a promulgação de uma nova lei remete à caducidade a anterior e se termos em conta que a não regulamentação de uma lei a torna quase nula já que se torna impossível a sua aplicação, ficam rodeados de razão aqueles que perguntam se qual é a lei que regula neste momento a actividade de imprensa ou jornalística.

Outra reflexão, já no que toca aos difusores de factos (quer sejam eles reais ou fabricados), tem a ver com o cruzamento de dados e a busca do contraditório.

_Por que não ter como maior preocupação a confrontação e cruzamento de dados, buscando ouvir todos os que directa ou indirectamente se relacionam com o facto em vez de partirmos para a divulgação de informações que nos podem levar a nos retratarmos ou emitir comunicados que desmintam os nossos actos enquanto jornalistas?

_ Será que o facto de estar salvaguardado o direito à resposta, à rectificação e à réplica nos devem inibir de fazer o elementar num jornalismo sério e responsável?

A bem do jornalismo e da sociedade, busquemos e procuremos ouvir todos os implicados e ou testemunhas evitando desta forma a emissão de respostas, réplicas, rectificações e ou mesmo enfrentar uma provável responsabilidade disciplinar, civil e criminal.

A foto foi tirada numa palestra sobre o tema "Direito de resposta e réplica", dirigida a representantes de partidos políticos e de igrejas e a jornalistas e assessores de imprensa, realizada em Saurimo sob a égide do Conselho Nacional da Com. Social, aos 23 de Agosto de 2007.


Luciano Canhanga

quarta-feira, agosto 08, 2007

TÍTULOS JORNALÍSTICOS: EXERCÍCIO DIFÍCIL




Preâmbulo:
Rebusco apontamentos dispersos do Curso de Comunicação/ISPRA (Dr. Kizunda) sobre títulos jornalísticos e lembro:
“O título é chave. Tem de chamar a atenção e de conseguir retê-la. Tem de saltar à vista e de mexer connosco”. O autor desconhecido, acrescenta que “se assim não for, de pouco serve”.
Para que um título mexa connosco terá de surpreender (ibdem) e acrescenta que “um bom título é um pregão que desperta em nós o desejo de saber mais sobre o assunto que apregoa.
Recorrendo ao livro de Estilo da Revista Abril encontramos a receita: Um título “vende uma notícia, uma reportagem e até uma edição” acrescentando que Impõe-se destacar trechos que veiculem informações ou opiniões relevantes...
TÍTULOS QUE DIZEM MAIS DO QUE AS NOTÍCIAS E TÍTULOS QUE NÃO DIZEM NADA: São uma constante no jornalismo, i.e, nos órgãos de imprensa e nos audiovisuais.

Para os escritores começar pelo título em vez do texto é um exercício pacífico. Esta operação é porém complicada para jornalistas que têm de titular depois de escrita a notícia, correndo os riscos de se atrasarem na sua divulgação, já que para além da preocupação com o conteúdo da matéria têm de encontrar a melhor forma de vendê-la.

Certo dia cheguei à Faculdade em que estudo Comunicação Social e deparei-me com um caso que tinha escapado à nossa mania de comentar "as fortes do dia".

Tinha acontecido de véspera o fim da primeira ronda do Girabola (campeonato angolano de futebol, I divisão) e o título do principal jornal desportivo era exactamente este:

-"Proletários vencem com ajuda do árbitro".

Bom pregão para vender o carapau. Porém, aberto o jornal, em nenhuma de suas páginas se fazia referência ao nome do suposto árbitro que terá ajudado a equipa do Primeiro de Maio de Benguela a vencer o jogo, nem as circunstancias que levaram "o artista" a escrever tão chamativo título. Pior ainda, porque nem a equipa adversária se tinha queixado da suposta má arbitragem.

O pregão pegou porque foi forte e o jornal estava em quase todas as carteiras dos apreciadores do desporto-rei (futebol) em Angola. Só que o peixe comprado nem era peixe. Um sardão, talvez, dada a desilusão criada naqueles que o adquiriram para conhecer o árbitro " batoteiro".

Quantas vezes nos deparamos com exemplos como este ou desiludimos os ouvintes, leitores e outros com títulos que dizem o que não se escreve nas notícia, ou que dizem mais do que estas?

Jorge Wemanas, antigo Oubundsman do Público, aconselha que "entre um título descritivo e sóbrio, mas vigoroso, e outro que se reduz a um mero jogo de palavras, o primeiro será a opção correcta".

Os titulos não são nem devem ser escolhidos ao acaso, nem são reflexos da excentricidade do autor. Estão sempre ligados ou ao tema central ou a um detalhe-chave no desenvolvimento do assunto.

Os autores asseguram-se, também, de que os títulos não sejam enfadonhos e que a sua sonoridade contribua para interessar o leitor no conjunto a que dão abertura.

E mais, pretendem despertar a atenção do leitor para o conteúdo do texto e, muitas vezes, apresentam-se como síntese desse conteúdo. Nesse caso, podem ter também uma função prática, orientando resumos, roteiros, catálogos. Os títulos jornalísticos cumprem uma função de destaque na veiculação da notícia, salientando seus aspectos significativos.

Outras vezes os títulos apontam para uma ambiguidade, um suspense, podendo mesmo trazer uma ideia contrária ao que o texto vai desenvolver, com o objectivo de quebrar expectativas.

-Quantas vezes se escreve uma notícia e não se sabe qual o título a atribuir?
Titular é realmente coisa difícil e só os verdadeiros "artistas" o conseguem num abrir e fechar de olhos porque há titulos que dizem mais do que o texto e títulos que não dizem absolutamente nada.

Vamos pois titular com sobriedade, procurando não esconder conteúdos nem dizer mais do que aquilo vem expresso no nosso texto jornalístico!

Luciano Canhanga
Lic. Com. Social, 2007